Foi há um ano que Rui Rio ganhou o PSD. Ganhou o PSD mas não o País. E o problema no PSD é que sem País não há PSD. Se a percepção de se perder o País existir o PSD não vale nada. Esta associação é de uma obsessão objectiva, que muitos compreendem e talvez alguns ignorem. O PSD foi sempre um “produto directo” da sociedade portuguesa e um instrumento de transformação dessa sociedade, pois nele entraram os mais empreendedores, os mais inconformados e os mais capazes de fazer a mudança. Sem perceber esta matriz genética, o PSD arrasta-se e o seu líder paga por esta factualidade. Nada me move contra Rui Rio, pelo contrário. Sinto como muitos a admiração de quem conquistou a população do Porto em três eleições, tarefa essa muito difícil. Mas não o apoiei para presidente do PSD exactamente por achar que Rio seria o que é um ano depois. Um líder de um partido que não consegue conquistar os seus militantes por não conseguir conquistar os portugueses. Nada é mais fascinante na política do que termos novos actores capazes de fazer diferente.
A sua agenda foi escondida em discussões fechadas em conselhos estratégicos sem estratégia e agora o descontentamento interno subiu de tom. As sondagens antecipam resultados humilhantes e a percepção de uma hecatombe eleitoral é assustadora. A ideia de perder o País está instalada.
Mais do que pensamento é preciso criar uma narrativa que crie uma esperança nos portugueses. Também não passa para fora um modelo alternativo de organização do Estado ou uma visão para a coesão territorial com uma “marca PSD”. Por isto Rio evidencia que não dará futuro ao PSD, ou não fosse o futuro uma sucessão de presentes. E é esta a grande causa do descontentamento. Podemos agora assistir a uma discussão sobre o acto de Luis Montenegro, mas o mais importante é que ele evidencia um forte inconformismo com o estado actual. Uns criticarão o timing, outros a natureza rebelde do acto que põe em causa um princípio (mais um!) na democracia interna dos partidos que deixava sempre que um líder fosse a votos pelos portugueses. Discuta-se sobretudo o tempo que estamos a perder e vejamos que novas oportunidades para o PSD se abrem a partir daqui.
Espero que a declaração de Montenegro não reduza Rio a pretextos justificativos dos seus amanhãs menos conseguidos, a uma larga avenida de vitimização cujo capital será adornar o líder com a retórica de que está injustamente a ser impedido de levar a sua “missão” por diante. A ser assim, teremos uma tentativa de “capsulização” do PSD por Rio, incapaz de aceitar a leitura da realidade e o challenge que lhe foi feito.
Para Rio não existe a noção de “oportunidade”, de velocidade na reacção, de antecipação, de inovação nas soluções, de criar novas ideias fortes ou lançar caras novas. Um bom exemplo foi ver Rio só a visitar propriedades destruídas pelo furacão Leslie três meses depois, entre tantos outros episódios onde não há iniciativa ou rasgos originais. O seu tempo parece não fazer o “match” com o tempo da realidade política que temos. Só um grande líder poderia neste momento convencer os portugueses que o PSD é a melhor solução para o país. Talvez Rio ponha verdadeiramente Portugal Primeiro (como ele diz) e aproveite este contexto de exigência interna para conquistar quem ainda não conseguiu conquistar. Mas teria que se superar. Se insistir nesta ideia de se fechar e de se refugiar em nome do “seu tempo” será tempo perdido.
PS – Texto publicado no O Observador e adaptado para a Gazeta das Caldas
Telmo Faria
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