Natural de Portalegre, onde nasceu há cem anos agora cumpridos, Mariana da Conceição Boleta Ramalho Carvalho viu-se agora rodeada do carinho, quer de familiares quer de companheiros na Casa onde vive há anos.
Dotada de uma invejável vitalidade e autonomia, Mariana Carvalho ultrapassou a “proeza” da sua mãe, que faleceu, tranquilamente, a escassas semanas de cumprir o centenário.
Viúva desde 2000, “transferiu-se” voluntariamente do Lar da Santa Casa da Misericórdia da terra natal para o Lar Fonte Santa, na Serra do Bouro, aqui acompanhando desveladamente a sobrinha Adrilete, gravemente doente, nos seus últimos meses de vida.
Foi casada com José Lourenço Carvalho, competente e muito estimado professor de Trabalhos Oficinais, para além de mestre na arte do restauro e do entalhe. Músico amador e prestimoso cidadão, homenageou-o a cidade de Portalegre com a atribuição do seu nome a uma artéria urbana, em 1996. Não tiveram filhos pelo que a sua dedicação se estendeu aos sobrinhos, em particular a Adrilete, de quem eram padrinhos de casamento.
Dotada de personalidade muito vincada e servida por uma memória pronta e segura, Mariana Carvalho dedica-se quando inspirada à criação poética, em versos simples que declama com sentimento e convicção.
Infatigável conversadora, relata com justeza e colorido episódios de vida em família e sobretudo na comunidade, numa evocação de irrepetíveis tempos idos, em Portalegre.
Pela simpatia que espalha como pelo respeito que merece, em plena sintonia com a qualidade da sua vida, quiseram os sobrinhos e os responsáveis pelo Lar Fonte Santa que fosse marcante o simbolismo da data deste centenário.
E foi invulgar o clima vivido numa grande sala do Lar, pequena para conter as diversas “famílias” da Tia Mariana. A participação de Mila Ferreira, cuja mãe é sua companheira na instituição, assim como a reportagem da equipa da CMTV conferiram ainda mais significado à cerimónia que comoveu a aniversariante. Lembrando momentos da sua longa vida, declamou versos compostos a propósito e, instada, chegou mesmo a cantar.
Uma saudável emoção rodeou aqueles momentos, particularmente sentidos pela centenária, feliz e confortada pelo carinho envolvente.
Pelas imagens de uma apresentação projectada na ocasião foi possível à Tia Mariana rever momentos inesquecíveis da sua longa vida. Até quando esta se prolongará, com a qualidade que pode gozar neste momento, é uma incógnita a que só o futuro de Mariana Carvalho poderá responder, na sua lição quotidiana de viver…

António Martinó de Azevedo Coutinho