“Jornais regionais do futuro” leva 200 pessoas ao CCC

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Painel de luxo discutiu o futuro do setor e apontou alguns caminhos, sobretudo ao nível da sustentabilidade
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No encerramento das comemorações do 97º aniversário, a Gazeta das Caldas, reuniu um painel de luxo para falar do futuro dos jornais.

A Gazeta das Caldas garantiu a presença, na passada terça-feira, no pequeno auditório do CCC de um verdadeiro painel de luxo para falar sobre “Os jornais regionais do futuro” e a qualidade dos oradores teve efeitos na assistência. Durante cerca de duas horas, os presidentes da Associação Portuguesa de Imprensa (API), João Palmeiro, e da ANACOM, João Cadete de Matos, o diretor da NOVA Information Management School, Miguel Castro Neto e a diretora de Políticas Públicas da Google Portugal, Helena Martins, discorreram sobre o futuro dos jornais. A iniciativa encerrou os festejos do 97º aniversário do jornal e pretendeu dar uma imagem do que será a imprensa no futuro.
A abrir o colóquio, o diretor da Gazeta, lembrou uma iniciativa realizada nas Caldas em maio de 1985, no qual o advento do computador na sociedade para dali a 5 a 10 anos deixou incrédula a plateia, mas concretizou-se. “E a Gazeta foi dos primeiros jornais a fazer essa revolução”, recordou José Luiz de Almeida e Silva, que foi um processo muito rápido. Hoje, os desafios são outros, com tendências disruptivas que se têm acentuado nos anos recentes e para as quais “nos temos que preparar para enfrentar”, afirmou.

João Palmeiro começou por falar da importância dos jornais regionais e, sobretudo, os que têm uma longa existência na memória histórica das suas comunidades. Uma memória que tem que ser “monetizada” e que já vale, nalguns casos, mais do que as assinaturas, o que pode fazer diferença no meio digital. A imprensa regional tem “um valor tão grande que a UNESCO reconhece que deve ser depositado no acervo da memória do mundo”, onde estão outros documentos históricos, afirmou o presidente da API.
Passando ao presente, e para um dos problemas mais atuais dos jornais regionais, que se prende com a deficiente distribuição das assinaturas pelos serviços de distribuição postal, o presidente da Anacom disse que este é um dossiê que está a ser trabalhado há anos. “O que a Anacom faz é impor objetivos que os jornais sejam entregues no dia seguinte e a empresa tem os meios para o fazer”, disse João Cadete de Matos, para quem a distribuição digital dos jornais é também importante e estão a ser dados passos para que a cobertura, quer da rede de fibra de ótica, quer da rede móvel, tenha máxima cobertura no país.
E olhando para o digital, atualmente o grande desafio dos jornais locais é conciliar a necessidade de estar online, com a dificuldade em gerar receita com essa presença. Helena Martins, diretora de Políticas Públicas da Google, disse que a gigante tecnológica surgiu para facilitar acesso à informação. Isso levou a alguns problemas, tendo em conta que, hoje, qualquer pessoa pode colocar conteúdo online e, muita dessa informação não é fidedigna. “Queremos realçar o conteúdo fidedigno, de fontes confiáveis”, salientou. Além disso, a empresa está a apoiar “jornais que buscam formas diferentes de inovar e buscam a transição digital”, mas também a formação a jornalistas para a utilização de ferramentas digitais, sendo uma das parceiras no Aveiro Media Competence Center.
Com um olhar mais apontado ao futuro, Miguel de Castro Neto, diretor da NOVA Information Management School falou de como a ciência de dados e a Inteligência Artificial (IA) podem ser ferramentas úteis aos jornais. A IA dificilmente pode substituir o jornalista, até porque “não podemos comparar conteúdo produzido por jornais e jornalistas, que têm curadoria e uma autoridade diferente”, mas “podemos ter textos em parte gerados por máquinas, o que liberta os jornalistas para investigação”, o que pode ser importante, sobretudo, em redações pequenas.
Voltando à imprensa local, o especialista em transição digital acredita que, mesmo neste cenário de globalização, a imprensa local vai crescer. “As pessoas querem, cada vez mais, saber o que se passa na sua comunidade. Querem mais interação, mais criação de laços, e a imprensa tem papel fundamental nesse objetivo”, sustenta.
Para tal, “tudo tem que ser feito para que os jornais se mantenham fortes”, defende João Cadete de Matos, pelo que “na lista de gestão de prioridades de um Orçamento de Estado sustentado pelos contribuintes, faz sentido ser inscrito nos programas de governação do estado e das autarquias o apoio aos jornais”.
João Palmeiro adiantou que a API está “a tentar convencer” o Governo que a dar benefícios fiscais nas assinaturas que apoiem a transição digital. Mas o modelo de governação dos jornais não deve limitar-se aos apoios públicos, “tem de haver disponibilidade do público para pagar por informação”, sustenta o dirigente, acrescentando que o aumento de custos como o papel, que “subiu 1000% em ano e meio” são pregos no caixão no pluralismo.
No encerramento do colóquio, Conceição Henriques, vereadora da Cultura da Câmara das Caldas da Rainha, salientou o papel da Gazeta, cuja história “se confunde com a da cidade”. “A Gazeta percorreu quase todo o século XX, é memória coletiva local de praticamente um século”, afirmou. A autarca realçou que a comunidade deve “acarinhar” a Gazeta, “promover o seu nome, pugnar pela sua continuidade” e, sobretudo, “devemos lê-la”.

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