O mundo, como o conhecemos, está a desmoronar-se. O que tomávamos como certo e adquirido desfaz-se como construções de areia, os direitos por que lutámos na Europa são como bonecos de neve expostos ao sol das lógicas dos mercados e os governantes parecem não ter capacidade (ou vontade?) de travar este processo. A preocupação com o desemprego e a estagnação económica alastra às instituições e sectores mais conservadores e tradicionalmente mais alheios a preocupações sociais, até o FMI percebe que a fome e a miséria poderão levar a uma convulsão social: Temam os que perderam toda a esperança, porque esses já não têm nada a temer, li algures. Os apoios sociais e as medidas de combate a esta situação são discutidas, criticadas e implementadas com mais ou menos sucesso pelos diversos poderes e governantes. A preocupação é global? Não, há uma pequena povoação que resiste e, perante tudo isto, está a investir num parque infantil.
Da Igreja chegam vozes de alarme e crítica, de dentro dos próprios partidos que nos governam há vozes pedindo outra lógica, outras medidas , outro enquadramento, outra abordagem. Nunca mais depois da guerra as instituições de solidariedade, públicas e privadas, foram chamadas a acudir a tantas situações de carência, fome, incapacidade das famílias de pagarem as suas prestações com o crédito à habitação, as novas rendas e as contas da casa. Mas não em todo o lado. Há uma pequena povoação onde não há rendas e prestações por pagar, onde não há casas no centro da cidade (em prédios novos) que vivem sem electricidade porque lhes foi cortada, onde o número de famílias carenciadas não subiu assustadoramente e, por isso, aí se prefere fazer um parque infantil.
Leio nos jornais: Câmara de Ferreira do Alentejo apoia ideias de negócio de jovens, Câmara de Tavira apoia desempregados com programas de ocupação social, Apoio a jovens desempregados – Câmara Municipal de Sintra, A Câmara de Miranda do Douro criou um Gabinete de Inserção Profissional, para apoiar os desempregados do concelho, A Câmara Municipal do Funchal aprovou hoje um apoio de 108.530 euros para formação de cem desempregados, Com o objectivo de apoiar os desempregados locais, a Câmara Municipal de Ílhavo tem ao dispor dos seus munícipes um Serviço de Apoio à Formação e ao Emprego (SAFE), Câmara de Tavira apoia desempregados recorrendo a programas do IEFP, Câmara de Lousada tem quatro gabinetes de apoio no combate ao desemprego, Câmara de Lagoa prestou apoio a 1840 desempregados, Câmara de Loures cria apoio financeiro, sob a forma de subsídio não reembolsável por posto de trabalho criado e preenchido por desempregados, pessoas com deficiência. Enquanto isto, a Câmara das Caldas faz um parque infantil.
O trânsito é caótico na cidade, as lojas no seu centro agonizam devido certamente à crise mas também porque esse centro é inacessível a quem vem de fora das Caldas da Rainha e há medidas mas não há estratégia. Já havia muitas ruas fechadas ou de difícil circulação, mas as obras (intermináveis!) cortam ainda mais vias de acesso e agudizam e eternizam o problema. A solução estava à vista de todos, mas só os mais sagazes foram capazes de a descobrir: fechou-se mais uma artéria, dificultou-se mais o trânsito, destruíram-se espaços de estacionamento, isolou-se e bloqueou-se ainda mais o centro da cidade. Querem fazer compras? Vão ao centro comercial: fácil acesso, com uma via renovada e amplo estacionamento – os comerciantes caldenses podem sempre passar os seus dias no parque infantil.
Algumas pessoas (há sempre uns cínicos) interrogam-se para quem servirá aquele espaço, já que nas casas da zona poucas crianças moram e o Parque está aqui a dois passos, numa zona verde invejável e com um parque infantil infelizmente longe de estar esgotado (ou estará prevista alguma urbanização naquela zona, depois de entregue a sua gestão à Câmara Municipal?). Era mesmo preciso fazer mais um deserto de betão no meio da cidade? E estará aquele espaço devidamente cuidado seis meses depois de inaugurado? Haverá capacidade e vontade para isso, ou destina-se apenas a ser mostrado no 15 de Maio? O dinheiro que ali foi gasto não seria melhor aplicado em obras de regeneração urbana de zonas degradadas? Parece-me um local especialmente aprazível para os graffittis e os exercícios de vandalismo urbano em que as Caldas, perante a incúria e inépcia dos responsáveis, se tornou fértil. Mas tudo isto interessa pouco, esqueçamos estas pequenas questões e rejubilemos, porque vamos ter um parque infantil !
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