O casal Jorge e Sandra Coito, acompanhados pelo pai dela, Aduíno. Em cima, o medalhão da família feito pelo bisavô de Sandra, que foi discípulo de Bordalo Pinheiro

Há um café nas Caldas de portas abertas desde 1945. É já a terceira geração que lidera os destinos do Café Bordalo, no Bairro da Ponte, um local que teve das primeiras televisões da cidade, algo que atraía a clientela. Aberto pelo filho de um discípulo de Bordalo Pinheiro – que foi barbeiro e jogador do Caldas – o café foi gerido pelo seu filho Aduíno Coito que entretanto passou a gestão a uma das suas filhas. Sandra Coito e o marido são agora os responsáveis por este estabelecimento comercial que está a assinalar o 75º aniversário

O Café Bordalo, situado no Largo Frederico Pinto Basto, pertence à família Coito desde que foi aberto pelo pai de Aduíno, Diamantino Coito. “O café nasceu de uma casa antiga onde nasci”, contou o responsável, explicando que na casa de família, nos anos 1940, já a divisão virada para a rua tinha sido transformada em barbearia.
Diamantino Coito, que durante anos foi também jogador do Caldas, entendia que a barbearia era pouco rentável e, por isso, decidiu abrir uma taberna, ao lado, noutras das divisões. E ainda chegou a instalar uma mesa de jogo num café onde Diamantino ainda teve, durante vários anos, um papagaio que ajudava a designar o café.
“A minha mãe sempre trabalhou no hospital termal, era funcionária do balneário”, contou Aduíno Coito que, aos 18 anos, antes de ter ido para Angola no final da década de 1950, ali trabalhou na secretaria. Entre as suas funções estava a de dar entrada e saída dos utentes quando estes tinham alta.
“Havia três enfermarias e os aquistas traziam tanto movimento às Caldas. Era brutal!”, diz Aduíno Coito, recordando que todos lucravam, desde os empresários ligados ao alojamento e ao comércio em geral.
“Quando fui para Angola o espaço já era dedicado apenas ao café…e estava quase sempre cheio!”, relembra o comerciante, explicando ainda que foi um dos primeiros estabelecimentos aqui nesta zona a ter televisão.
Lembra-se que o equipamento tinha um móvel e que o seu pai chegou a ter duas televisões: uma em cima para o primeiro canal e um segundo para a RTP2. Aduíno Coito sempre ajudou no negócio da família, sobretudo ao fins de semana.
Ao longo do percurso daquele espaço, o responsável ainda adquiriu outro equipamento que encantava os seus clientes: uma máquina de discos, onde se colocavam moedas para ouvir as diferentes canções.
Antes de vir gerir o negócio da família, trabalhou durante vários anos na Unical mas, quando a empresa faliu, acabou por corresponder ao desafio do seu pai que há anos queria “passar” o seu negócio, o café que tinha aberto em 1945.
O pai de Diamantino, José Coito, foi discípulo de Rafael Bordalo Pinheiro e ainda hoje há um grande medalhão cerâmica com o perfil de Bordalo e que encima as paredes daquele estabelecimento comercial há vários anos.
Aduíno foi desenvolvendo o negócio da família que se dedicou sempre na área da cafetaria. Este estabelecimento comercial abre às 7h00 da manhã e, sem as regras agora estabelecidas pela pandemia, ficava aberto até pelo menos às 22h00. Agora, dadas as actuais circunstâncias, fecha por volta das 19h00.
A maioria dos clientes do bairro são tratadas pelo nome se bem que já há tem “muitos” que não conhecemos… “Aquelas senhoras ali são inglesas… Vieram para cá morar e vêm cá praticamente todos os dias”, explica.
Já foi sob a sua gestão que foi criada a esplanada no espaço exterior do café, em 2005, quando se fez a obra que tornou o largo pedonal e que agora conta com uma dinâmica própria. Agora só tem 16 cadeiras, quando sem covid-19 normalmente possui o dobro dos lugares sentados. E é raro estar vazia, assim como a do vizinho, do Café Creme. Aduíno Coito diz que há óptimas relações de vizinhança e que as esplanadas vieram proporcionar uma nova vida aquela zona da cidade.
“Só temos um problema: a falta de estacionamento”, queixou-se Aduíno Coito, afirmando que é algo que acaba por fazer bastante falta naquela zona do Bairro da Ponte.

Faltam turistas e emigrantes

“Actualmente estamos também a sentir falta não só dos turistas como dos emigrantes que há muitos aqui no Bairro da Ponte e dos Arneiros”, disse o comerciante caldense, que ainda vai, várias vezes, ajudar a filha e o genro.
“Creio que as pessoas também gostam de cá vir, pois atendemos sempre toda a gente e com uma cara alegre”, salientando que é uma característica da casa “que não custa nada” e que acaba por conquistar a clientela. “O café está bem entregue”, afirma Aduíno Coito, que diz com orgulho que os seus netos também já auxiliam a família no negócio. “Enquanto puder vou ajudar até porque não tenho feitio para ficar em casa”, rematou o responsável.