«Não vos torne a noite escura» de Vergílio Alberto Vieira

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Gazeta das Caldas
| D.R

Vergílio Alberto Vieira (n.1950) escolheu para título deste seu recente livro de 51 páginas um verso da carta III de Francisco Sá de Miranda. Se lhe juntarmos a Bíblia, Hermann Broch, Hadrianus, Dante, Camões, Mário de Sá-Carneiro e Vergílio Ferreira, fica­mos com uma ideia de como esta se trata de facto de uma poesia culta, grave e erudita que, ao mesmo tempo, «dialoga com Mallarmé e cita nomes mitológicos». Adverte Cristina Robalo Cordeiro, autora do prólogo: «A sequência de trinta estrofes, dividida em duas partes iguais, pode ser igualmente lida como uma longa inscrição funerária, tal como o epitáfio composto por Hadrianus para o seu túmulo.»  Ou dito de outra maneira: junta a Vida, a Morte e a Poesia. Começa pela Vida («Elas são a mães/ filhas da morte que a dor/ em terra incógnita concebeu/ sopro de extinta luz/ na lâmpada de barro/ elas são as mães.» Passa também pela Morte: «Ninguém dirá /depois de tornar não voltaremos/ quando o mundo se perder/ desse buraco negro que além/ descobriu ser agora para sempre/ ainda não até ao fim.» Entre a Vida e a Morte, surge a Poesia: «Morreu cantando o amor/ perdido o que cem anos tinha/ antes do sonho trespassar/ a flecha e a colina o arco/ mil árvores morrem/ subindo ao céu.»


(Editora: Crescente Branco, Prólogo: Cristina Robalo Cordeiro, Desenhos e concepção gráfica: Armando Alves)