Tribuna pública pouco participada

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notícias das CaldasFoi com menos participações do que as pretendidas que se realizou na manhã do passado sábado, 29 de Outubro, a tribuna pública promovida pela Comissão para a Defesa da Linha do Oeste. Uma iniciativa marcada pela quase total ausência de autarcas da região e pela forte ligação ao PCP, que promete manter-se firme na luta pela manutenção do transporte de passageiros entre Caldas da Rainha e Figueira da Foz.

Numa manhã solarenga de sábado, eram muitos os que passavam pelo cruzamento das ruas Heróis da Grande Guerra e Miguel Bombarda, mas muito poucos os que paravam. Nem a música de Jorge Palma que saía das colunas, nem os discursos mais ou menos inflamados que a cortavam, foram suficientes para que as pessoas quisessem ouvir os que recusam perder um serviço que dizem ser fundamental para a região. A comissão lamenta a falta de adesão à iniciativa, mas garante que a luta não vai perder força.
Uma das presenças na tribuna foi o deputado eleito pelo PCP à Assembleia da república, Bruno Dias, que salientou a necessidade de continuar a combater este “ataque ao futuro da região e aos direitos das populações”, uma medida que diz ser “verdadeiramente criminosa”.
Lembrando que em Dezembro de 2010 Miguel Macedo, então líder parlamentar do PSD (e actual ministro da Administração interna), viajou entre Lisboa e Caldas da Rainha, acompanhado de outros cinco deputados social-democratas, Bruno Dias diz que a decisão do governo que junta PSD e CDS-PP não se pode aceitar. “É um insulto e uma humilhação para as populações, para a região e para o país”, apontou. “Já não há vergonha nenhuma?”, questionou.
E nem a explicação de que não há dinheiro para tornar esta ferrovia rentável e competitiva o convence. “Então e os 12 mil milhões de euros que estão aí disponíveis para os bancos? E as isenções fiscais das transacções bolsistas?”, questionou.
Por isso, o deputado comunista diz que Portugal é actualmente gerido por “um governo que está a roubar ao povo para dar à banca e aos grandes interesses económicos”. Um governo que, com medidas como a prevista no Plano Estratégico dos Transportes, “está a desmantelar” uma linha ferroviária que “há muitos anos devia ter sido modernizada e electrificada”.

“Há os que lutam e os que assinam decretos”

Bruno Dias apelou à contestação e à união de quem está no terreno e usa o comboio para se deslocar. “Quando as pessoas lutam, dentro da Assembleia da República muda-se de conversa. O que se faz cá fora influencia muito mais do que se possa pensar o que se passa lá dentro”, garantiu. Além disso, “quem luta nem sempre ganha, mas quem não luta perde sempre”.
O deputado salientou ainda que, ao contrário do que se diz tanta vez, “os políticos não são todos a mesma coisa, porque há os que lutam e os que assinam decretos, mesmo depois de terem defendido a requalificação da linha há apenas alguns meses”. Uma opinião partilhada por António Barros, membro da Comissão para a Defesa da linha do Oeste e um dos responsáveis pelo PCP/Caldas. “Esperamos que outros que antes defenderam a linha do Oeste e agora têm cargos no governo não se esqueçam do que disseram antes”, disse, lembrando especialmente Assunção Cristas, actual ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e Ordenamento do território, que terminou campanha das legislativas a viajar de comboio entre Leiria e Caldas da Rainha – precisamente o troço que vai fechar -, alertando para a necessidade de requalificar a linha.
Já Vítor Fernandes, deputado do PCP na Assembleia Municipal das Caldas, defendeu que “a linha do Oeste é viável, desde que haja investimento, que podia ser feito de forma faseada”. Entendendo estar-se perante uma “machadada muito séria na modernização da linha do Oeste, no desenvolvimento da região e na melhoria das condições de vida das populações”, bem como no turismo, o comunista lembrou que o PCP tem apresentado no Parlamento diversas propostas com vista à requalificação desta ferrovia, “que são chumbadas sistematicamente”. E perguntou “onde fica o Plano de Acção para o Oeste”, no qual o governo de José Sócrates se comprometia levar a requalificação por diante?

Uma luta que junta populações e trabalhadores

À luta política e das populações pela manutenção do serviço de passageiros em toda a linha do Oeste, junta-se também o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário, que prevê que cerca de uma centena de trabalhadores seja afectado pela medida aprovada em Conselho de Ministros. “Com esta política Portugal ficou mais pobre e mais assimétrico”, defendeu o sindicalista Nelson Valente, apontando que com o fim do serviço de passageiros há “populações cada vez mais isoladas” e acrescentando que Portugal precisa de um caminho-de-ferro que tenha um serviço social.
“Estamos perante uma ofensiva que tem traços comuns para utentes e trabalhadores”, referiu, prometendo que o sindicato vai estar atento e do lado das populações nesta luta, que parece estar longe do fim e na qual se perspectivam muitas iniciativas de contestação. Pelo menos é o que promete José Raposo, da Comissão para Defesa da Linha do Oeste, que na tribuna pública distribuiu aos que passavam um comunicado onde volta a acusar o governo de condenar a ferrovia ao encerramento.
O responsável diz que ”não podemos permitir que venham a ser tomadas novas medidas que concretizem a segunda fase do plano, o fim do transporte de passageiros entre Caldas e Torres Vedras, conforme estava previsto no acordo com a troika”. E para que se trave este processo, e o fim da ferrovia que durante anos serviu o Oeste, “a melhor forma é exigir a sua requalificação”.
Presentes na tribuna pública, mas sem terem feito qualquer intervenção, estiveram o vereador caldense Tinta Ferreira e o vereador do PS na Câmara de Óbidos, José Machado. Os responsáveis pela comissão lamentam que outros órgãos autárquicos e outras forças políticas não estivessem representados na iniciativa, garantindo que foram feitos convites a todos os grupos parlamentares, Câmaras Municipais e Assembleias Municipais (presidentes e deputados) dos vários concelhos afectados. À Gazeta das Caldas, e já terminada a tribuna pública, alguns dos visados garantiram não ter recebido qualquer convite.
A Comissão prepara agora um abaixo-assinado que pretende que seja assinado pelas populações dos vários concelhos afectados por esta medida do governo. Outras acções estão ainda a ser ponderadas.