UM LIVRO POR SEMANA / 507 /

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JCARMOFRANCO mais recente livro de Ernesto Rodrigues (n. 1956) é dedicado à memória de Ágata (1972-2010) que para muitos refugiados do Afeganistão era chamada «Santa» Ágata «e cujo sofrimento não cabe nesta ficção» – segundo o autor. Ora a bondade perfeita para Ernesto Rodrigues é a mesma de Séneca na carta a Lucílio: «Sabes o que eu chamo ser bom: ser de uma bondade perfeita, absoluta, tal que nenhuma violência ou imposição nos possa foçar a ser maus.» Entre o Bem e o Mal, a narrativa regista «A máquina do mal estava bem oleada» para afirmar «O mal está nos homens.

O ponto de partida é o Mal no Mundo tal como aparece no livro do Génesis: «O Senhor reconheceu que a maldade dos homens era grande na Terra, que todos os seus pensamentos e desejos tendiam sempre e unicamente para o mal. O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem sobre a Terra e o seu coração sofreu amargamente». Na página 59 surge uma estratégia de vida («Aprendi em criança a não esbanjar. Não havia muito: para quê deitar fora esse pouco?») e duas perguntas na página 75: «Tem o deserto arrabaldes? Bom seria. E o sofrimento? Também não, que é um deserto maior.»
Uma das personagens compara vida e literatura: «simpáticas edições de clássicos cabem num bolso, se a literatura não o distraísse das coisas mais importantes. Quanto á literatura pesada, deixá-la ficar. Dá dores de cabeça e cansa os músculos. Ser mau dá menos.» Outra personagem repete a comparação falando de jornais noutros termos: «Não folheava que a mentira macula os dedos». Logo a seguir outra ideia: «O jornalista inventa quanto pode. Distraído, não explica. Ou deixa-se levar com duas cantigas pelo grupo económico.» Tudo isto para concluir: «A história é longa- – Breve, a vida.»
Portugal deixou de ser reino em 1910 mas o livro indica na página 114 «quando se finou o mais velho carrasco do reino» o que não significa que o reino aqui referido seja o português. Um país concreto surge na página 180: «Menigno prestara bons serviços aos aliados no Afeganistão antes de entrar em roda livre, com prejuízo do Ocidente.»
Há nesta narrativa uma dupla inscrição: vida e ficção. Metáfora de um tempo cujas coordenadas não são as do nosso tempo pois tudo nesta narrativa oscila entre o real e o imaginado. Dito de outar maneira: esta é uma história com moral dentro do seu lastro.
(Editora: Gradiva, Editor. Guilherme Valente, Capa: Armando Lopes)

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