Rejubilemos porque vamos ter… um parque infantil!

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Notícias das Caldas O mundo, como o conhecemos, está a desmoronar-se. O que tomávamos como certo e adquirido desfaz-se como construções de areia, os direitos por que lutámos na Europa são como bonecos de neve expostos ao sol das lógicas dos “mercados” e os governantes parecem não ter capacidade (ou vontade?) de travar este processo. A preocupação com o desemprego e a estagnação económica alastra às instituições e sectores mais conservadores e tradicionalmente mais alheios a preocupações sociais, até o FMI percebe que a fome e a miséria poderão levar a uma convulsão social: “Temam os que perderam toda a esperança, porque esses já não têm nada a temer”, li algures. Os apoios sociais e as medidas de combate a esta situação são discutidas, criticadas e implementadas com mais ou menos sucesso pelos diversos poderes e governantes. A preocupação é global? Não, há uma pequena povoação que resiste e, perante tudo isto, está a investir …num parque infantil.

Da Igreja chegam vozes de alarme e crítica, de dentro dos próprios partidos que nos governam há vozes pedindo outra lógica, outras medidas , outro enquadramento, outra abordagem. Nunca mais depois da guerra as instituições de solidariedade, públicas e privadas, foram chamadas a acudir a tantas situações de carência, fome, incapacidade das famílias de pagarem as suas prestações com o crédito à habitação, as novas rendas e as contas da casa. Mas não em todo o lado. Há uma pequena povoação onde não há rendas e prestações por pagar, onde não há casas no centro da cidade (em prédios novos) que vivem sem electricidade porque lhes foi cortada, onde o número de famílias carenciadas não subiu assustadoramente e, por isso, aí se prefere fazer …um parque infantil.
Leio nos jornais: “Câmara de Ferreira do Alentejo apoia ideias de negócio de jovens”, “Câmara de Tavira apoia desempregados com programas de ocupação social”, ”Apoio a jovens desempregados – Câmara Municipal de Sintra”, “A Câmara de Miranda do Douro criou um Gabinete de Inserção Profissional, para apoiar os desempregados do concelho”, “A Câmara Municipal do Funchal aprovou hoje um apoio de 108.530 euros para formação de cem desempregados”, “Com o objectivo de apoiar os desempregados locais, a Câmara Municipal de Ílhavo tem ao dispor dos seus munícipes um Serviço de Apoio à Formação e ao Emprego (SAFE)”, “Câmara de Tavira apoia desempregados recorrendo a programas do IEFP”, “Câmara de Lousada tem quatro gabinetes de apoio no combate ao desemprego”, “Câmara de Lagoa prestou apoio a 1840 desempregados”, “Câmara de Loures cria apoio financeiro, sob a forma de subsídio não reembolsável por posto de trabalho criado e preenchido por desempregados, pessoas com deficiência”. Enquanto isto, a Câmara das Caldas faz… um parque infantil.
O trânsito é caótico na cidade, as lojas no seu centro agonizam devido certamente à crise mas também porque esse centro é inacessível a quem vem de fora das Caldas da Rainha e há “medidas” mas não há “estratégia”. Já havia muitas ruas fechadas ou de difícil circulação, mas as obras (intermináveis!) cortam ainda mais vias de acesso e agudizam e eternizam o problema. A solução estava à vista de todos, mas só os mais sagazes foram capazes de a descobrir: fechou-se mais uma artéria, dificultou-se mais o trânsito, destruíram-se espaços de estacionamento, isolou-se e bloqueou-se ainda mais o centro da cidade. Querem fazer compras? Vão ao centro comercial:  fácil acesso, com uma via renovada e amplo estacionamento – os comerciantes caldenses podem sempre passar os seus dias …no parque infantil.
Algumas pessoas (há sempre uns cínicos) interrogam-se para quem servirá aquele espaço, já que nas casas da zona poucas crianças moram e o Parque está aqui a dois passos, numa zona verde invejável e com um parque infantil infelizmente longe de estar esgotado (ou estará prevista alguma urbanização naquela zona, depois de entregue a sua gestão à Câmara Municipal?).  Era mesmo preciso fazer mais um deserto de betão no meio da cidade? E estará aquele espaço devidamente cuidado seis meses depois de inaugurado? Haverá capacidade e vontade para isso, ou destina-se apenas a ser mostrado no 15 de Maio? O dinheiro que ali foi gasto não seria melhor aplicado em obras de regeneração urbana de zonas degradadas? Parece-me um local especialmente aprazível para os graffittis e os exercícios de vandalismo urbano em que as Caldas, perante a incúria e inépcia dos responsáveis, se tornou fértil. Mas tudo isto interessa pouco, esqueçamos estas pequenas questões e rejubilemos, porque vamos ter …um parque infantil !
João Jales

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