A árvore e a floresta

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Há demasiadas pessoas a verem a árvore e a não verem a floresta. Porquê? Talvez porque se encantem com a árvore vistosa e se desinteressem das demais, porque não tenham consciência de que há mais árvores para além da que vêem, porque se posicionem demasiado perto da árvore ou porque permitam que a ponham à frente do seu nariz, para esconder a floresta. O problema não é, evidentemente, da árvore bonita, mas sim de quem a usa para manipular e de quem se deixa manipular, seja por falta de sentido crítico, de formação ética ou de capacidade de julgamento. Moral da história: represente a floresta uma ameaça ou uma oportunidade, não vê-la significa perder – ou deixar de ganhar -, tenham ou não as pessoas consciência disso.
Deixando a árvore (e os rolamentos, se quiserem) ao cuidado de outros, vamos lá então tratar da floresta. E a floresta é aquela que três importantes documentos publicados há poucas semanas nos mostram, designadamente o Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses, o Anuário Estatístico da Região Centro e o Índice de Transparência Municipal. Relativamente ao primeiro, já aqui dei conta da informação respeitante ao nosso concelho: Caldas da Rainha é dos municípios que, no último ano, mais pioraram o índice de dívida total, mais aumentaram o passivo exigível e piores resultados financeiros registaram nos serviços municipalizados. Por seu lado, o Anuário Estatístico diz-nos que Caldas da Rainha, apesar de ter melhorado os indicadores turísticos (capacidade de alojamento e dormidas) e de saúde (número de enfermeiros e médicos), piorou substancialmente nos indicadores do empreendedorismo, ou seja, de criação de riqueza e emprego – entre 2011 e 2013 (últimos dados disponíveis), o nº de empresas caiu 3,5% e o nº de empregados 11%, mais do que a média da região.
Também em matéria de democracia local, nomeadamente de transparência municipal, Caldas da Rainha deu no último ano um enorme trambolhão, tendo passado da posição 117ª para a 242ª, em 308 municípios. Ou seja, se já estava mal, ainda conseguiu piorar, e de que maneira. As áreas mais preocupantes são as da “relação com a sociedade”, “transparência económico-financeira” e “transparência na área do urbanismo”, tendo apenas melhorado a informação sobre a organização, composição e funcionamento do município. Como lembra a TIAC, “uma sociedade só é verdadeiramente livre e democrática quando as instituições em que assenta tornam públicos todos os actos de governo; quando providenciam informação relevante de forma completa, fidedigna, atempada, facilmente compreensível e de fácil acesso; e quando têm a capacidade de desvendar interesses privados que possam colidir com o interesse colectivo, permitindo deste modo a responsabilização de todos os actores perante a lei e o escrutínio dos cidadãos, quer pelas decisões e acções tomadas ou omitidas, quer pelas razões que as informaram”.
Vivemos num mundo complexo e difícil, em que as variáveis do progresso e do desenvolvimento se alteraram dramaticamente. É essencial inovar, e cada vez mais depressa. Einstein terá dito que “insanidade é fazer as coisas sempre da mesma maneira e esperar resultados diferentes”. Os territórios competem hoje pela fixação e atracção de pessoas, consumo e investimento, em ambientes abertos e de extrema mobilidade e volatilidade. Impõe-se agir sobre o território, o ambiente e o património; sobre a cidadania democrática e os serviços comunitários; sobre o desenvolvimento económico e social; e sobre a estratégia de marketing e comunicação. Aos autarcas que governam os territórios, exige-se crescente competência e capacidade de liderança; dos cidadãos, requer-se maior participação, exigência e escrutínio. Não há almoços grátis nem garantidos, é preciso fazer pela vida.