Mário Rui Araújo: “é fantástica a cultura de saúde oral dos caldenses”

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Gazeta das Caldas - Mário Rui Araújo, da clínica caldense Calipso
Os prémios valem o que valem, mas é sempre agradável perceber que alguém olhou para o que fazemos e pensou ‘Epá, este tipo até faz umas coisas giras!’ | D.R.

Mário Rui Araújo, da clínica caldense Calipso – Projecto de Saúde Oral Lda., foi distinguido com o prémio Higienista Oral 2018 no XVIII Congresso da Associação Portuguesa de Higienistas Orais. Trata-se de um prémio que pretende galardoar os profissionais da área da saúde oral que se destacaram ao longo do ano e de uma carreira.
Em entrevista ao nosso jornal, o também professor universitário e investigador, diz que a relação dos caldenses com os profissionais da saúde oral está ao nível dos países nórdicos e do Canadá e dos Estados Unidos.

GAZETA DAS CALDAS: O  que significa este prémio?
MÁRIO RUI: Os prémios valem o que valem, mas é sempre agradável perceber que alguém olhou para o que fazemos e pensou ‘Epá, este tipo até faz umas coisas giras!’. Na realidade fica-se contente por perceber que o tempo que roubamos à família é assim de alguma forma reconhecido.

GC: Nestes últimos anos que projectos lhe foram mais queridos?
MR: A nossa clínica das Caldas tem sido um imenso projeto e é bonito ver que se podem fazer projetos de saúde virados para as pessoas e sustentáveis. É mesmo um orgulho grande. Depois a possibilidade que tenho de leccionar no ensino superior (em Portugal e no estrangeiro) é um privilégio enorme. Acho que ser professor é a melhor profissão do mundo e devia ser mais acarinhada por todos, até pelos próprios professores. Adoro o que estamos a construir no Politécnico de Portalegre. Por outro lado a possibilidade de poder leccionar em Copenhaga é de sonho, é o meu momento de jogar na Champions League da escolas. É um projecto com visiting scholar, mas já chega para saborear o que é trabalhar num país onde o dinheiro é bem gerido e como isso marca a diferença. Tenho estado ligado a diversas formações na área da comunicação em saúde, a maioria no estrangeiro. Ajudar os profissionais de saúde a comunicarem melhor com os pacientes é algo que eu acho muito importante e fundamental para o bem estar das pessoas. Depois, uma das coisas que me dá imenso gozo são os workshops sobre saúde e educação onde usamos o Lego como ferramenta educativa. O uso da metáfora, da hermenêutica, da narrativa, são tudo peças para que a educação possa funcionar bem. Tem sido um grande desafio.

OS HIGIENISTAS NUNCA SÃO CONCORRENTES DOS DENTISTAS

GC: Como é ser higienista oral em Portugal? Aqui ainda se reconhece mais os médicos dentistas…
MR: É ser diferente. E isso tem piada. Podíamos olhar para a saúde sempre da mesma maneira, podia ter ido para a faculdade e fazer a licenciatura em Medicina Dentária, mas houve uma altura que percebi que o que eu gostava era mesmo dos pacientes e da forma como eles merecem ser aconselhados e ajudados a controlar os seus tratamentos, a sua saúde, enfim, uma coisa mais psicológica e educativa. Assim, em vez de me transformar em dentista, fiz formação em Psicologia da Saúde (mestrado e estou a acabar o doutoramento) e acho que a equipa de saúde oral ganha imenso com isso. Os higienistas nunca são concorrentes dos dentistas, antes pelo contrário, são sim potenciadores de trabalho de equipa em prol da saúde  oral. E estar nessa equipa com competências diferentes dá-me imenso prazer e temos tido resultados fantásticos a ajudar as pessoas a não ter problemas orais e a manter os seus tratamentos.

GC: E nas Caldas como anda a saúde oral? 
MR: A que eu conheço anda bem e recomenda-se. É fantástica a cultura de saúde oral dos caldenses. Somos, provavelmente a seguir a Lisboa, a cidade que mais reconhece os higienistas orais no país. As Caldas está ao nível dos nórdicos, dos canadianos ou dos americanos no que diz respeito à sua relação com estas novas profissões da saúde oral. Médicos dentistas, técnicos laboratoriais de prótese dentária e higienistas orais…  Esta sinergia permite uma melhor colaboração entre todos, um melhor resultado final com ganhos para os pacientes e para os profissionais.

GC: Que projectos tem para o futuro?
MR: Essencialmente ver os meus filhos felizes, esse é o grande projecto de vida. Nada faz sentido sem a família e sem esta sensação de que eles vão ter um planeta onde possam viver. Por isso, qualquer projecto profissional, tem de ter como base um lugar sustentável, um lugar onde as pessoas respeitem as árvores e os cursos de água que são vitais para a sua sobrevivência. Onde as pessoas se respeitem e saibam viver em simbiose com o planeta. Infelizmente andamos muito longe disso e vivemos numa sociedade muito egoísta, onde se manda cortar uma árvore porque tira a vista, ou se usam pesticidas cancerígenos para matar ervas daninhas, só para poupar uns trocos, sabendo nós como se gasta mal o dinheiro em Portugal. Faz sentido lutar por projectos que nos façam ajudar a sorrir e a ter uma excelente saúde oral, mas temos de ter um planeta para viver, senão nada faz sentido.