A temática era a “violência na Mulher” mas acabou por ser o debate em torno das problemáticas das crianças e jovens a dominar a tertúlia que a associação AbraçAr-te organizou para assinalar o Dia da Mulher, na tarde de 8 de março.
Os vários tipos de violência foram elencados por Débora Alves, do Gabinete de Atendimento à Vitima de Violência Doméstica (GAVVD) que chamou a atenção para a importância de se estar sempre alerta para os sinais e de haver uma rede de apoio à vítima.
Catarina Almeida, da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ), explicou que as mulheres, muitas vezes são submissas e orientam os filhos para o serem também, por medo. No entanto, considera que hoje em dia isso já não se justifica porque existem muitas instituições de apoio. “Sabemos que há o problema da vitima ter de sair de casa e ir para a casa abrigo, que não é o ideal mas é melhor do que continuar a conviver com a violência”, referiu, acrescentando que, sobretudo, quando há filhos pequenos, esta é a melhor maneira de cortar com o comportamento abusivo. “Estes agressores e abusadores normalmente manipulam muito, isolam as pessoas para não falarem com outras e pedirem opiniões, tornando a vítima mais fraca”, acrescentou Catarina Almeida.
A CPCJ só pode intervir com o consentimento dos dois progenitores e, se a criança tiver 12 ou mais anos, também ela não se pode opor. Um caso de perigo de vida iminente é a excepção que permite uma atuação autónoma. Na maioria das vezes é em contexto escolar que é possível identificar os casos de violência. “Uma criança que está maltratada, sofrida, não está disponível para aprender”, explicou a responsável da CPCJ, chamando a atenção para os “sinais que têm de ser lidos” e para a importância de não se precipitarem na tomada de decisão.
Também Patrícia Santos, do Serviço de Orientação Escolar do AERBP, alertou para o cuidado que é necessário ter para se fazer uma sinalização, sob pena de se estar a cometer uma injustiça, com consequências graves. A psicóloga partilhou ainda as dificuldades ao fazer aconselhamento porque, normalmente, numa situação de violência doméstica, quem vai à sessão é a vítima e não o agressor. “Passo para a CPCJ e elas, não tendo resultados, passam para o tribunal. Se conseguisse trabalhar com as famílias, se calhar conseguíamos resolver estas questões de uma forma mais discreta”, concretizou.
Tema de conversa foi também a banalização da violência, especialmente entre os mais novos. A antropóloga social e cultural Mariana Bernardes partilhou a sua própria experiência de quando deu aulas extra curriculares numa escola de primeiro ciclo e ficou “assustada” com o comportamento das crianças. “A violência é justificação para tudo”, disse a profissional, que viu crianças de cinco anos a agredirem-se. “As crianças passam a maior parte do tempo na escola, é aí que o comportamento social tem de ser alterado”, permitindo-lhes “perceber que a violência não deve ser uma resposta para emoções que ainda não conseguem compreender”.
A falta tempo de qualidade com a família e também na escola foi outro dos aspetos destacados na tertúlia moderada por Sílvia Barros.
Também presente na sessão, a vereadora Conceição Henriques, destacou o papel das mulheres na educação dos filhos e na transmissão do modelo de respeito da sociedade. Considera que o amor não é o valor mais importante para a vida das pessoas, mas sim o respeito e a dignidade. “Eu não preciso que me amem mas preciso de ser respeitada. No respeito também há amor”, referiu.
Conceição Henriques explicou ainda que o município reforçou a estrutura de intervenção social de modo a poder apoiar a população mais vulnerável. Já o presidente do Agrupamento de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro, Jorge Pina, falou da Carta Universal dos Deveres e Obrigações dos Seres Humanos, que refere que o primeiro dever é o respeito pelo outro, para lembrar que a violência é uma falha desse dever.
“Porque não há coragem de mudar a Declaração Universal dos Direitos do Homem para Direitos do Ser Humano”, questionou, acrescentando que estes “hábitos” apropriam-se e os homens têm tido um conjunto de direitos, ao longo dos tempos, em relação às mulheres.
A iniciativa, que decorreu no Espaço AbraçAr-te, na Mata de Porto Mouro, incluiu ainda uma performance pelo Grupo de Teatro Comunitário da Escola Básica de Santa Catarina e a visita à exposição “A Verdade Dói”, organizada pelo Plano Cultural de Escola do Agrupamento, que é do Plano Nacional das Artes. A mostra continua patente nos dias 15, 16, 22 e 23 de março.
