Stereossauro, o DJ caldense que se propôs a concurso em duas categorias e se sagrou campeão

0
897
O DJ envergou as cores da seleção nacional para concorrer e vencer numa nova categoria deste prestigiado concurso
- publicidade -

Nos últimos meses, o DJ e produtor caldense Tiago Norte arrecadou dois títulos mundiais, o último deles em Paris. Fê-lo envergando a camisola da seleção nacional que acabou por lhe dar sorte pois sagrou-se o melhor do mundo a animar uma pista de dança. Fechou com um trecho de Edith Piaf

Antes de se dedicar à sua música, Stereossauro frequentou os cursos de Artes Plásticas e de Design Industrial na ESAD.CR. É fã do Parque, da Praça e da Foz do Arelho onde vai de bicicleta em busca de inspiração para os seus temas.

Gazeta das Caldas: 2024 foi um bom ano para si?
Tiago Norte: Sim, foi um ano especial primeiro com duas edições, uma com o rapper Mura e um disco instrumental meu, dedicado à guitarra portuguesa. Neste “+351” participaram o mestre António Chainho, Ricardo Gordo, Pedro Jóia, Tó Trips e, claro, o DJ Ride, na produção. Também fiz várias produções para outros artistas como Phoenix e Valete.

- publicidade -

E também foi o ano de novos títulos mundiais…
É verdade…Consegui obter mais dois títulos mundiais de DJing no DMC (Disco Mix Club) que é o mais antigo e prestigiado concurso que decorre desde 1983. É uma competição muito virada para a componente técnica, que avalia o malabarismo que se faz com o gira-discos.
Coloquei-me à prova, primeiro num campeonato on-line, que abriu em agosto. De um total de 70 candidatos foram escolhidos 20, um de cada país e acabei por vencer, enviando um set de 12 minutos. Um dos prémios era a presença noutra competição.

Concorreu numa nova categoria, certo?
Este ano abriu uma nova categoria, Open, que corresponde ao Open Format que se dirige às pistas de dança. Quando normalmente concorremos com sets de cinco minutos, nesta competição, fizemos um set de 15 minutos onde é suposto saltitar por vários estilos musicais e também várias eras. Segui o que faço quando passo música numa discoteca ou festival. Fui fiel a mim próprio e usei David Bowie, no rock Led Zeppelin, além de música eletrónica e de baile funk. Finalizei com “Rien” de Edith Piaf, uma ideia do DJ Ride, misturada com drum n’ bass para finalizar o set que se realizou com grande êxito em Paris.

Como correu essa competição? Levou algo de terras lusas?
Na primeira noite da competição não fiquei bem classificado…E talvez por isso, no dia da prova, fui com tudo! Como se costuma dizer, foi uma entrada a pés juntos com toda a energia e deixei tudo em campo!
E até levei a camisola da seleção de Portugal e ganhei!
O mais próximo de Portugal que levei foi ter incluído o baile funk em português do Brasil e, claro, a camisola da seleção nacional que me deu sorte!

Fale-nos um pouco sobre os prémios mundiais anteriores…
Em 2011 e em 2016 já tinha ganho em equipa com DJ Ride na dupla que temos, os Beatbombers e vencemos na categoria Show. O DJ Ride em 2023 ganhou em mais duas categorias…ou seja ele já tinha quatro títulos e entre nós há aquela picardia saudável e foi ele aliás que me convenceu a ir a este concurso.

Ele também participou?
Sim, ele também foi e ficou em segundo lugar na categoria de Supermacy. Já tínhamos ficado algumas vezes em segundo e em terceiro lugar…Perde-se por um triz…Ele também foi júri neste último concurso mas não avaliou na minha categoria.

Vive um bom momento no que diz respeito ao DJing?
No DJing vivo um bom momento mas que é também de transição. Vou passar para o lado do júri pois já ganhei em várias categorias e em campeonatos diferentes. Está na hora de passar o testemunho à geração mais jovem. Também quero sair em grande, com o título de campeão do mundo. Vou continuar como júri e conselheiro das organizações.

E quanto à produção musical?
No que diz respeito à produção, tenho o meu caminho definido na música eletrónica com raiz na música portuguesa, seja no fado ou seja na música tradicional. Vou trabalhar agora com sonoridades mais ligadas ao folclore, aos adufes e trabalharei também com vozes.
Em stand by fica a guitarra portuguesa, se bem que já tenho um segundo álbum instrumental que está pronto a sair!

Em que é que está a trabalhar atualmente?
Neste momento estou a trabalhar num segundo álbum de fado com a cantora Ana Magalhães, um seguimento de Tristana que está bem avançado.
Estou a criar um outro disco mais virado para a música tradicional. Sobre este último estou a trabalhar com vários cantores jovens, muito ligados à música tradicional.
Que influências tem? Procura intemporalidade nos seus temas?
Tenho influências variadas desde grupos de hip hop, de música africana e também de DJ Shadow, ou Jay Dilla (na produção). Aprecio grupos como os Rage Against the Machine e Bestie Boys. Deste último aprecio o ecletismo pois num mesmo disco há punk rock, funk e rap.
O DJ Ride é uma grande influência não só pela sonoridade como também pela sua ética de trabalho.
É verdade sim, procuro intemporalidade e quando ouço temas com alguns anos, fico surpreso pois não mudaria nada. O meu objetivo é fazer música que goste e que, passados alguns anos, continue a gostar dos temas.

O que se segue?
O que se segue é trabalhar na música. Cada vez mais, cada artista é a sua própria editora. Há plataformas que permitem que os artistas independentes como eu possam ter os seus próprios produtos. Além dos discos, faz sentido ter algum merchandising – t-shirt ou chapéu-, ajudando o disco a viver e a conectá-lo melhor com o público. Tenho apostado nalguns produtos premium, personalizados, alguns vinis e sou eu que assino cada disco e vou pô-los ao correio. Creio que há espaço para apoiar esta aposta que apela ao colecionismo.

Há quantos anos vive só da sua música? Qual foi o sítio mais longe onde atuou?
Desde 2014 que vivo só da minha música, apesar de já me dedicar a esta área há 20 anos. É ótimo conseguir mas tem que ser visto como um trabalho muito intenso e que exige muita auto-disciplina. Obrigo-me a fazer música todos os dias. O mercado português não permite que uma pessoa possa viver apenas de um grande hit como acontece nos EUA. Não dá para estar à sombra da bananeira e eu sinto-me abençoado por poder fazer o que mais gosto.
Foi numa viagem com Ride, atuámos não só na China como também em Macau, numa viagem que aconteceu antes da pandemia.

As parcerias são importantes?
Sim, sem dúvida. Sozinhos só conseguimos chegar até um certo ponto. Há resultados que não conseguiria alcançar só, sem o Pedro Joia, o Carlão, a Sara Correia, a Gisela João ou a Marisa. E não é só pelo seu carisma e alcance. Uns são mestres na escrita, enquanto que outros têm simplesmente vozes únicas.

A vossa remix dos Verdes Anos de Carlos Paredes foi uma pedrada no charco, não foi?
Foi mesmo. Estávamos em 2007 e eu convidei o Ride para o scratch. Atuávamos numa discoteca em Lisboa e mesmo na despedida, antes da atuação de uma banda techno alemã, decidi passar os Verdes Anos, tendo feito a remistura em tempo real, tocando com o sampler.
Quando levantei a cabeça estava tudo de braços no ar e a aplaudir o que tinham acabado de ouvir! Percebi nesse momento que era esse o meu caminho na música: juntar eletrónica à música portuguesa. E é tudo uma questão de experimentação, até porque já tentei repetir a fórmula e não fácil.

O álbum Bairro da Ponte é uma homenagem ao local onde cresceu? Que outros sítios gosta na sua terra natal?
Foi outro ponto de viragem, sem dúvida. É de 2019 e refere-se ao Bairro da Ponte das Caldas, onde cresci até aos 15 anos . É uma homenagem ao lugar onde te defines como pessoa.
Por outro lado, é também uma metáfora para a mistura do fado com a música eletrónica. A ponte liga as duas margens do rio, podendo juntam as coisas opostas. Tive nesse trabalho as colaborações de, entre outros, Carlos do Carmo, Paulo Carvalho, Ana Moura, Slow J, Chullage, Capicua, Gisela João e Camané.
Aprecio o Parque, a Praça e a Foz do Arelho. Vou de bicicleta ver o mar e é o que basta para me inspirar.

Já atuou em vários palcos importantes do país. Falta algum?
Creio que ainda me falta atuar nos festivais de Vilar de Mouros e Paredes de Coura. Espero poder continuar a trabalhar na minha música e também a colaborar com outros artistas. Por agora divido-me entre DJing e a produção musical. Não faço conta de me reformar tão cedo! ■

- publicidade -