«Escritos sobre Freud» de Fernando Pessoa / 657 – 17 Jan 2020

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Gazeta das Caldas
| D.R
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Organizado por Cláudia Souza e Nuno Ribeiro, autores da edição e do estudo introdutório do recente «A família Crosse» (Apenas Livros), este livro de 76 páginas integra múltiplos registos da leitura que Fernando Pessoa fez sobre Freud. Damos relevo apenas a alguns aspectos pois o espaço não permite mais. Primeiro uma observação sobre a crítica literária: «Grande parte da crítica moderna, desde que se intoxicou com freudismos (com ou sem Freud) é uma maneira de se tornarem inutilmente complicadas coisas por vezes simples, outras vezes já de si complicadas e que exigiam antes simplificação que outra complicação.» Depois o excerto dum poema de Álvaro de Campos datado de 17-8-1930: «A liberdade, sim, a liberdade! / A verdadeira liberdade! / Pensar sem desejos nem convicções. / Ser dono de si mesmo sem influência de romances! /Existir sem Freud nem aeroplanos, /Sem cabarets, nem na alma, nem velocidades, nem no cansaço!» Em terceiro lugar uma citação da carta a João Gaspar Simões de 11-12-1931: «Ora a meu ver (é sempre «a meu ver») o Freudismo é um sistema imperfeito, estreito e utilíssimo. É imperfeito se julgamos que nos vai dar a chave, que nenhum sistema nos pode dar, da complexidade indefinida da alma humana. É estreito se julgamos, por ele, que tudo se reduz à sexualidade pois nada se reduz a uma coisa só nem sequer na vida intra-atómica. É utilíssimo porque chamou a atenção dos psicólogos para três elementos importantíssimos na vida da alma e, portanto, na interpretação dela: o subconsciente, a sexualidade e a conversão de certos elementos psíquicos em outros por estorvo ou desvio dos originais» No fim uma citação na qual a ironia de Fernando Pessoa vem ao de cima: «A humanidade divide-se em três classes sociais verdadeiras: os criadores de arte, os apreciadores de arte e a plebe. Julgar que ter automóvel é ser feliz é o sinal distintivo do plebeu.»
(Editora: Apenas Livros, Capa: Imagem do Espólio de Fernando Pessoa na BNP)

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