Desde maquilhadoras a músicos, serviços de catering e organizadores de eventos, são muitos os profissionais que trabalham directamente com a chamada “indústria” dos casamentos. Com grande parte do sector parado e a maioria das cerimónias adiadas para o próximo ano, os prejuízos são avultados para quem trabalha no dia de festa dos outros

Pedro Morais é músico e hoje, 24 de Julho, actua num casamento, pela primeira vez, desde que começou a pandemia. A cerimónia decorre perto de Vila Real e o saxofonista irá tocar à porta da Igreja à saída do casamento, para os noivos e os cerca de 100 convidados. Trata-se de uma adaptação a uma nova realidade.
Músico saxofonista há 30 anos, Pedro Morais, natural de Rio Maior e residente em Leiria, trabalha no mercado de casamentos com regularidade há uma década. Tem uma média de 45 casamentos por ano, a que junta a actuação noutros eventos empresariais, bares e também na Banda Xeques Orquestra, num total de 150 a 200 actuações por ano. Em 2020 participou em três casamentos antes da pandemia começar, o último dos quais a 14 de Março, onde já só estiveram cerca de metade dos convidados. A sua primeira actuação neste período pós confinamento foi na celebração de um aniversário, em Leiria, com mais de 60 convidados, mas sem o tradicional baile. Havia medidas de segurança, que implicavam que os convidados se servissem sempre na mesma mesa e estas estavam separadas entre elas, o staff usava máscaras e havia desinfectante para as mãos.
Para além do casamento desta sexta-feira, Pedro Morais tem ainda confirmados mais um Agosto, dois em Setembro e outros dois em Outubro. Todos os outros têm sido adiados para o próximo ano e, alguns, já para 2022. O problema, de acordo com o músico, é que a sua agenda é marcada com muita antecedência e alguns dos 35 adiamentos deste ano coincidem com datas que já estão ocupadas. “Isto está a acontecer porque o ano de 2021 já estava muito preenchido, precisamente porque a maioria dos noivos querem casar ao sábado e entre Maio e Setembro”, conta o saxofonista, destacando que a situação está a evoluir e que já participa em algumas cerimónias durante a semana e ao domingo.
Pedro Morais trabalha para o mercado nacional, do Algarve a Braga, mas também actua em casamentos de estrangeiros que escolhem o país para “dar o nó”. “Normalmente são casamentos pequenos e gostam muito do ar livre, decorrendo alguns deles em quintas na zona de Torres Vedras e também no Hotel Marriott”, conta o músico, acrescentando que, na semana passada, contratualizou a participação num casamento em inícios de Outubro, que irá decorrer no Parque D. Carlos I e num ambiente de arraial campestre.

70 CASAMENTOS ADIADOS

A pandemia também veio trocar as voltas a Sérgio Coito, proprietário do restaurante “A Lareira”, que desde Março, já adiou 70 casamentos para o próximo ano. “Estou a facturar 4,5 a 5% do que estaria a facturar nesta altura”, disse o empresário à Gazeta das Caldas.
A empresa adaptou-se a esta nova realidade reduzindo a estrutura e aguardando que as coisas melhorem para poderem voltar a fazer eventos. Apesar de poderem assegurar o serviço de catering, acabam por não o fazer pois as quintas estão fechadas ou muito condicionadas. O restaurante possui quatro salas, que podem receber casamentos com metade da lotação, mas “as pessoas retraem-se e não marcam a data”, explica o responsável, dando nota do impacto económico que tem no sector.

AGENDA PREENCHIDA EM 2021

Joana Casimiro é maquilhadora profissional há cerca de dois anos, dedicando grande parte do seu trabalho a casamentos. “Todas as noivas que tinha previstas maquilhar este ano desmarcaram a data e estão a adiar para o próximo ano”, conta a jovem, que abriu recentemente o atelier no Caldas Empreende. Há pouco tempo Joana Casimiro maquilhou uma pessoa para um casamento, o único trabalho que fez desde Março. “Na semana em que foi declarado Estado de Emergência tive logo três cancelamentos”, recorda, acrescentando que os noivos com datas para o Verão foram esperando para ver a evolução da situação, mas entretanto, e por receio, têm vindo a adiar.
Joana Casimiro é engenheira alimentar, o que lhe permite ultrapassar esta situação com mais tranquilidade. Aproveitou também este período sem eventos para dar workshops de maquilhagem, deixando-a depois mais disponível para quando houver mais casamentos. Optimista por natureza, a jovem acredita que poderá haver bastantes casamentos no Inverno.
“As noivas ficaram muito tristes…”, conta, acrescentando que se trata de uma data muito especial e que elas querem que seja perfeita. Normalmente contactam a maquilhadora com um ano, ou seis meses de antecedência. Já tem marcações para 2021 porque as noivas que adiaram marcaram logo nova data para o próximo ano e, nas próximas semanas, irá abrir a agenda para as convidadas, que “sabem será complicado, pois haverá o dobro dos eventos”.