Joana Louro
médica
Andei a fugir ao tema. Mas não falar, já estava a superar o desconfortável. Já era violento. O silêncio pode ser ensurdecedor. E tem sido! E se não podemos fazer muito pelo menos não permitamos o esquecimento. Porque silenciar é compactuar com a indiferença, mas é sobretudo ser cúmplice deste que é o maior crime contra humanidade, que acontece em pleno seculo XXI, no mesmo momento em que vou trabalhar, ao supermercado ou deixo as minhas filhas na escola: O Genocídio na faixa de Gaza.
Bem sei que o ataque de Israel ao Irão escalou para outra dimensão as atenções no médio oriente. Quando se perspetiva uma 3ª Guerra Mundial petrifico de horror e medo. E quase torna o tema Palestina insignificante. Mas NÃO É! E não podemos deixar que seja. E é por isso que não podemos deixar esquecer. Mesmo não acreditando que tenha sido essa a intenção de Israel ao declarar guerra ao Irão. A verdade é que a (pouca) atenção foi desviada. E o horror da Palestina ficou mais distante.
Deixo o enquadramento geopolítico e histórico para os entendidos. Na realidade declaro já a minha verdadeira ignorância em relação ao tema. Por mais que tenha procurado informar-me e estudar, confundo as cronologias, os grupos e partidos, e o que é mais grave não sei se percebo as ideologias. Burrice minha com certeza. E o fanatismo religioso perturba-me. Mas a verdade é que tudo isso pouco me importa. Porque não é esse o foco.
O Hamas cometeu vários ataques terroristas contra Israel e crimes bárbaros que eu repudio de forma visceral. Facto inquestionável. Mas Israel está a cometer um massacre continuado e silencioso contra a Palestina. Mas vestido de uniforme. Israel está a matar à sede, á fome, à bomba. Indiscriminadamente. Crianças, hospitais, escolas. Isto é extermínio, Isto é genocídio. Isto é criminoso. É cruel. É inaceitável.
Eu sei que o egoísmo é nosso contemporâneo e define-nos enquanto sociedade. E isso é muito triste. Mas como podemos nós ser indiferentes ao que se passa naquela faixa do mundo? Como é que o maravilhoso mundo ocidental permite? Aceita? Tolera? O Humanismo é difícil e dá muito trabalho. Não estamos a falar de ideologias politicas, nem sequer de credos. Estamos a falar de pessoas e de vidas. As vidas dos palestinianos não podem valer menos que outras vidas. São vidas humanas. Ponto.
Não podemos ser cúmplices através do nosso silêncio ensurdecedor perante os crimes de Israel. Não podemos ser neutros em questões de direitos humanos. Mas também não podemos perder a fé na Humanidade. E só haverá paz quando a luta for pela Humanidade.