A Semana do Zé Povinho

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Zé Povinho impressionado com o decurso da campanha eleitoral nos EUA, terra do seu aparentado Tio Sam, que terminou na noite de terça-feira com o apuramento dos resultados.
Para Portugal e para a Europa o resultado não podia ter sido melhor, uma vez que a maioria dos europeus era unânime de que a reeleição de Barak Obama podia constituir uma boa notícia.
Mas Zé Povinho ficou ainda mais sensibilizado ao ouvir o discurso de vitória de Obama, que soube reconhecer o valor dos seus adversários e comemorou-a sem recriminações contra os outros intervenientes e mobilizando todos para os desafios que se impõem. Quanto era bom ver esse tipo de procedimento amiúde em Portugal!
Para mais, nesse discurso lançou desafios ao povo americano para a recuperação da crise em que o país está mergulhado, sabendo que esta também é causa e efeito da crise global, pelo que é com expectativa que se espera que a retoma americana possa ajudar à resolução da crise.
Mas nas palavras mobilizadoras de Obama viu-se a grande ênfase dada à necessidade de reforçar a capacidade inovadora e empreendedora do seu país, bem como à continuação do processo de recuperação económica que passa, na opinião dos democratas, por um papel activo e interventivo do Estado, mas não esquecendo o que cabe aos outros actores, nomeadamente às empresas e aos cidadãos.
Se bem que há quatro anos Barak Obama tenha aberto expectativas excessivas que não pode ou conseguiu concretizar, talvez desta vez, com maior experiência e resolvidos bastantes dos problemas que enfrentou em 2008 (quando se saía da maior crise económica depois da grande depressão de 1929), se possa agora dar um verdadeiro alento à sua economia e consequentemente, à economia global.
Finalmente Zé Povinho espera que a Europa saiba ler nos desígnios expressos pelo povo norte-americano, desafios que poderiam ser experimentados também no velho continente, que nos últimos anos tem dado de si uma pobre imagem acerca do saber por onde vai ou quer ir. Por isso saúda a vitória de Barak Obama na expectativa de que a mesma sirva de lema para as mudanças que a Europa terá que fazer rapidamente, antes que se assista à sua derrocada.

Não adianta argumentar que foram dezenas, que foram todos os deputados da Assembleia da República eleitos pelo PSD e pelo CDS/PP (com a excepção de um) a votar favoravelmente o Orçamento de Estado. Para o caso, Zé Povinho revela a relação de proximidade e pede meças aos ilustres deputados das Caldas da Rainha que frequentam os corredores do Palácio de S. Bento.
A verdade é que Maria da Conceição e Manuel Isaac votaram num orçamento que ninguém acredita (nem eles próprios) que se vai cumprir. Um orçamento que condena Portugal a um progressivo empobrecimento, com consequências catastróficas para milhões de portugueses.
Zé Povinho já sabia que estes dois deputados não têm especial vocação para heróis (a coragem não é o seu forte), o mesmo é dizer, para mártires, porque rapidamente seriam triturados pelos seus próprios partidos. Obedientes, seguiram a disciplina partidária. Obedientes, seguiram as indicações dos seus líderes que, também obedientemente, seguiram as ordens da troika e de Merkel que, por sua vez, obedientemente, seguiram os ditames do capital financeiro, os ditos “mercados”, que não têm rosto e têm vindo a espalhar austeridade e rupturas sociais em vários países.
No meio disto tudo, o que contam afinal, dois deputadozinhos de segunda linha, que nem sequer são conhecidos a nível nacional? Não é para serem críticos, activos, reflexivos e participantes que eles estão no Parlamento. É para serem robots e votarem de acordo com os seus partidos.
Só que esta votação do Orçamento é demasiado séria e Zé Povinho não queria estar na sua pele ao sentirem-se cúmplices deste assalto fiscal que está a ser feito aos portugueses.
A partir de agora qualquer caldense tem o direito de abordar na rua – civicamente – os deputados Manuel Isaac e Maria da Conceição Pereira e perguntar-lhes se concordam com o “enorme aumento dos impostos”, com os cortes nas prestações sociais e com um orçamento que até reputados e insuspeitos especialistas dos seus partidos garantem ser incumprível e pernicioso para a economia nacional.
Zé Povinho não vai tão longe como o seu criador, Rafael Bordalo Pinheiro, que no seu tempo chamava bácoros aos que mamavam na Grande Porca da política, mas acha que é tempo de os deputados serem eleitos em círculos uninominais e possam ter a sua autonomia sem fazer estas tristes figuras.

1 COMENTÁRIO

  1. Independentemente de qualquer ideologia politica fiquei estupfacto especialmente relativamente ao deputado Manuel Isac, uma vez que independentemente de ser do partido do CDS sempre lhe reconheci muita coragem pela forma e conviccao com que defendia as suas ideias.O mesmo nao se pode dizer nesta altura como deputado parece ter perdido essa excelente qualidade de coragem que muitos lhe reconheciam mas com a votacao do orcamento, passa a colocar em causa a sua coragem e independencia…