O debate sobre a ampliação versus construção de um novo hospital – Por: António Curado

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Um debate que prometia
A ideia do Conselho da Cidade de pôr os cidadãos a discutir a construção eventual de um novo Hospital na região em contraponto com o alargamento do actual Hospital das Caldas da Rainha, foi, em si mesma, uma ideia adequada, mobilizadora, meritória e, sob determinado ponto de vista, oportuna.
Oportuna porque, durante os anos de 2009 e 2010, esse tem sido, em termos regionais, um tema central, e porque foram, nessa área, tomadas algumas decisões recentemente.
O facto de se poder considerar menos oportuna resulta apenas de estarmos a viver tempos em que o tema realmente central é a linha de duras restrições orçamentais do Estado, e essa linha, limitará, certamente, pelo menos no futuro imediato, quaisquer acções conducentes a uma ou outra solução.
Ainda assim o debate criou expectativas e teve uma significativa adesão, com muitas pessoas presentes no CCC na tarde do passado sábado, 13 de Novembro.

Expectativas frustradas

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Essas expectativas saíram, no entanto, pelo menos parcialmente, frustradas. E isso aconteceu porque não se foi ao cerne da questão, as vantagens e desvantagens de uma e outra solução não foram exaustivamente equacionadas e quem quisesse encontrar respostas para fundamentar uma melhor opinião não as encontrou. Tem, nesse aspecto, razão o meu caro amigo Dr. Luís Ribeiro. Se os políticos ou os autarcas tinham também a expectativa de encontrar fundamentação técnica para pugnar por uma das soluções, ela não foi satisfeita.
O modelo do debate não ajudou.
Alguém do Conselho da Cidade teve a amabilidade de se justificar, informando-me no final que vários factores tinham condicionado o modelo adoptado.
Antes do debate e das intervenções de fundo, houve lugar a uma conferência proferida pelo Sr. Arq. Jorge Mangorrinha, em tom magistral, veiculando algumas ideias merecedoras de discussão. As mesmas, no entanto, ficaram desligadas da segunda fase da sessão e não constituíram ponto de debate.
As intervenções de fundo foram prolongadas e, em minha opinião, a tese da construção de um novo hospital teve menos “tempo de antena”.
Coloco o Sr. Dr. Mário Gonçalves na classe dos grandes senhores, sendo alguém por quem tenho uma enorme consideração e estima pessoal. Compreendo bem que defenda a solução da ampliação do actual Hospital, um espaço onde deixou muito dele, numa carreira de dedicação plena. Compreendo que continue a defender soluções pelas quais pugnou e lutou ao longo dos anos.
Tenho o Dr. José Marques na conta de um lutador, um defensor de causas, um visionário, um homem à frente do seu tempo. Foi o primeiro a falar (no já longínquo ano de 2001) de um novo Hospital para a região Oeste Norte e essa causa é, seguramente, uma das suas paixões. Imbuído de um saudável espírito quixotesco, bramiu argumentos, que no entanto, nem sempre foram objectivos e claros.
(Não posso nomeadamente deixar passar sem reparo a sua afirmação de que a caneta do médico deve pertencer ao administrador. Tal como a Dra. Marla Chaves também eu tenho orgulho em trabalhar numa Instituição onde nunca foi coarctada ao médico a liberdade de prescrição de exames complementares ou terapêuticas, estando sempre presente o potencial beneficio para o doente. E quaisquer acções de eventual fiscalização neste campo ficam sempre ao encargo da própria hierarquia clínica).
O que conheço da História desta Instituição
Estou há 26 anos ligado a esta Instituição hospitalar e lembro-me de desde há muitos anos se falar numa prometida ampliação. Numa 2ª fase de ampliação, já que ainda trabalhei na antiga urgência, antes de haver efectivamente a ampliação que permitiu um novo espaço para a Urgência e para o Bloco Operatório.
Terá sido em 1996 que se chegou finalmente a um projecto, em fase adiantada de possibilidade de concretização, da ampliação desejada. O plano funcional estava feito. Mas a ampliação foi sempre adiada. E os profissionais, mais ou menos crédulos, foram sucessivamente alimentando essa expectativa. Era para breve! Era para breve em 1996. Era para breve em 1997… Era para breve em 2000 e assim sucessivamente.
Talvez por isso os profissionais de saúde da Instituição não valorizaram particularmente a ideia avançada em 2001, pelo Dr. José Marques, de promover a construção de um novo Hospital que servisse toda a região Oeste Norte. A própria cúpula dirigente também não recebeu bem a ideia.
Progressivamente os profissionais foram constatando a sistemática dificuldade de se impor no terreno a solução da ampliação.
Foi começando a ganhar espaço a ideia de construção de um novo Hospital.
Em Julho de 2007 os órgãos locais noticiavam: “O estudo sobre a reorganização Hospitalar da Região Oeste, realizado pelo economista Daniel Bessa, a pedido do Governo, aponta para a construção de um novo Hospital de modo a rentabilizar a rede hospitalar e os recursos humanos e financeiros.”
Em Janeiro de 2009, foi criado, por portaria publicada no Diário da República, o Centro Hospitalar Oeste Norte (CHON), agregando o Centro Hospitalar das Caldas da Rainha, o Hospital de Alcobaça Bernardino Lopes de Oliveira e o Hospital de São Pedro Gonçalves Telmo em Peniche. É verdade que essa portaria não se compromete com a construção de um novo Hospital, que substituiria os restantes 3, mas essa ideia parece estar subjacente, bem como a de libertar do Ministério da Saúde a gestão do património caldense associado às Termas.
Nessa portaria, afirma-se, cito: “Atendendo aos recursos existentes na Sub-Região do Oeste e até à concretização de outra solução, que poderá culminar com a eventual construção de uma nova unidade hospitalar, concluiu-se haver vantagem na imediata criação de mecanismos de complementaridade assistencial entre as unidades hospitalares já existentes…”.
Foi já sob a perspectiva da construção de um novo Hospital que o primeiro Conselho de Administração do CHON tomou posse.
Por despacho do Secretário de Estado Adjunto e da Saúde foi constituído um Grupo de Trabalho que integrava dois elementos do Conselho de Administração do CHON. Em Outubro de 2009 representantes da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e da ACSS (Administração Central dos Serviços de Saúde) deslocaram-se a Caldas da Rainha para, de viva voz, dar a conhecer aos Directores de Serviço os desenvolvimentos já havidos e, nomeadamente, o Plano de Missão assistencial, onde eram referidas, com algum pormenor, as previsões de capacidade e níveis de diferenciação técnica do futuro Hospital.
Nos corredores do Hospital o grande tema de conversa passou a ser a localização possível da nova estrutura hospitalar, dado que era frequente a referência a Alfeizerão.
Passou a saber-se, pelos jornais, das movimentações dos autarcas oestinos.
Terá entretanto a Sra. Ministra da Saúde pedido um estudo ao Instituto Superior Técnico, apontando esse estudo para a construção do novo hospital Oeste Norte na Lavandeira Norte (Tornada, junto ao nó da A8).
Soube-se que a solução não era pacífica para os representantes autárquicos e, noticiam os jornais de Abril deste ano, que a Sra. Ministra, em reunião tida com os mesmos autarcas, colocava em alternativa a essa localização a eventual ampliação do Hospital das Caldas.
Nos primeiros meses do ano já se tinha constado que havia ainda quem defendesse o alargamento do actual Hospital.
Em princípios de Junho de 2010, as noticias chegaram como balde de água fria. A Sra. Ministra da Saúde dava a conhecer publicamente as decisões tomadas, passando a estar planeado para o Oeste Norte o alargamento do Hospital das Caldas e a construção de uma nova unidade Hospitalar em Alcobaça, com dimensão semelhante e para substituir a actual.
Nos últimos dias de Setembro foi publicado nos jornais locais um Manifesto, assinado por mais de 50 profissionais de Saúde (poderiam ter sido 300 ou 400, mas os nomes foram recolhidos em 2 dias) defendendo, por imperativo de consciência cívica, a opinião de que a melhor solução continuava a ser a da construção de numa unidade hospitalar.
Vantagens e desvantagens de uma e outra solução

Porque o debate não trouxe suficiente aporte, atrevo-me, ao correr da pena, a listar algumas das vantagens e desvantagens de uma e outra solução. Conforme a perspectiva, algumas das vantagens poderão ser consideradas desvantagens, ou vice-versa.

As vantagens da ampliação:

– Manter o espaço físico hospitalar centralizado na cidade, não permitindo eventuais perdas de dinâmica do comércio local com a deslocalização do Hospital
– Familiaridade da população com esse espaço físico
– Ser uma solução mais rápida
– Não perder investimentos já realizados
– Integrar a solução arquitectónica num espaço já arborizado e ajardinado
– Solução mais económica (?)

As desvantagens da ampliação:

– Implicações ecológicas gerais negativas sobre a Mata
– Estrutura física central construída há 50 anos
– Hospital desequilibrado e assimétrico
– Dificuldade de equacionar heliporto
– Instalação do estaleiro de obras prejudicando o funcionamento da actual estrutura hospitalar
– Poluição sonora durante as obras
– Necessidade de construção de acessibilidades – variantes de acesso
– Aumento das dificuldades de estacionamento na zona central da cidade
– Maior dificuldade de se impor como um verdadeiro Centro Hospitalar para toda a região Oeste Norte
– Solução mais cara, se considerarmos que a somar a esta estrutura seria necessária uma outra nova estrutura em Alcobaça

As vantagens dum novo Hospital

– Possibilidade de concepção de raiz na proximidade de nó rodoviário
– Melhores acessibilidades e possibilidade de programação de rede de transportes colectivos
– Possibilidade de existência de heliporto
– Estrutura equilibrada, apropriada, harmoniosa e moderna
– Estrutura hospitalar vocacionada para toda a região Oeste Norte (230.000 habitantes), enquadrando-se no hiato entre Torres Vedras e Leiria
– Concepção dos espaços em função da missão assistencial
– Solução mais barata (se considerarmos a alternativa de ampliação + novo pequeno Hospital)
– Mais fácil atracção de profissionais qualificados para a região
– Centralização de meios técnicos e humanos, nomeadamente a nível dos serviços de apoio técnico e administrativo, evitando a dispersão por 3 focos
– Possibilidade de aproveitar algumas das estruturas hospitalares libertadas para unidade de cuidados continuados.

Em conclusão

Porque os recursos são finitos e os encargos públicos devem ser devidamente programados a longo prazo, achamos que a região Oeste Norte deve ser pensada como um todo. E é precisamente porque um Hospital é uma estrutura complexa e não apenas um edifício físico, que defendemos a criação de uma nova Unidade Hospitalar que congregue vontades e valores, preservando nomeadamente aqueles que muitos dos nossos antecessores tão bem souberam honrar: a dedicação ao Doente, o empenho profissional, a solidariedade e a humanização de cuidados.

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