Ensaios clínicos entre as dúvidas e a esperança

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●  Portugal pode aumentar 3,7 vezes o número de ensaios clínicos por cada milhão de habitantes.
●      Cada euro investido em ensaios clínicos gera o dobro de retorno para a economia nacional.
●      A participação em ensaios clínicos pode significar mais qualidade e tempo de vida para o participante.

Numa altura em que se regista um aumento global da esperança média de vida, verifica-se, com maior prevalência, o aparecimento de novas doenças associadas ao envelhecimento da população, nomeadamente as doenças neurodegenerativas cuja prevalência também aumenta com a idade. Cresce, consequentemente, a necessidade de novos e inovadores tratamentos, que sejam eficazes e seguros, o que só é possível através da realização de ensaios clínicos. No entanto, em Portugal, a participação em ensaios clínicos ainda levanta muitas dúvidas por parte dos doentes.
Doença de Alzheimer, doença de Parkinson e Esclerose Múltipla são algumas das mais conhecidas doenças neurológicas, que têm em comum a deterioração progressiva e morte de neurónios. Em Portugal, e falando apenas em demência, existem cerca 182.526 casos, estimando-se que este valor possa duplicar a cada 20 anos. “Torna-se fundamental explicar o que são os ensaios clínicos e quais os seus benefícios para o participante, principalmente no caso das doenças neurodegenerativas em que a capacidade para prestar consentimento informado pode ficar comprometida. Acreditamos que através da participação em ensaios clínicos poderemos melhorar a qualidade de vida do participante e a de futuros doentes. A participação num ensaio clínico é uma forma de desempenharmos um papel ativo na sociedade e de contribuir para o avanço da Ciência” começa por explicar Maria do Rosário Zincke dos Reis, membro da direção da Alzheimer Portugal e responsável por este evento.
Segundo um estudo divulgado pela APIFARMA, em fevereiro deste ano, os ensaios clínicos mostraram ter vantagens importantíssimas para os doentes, comunidade científica e para a economia. Para os doentes, permitem: acesso precoce e gratuito a novos medicamentos; insights valiosos para a investigação e progressão médica; melhoria dos diversos serviços prestados nas unidades de saúde e aumento da qualidade e tempo de vida. Por sua vez, para a comunidade científica, os ensaios clínicos contribuem fortemente para a criação e inovação do conhecimento científico do país, permitem estabelecimento de redes de investigação (nacionais e internacionais) e desenvolvem novas equipas de investimento. Por último, para a economia, os ensaios clínicos permitem a redução da despesa pública, uma vez que o tratamento dos doentes não é financiado pelo SNS, criam valor para várias indústrias, através da aquisição de bens e serviços, criam emprego e atração de investimento.
Segundo o mesmo estudo, em Portugal, apesar do número de ensaios clínicos ter tido uma evolução positiva, com o registo de, em 2017, 13.3 ensaios clínicos por cada milhão de habitantes, se nos compararmos com países de dimensões semelhantes ou inferiores, podemos aumentar este valor 3,7 vezes mais. Esta evolução iria permitir um impacto muito positivo para o país, pois cada euro investido na atividade de ensaios clínicos gera um retorno de 1,99 euros na economia portuguesa e é uma oportunidade para aqueles doentes que não têm alternativa terapêutica disponível, trazendo ainda benefícios para futuros doentes. Em 2017, o impacto económico dos ensaios clínicos foi cerca de 87,3 milhões de euros.
Na opinião de Rosário Zincke, “Estes dados confirmam que ainda há muito trabalho a desenvolver no que diz respeito à literacia da sociedade sobre os benefícios da participação em ensaios clínicos. Muitas pessoas não participam por falta de informação e conhecimento das vantagens associadas e do consentimento informado. Importa informar o cidadão sobre este tema tão importante e que levanta tantas questões éticas e jurídicas que urge debater. É neste sentido, para aumentar o conhecimento da população sobre o tema, que convidamos toda a sociedade a participar nesta conferência, que junta médicos, doentes, indústria e associações para uma melhor literacia em saúde sobre os ensaios clínicos.”

Vanessa Rolim,
Communication Consultant
Guess What

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