Estudam e trabalham em áreas ocupadas essencialmente por homens, gostam do que fazem e mostram que podem ser bem sucedidas
Catarina Rocha chega ao centro de formação, veste o equipamento, calça as botas de trabalho e está preparada para mais uma aula nas oficinas, as suas preferidas. Está no segundo, e último ano, do curso de Eletromecânica de Manutenção Industrial, no Cenfim, onde entrou com 16 anos e depois de ter terminado o 7º ano no ensino regular. Na turma, agora de 18, mas que já foi de 24, é uma das duas raparigas, mas a adaptação tem sido boa, garante. E a receita é fácil: “preciso saber controlá-los, falar com educação e conseguimos viver tranquilamente”.
Chegou ao curso sem qualquer contacto prévio com a área, apenas porque este lhe chamou a atenção e porque percebeu que existiam poucas mulheres a trabalhar numa área em que há bastante procura de trabalho, a da manutenção das máquinas industriais. A soldadura e a serralharia foram as partes que lhe chamaram mais a atenção, e que continua a preferir, mas está também “à vontade” com a eletricidade. “Não tinha noção de que gostava tanto destas áreas”, conta a jovem que, entretanto vai para estágio, terminando assim a formação. Quer depois prosseguir os estudos para o nível 4 (de equivalência ao 12º ano) de Técnico de Manutenção Industrial e, no futuro, vê-se a trabalhar na área onde as mulheres têm conseguido ganhar o seu espaço. Até porque, explica, “está provado cientificamente que as mulheres têm mais destreza e coordenação, o que lhes permite fazer um trabalho mais minucioso na soldadura, por exemplo”. Contente com as escolhas que fez, Catarina Rocha diz que ninguém deve ter medo de, por vezes, sair da sua área de conforto e procurar uma alternativa. Dirigindo-se às raparigas, aconselha-as a “nunca deixarem de abraçar a profissão de que gostam porque, à partida, tem menos raparigas, porque não há áreas específicas para cada um dos sexos”. Aos rapazes deixa um aviso: “Não pensem que as mulheres são o sexo frágil”, dando como exemplo a sua própria realidade, em que os colegas são muito protetores. “Quando é preciso peço ajuda, nas outras situações eu posso e quero fazer sozinha”, conta, acrescentando que os colegas foram aprendendo a respeitar o seu espaço e trabalham em equipa.
Técnica em eletrónica numa equipa de homens
Natural do Brasil, Michelle Lima está nas Caldas há seis anos.
Na terra natal tirou o curso de técnico de informática no secundário e depois frequentou o curso de serviço social na Universidade. Quando chegou Portugal começou “do zero”.
Começou por fazer limpeza numa grande superfície comercial e a primeira formação que fez foi na área da segurança privada, mas não se identificou com o trabalho e passou a fazer entregas, como estafeta. Durante dois anos fez entregas e era uma das poucas mulheres a fazê-lo, até que viu a formação de Técnico Especialista em Tecnologia Mecatrónica, no Cenfim, e logo que abriu um curso foi frequentá-lo. Mas não foi fácil. O curso era em regime diurno e Michelle tinha de o conciliar com o emprego que tinha. “Durante um ano, não almocei, a minha hora de almoço era preenchida a fazer as entregas”. Levava a mochila quadrada para o Cenfim e logo que terminava as aulas da manhã pegava na mota e ía fazer as entregas, a tempo de voltar para as aulas da tarde, recorda.
Após o estágio numa empresa de tecnologia, nas Caldas, foi convidada a ficar, assumindo agora as funções de técnica em eletrónica, numa equipa de homens. “Gosto de trabalhar com homens, é um ambiente leve, lidam bem com as dificuldades”, conta, acrescentando que, embora tenham a pressão da produção, conseguem ter harmonia no trabalho, não existe conflito. Michelle Lima reconhece que sempre encontrou “muita disponibilidade” e uma “atenção até diferenciada” por ser mulher, mas salienta que o seu trabalho também se destaca. “Eles dizem mesmo que, ao nível da produção, eu produzo mais do que eles, porque tenho mais habilidade com as mãos”, explica a profissional que gosta muito do que faz.
Michelle considera que as áreas técnicas podem ser uma mais valia para as mulheres, pois são bem remuneradas e há falta de profissionais. “Eu sabia que tinha de fazer um curso pois seria a minha porta de entrada para um trabalho especializado”, conta Michelle Lima, atualmente com 44 anos, que acalenta o sonho de ir para Espanha e expandir-se profissionalmente na área da tecnologia.
