“Morada” vai estrear nas salas de cinema portuguesas a 16 de fevereiro depois de ter estreado no Uruguai
”Morada”, realizado por Eva Ângelo, vai estrear nas salas de cinema portuguesas, a 16 de fevereiro, depois de ter tido a sua estreia mundial absoluta na 40ª edição do Festival Cinematográfico Internacional do Uruguai. “Fiquei muito feliz por ter estreado neste importante festival do outro lado do Atlântico”, disse Eva Ângelo à Gazeta das Caldas.
O seu filme documental, de 86 minutos, produzido pela Terratreme, parte de conversas da realizadora com um grupo de mulheres cinéfilas, que têm atualmente entre os 70 e os 94 anos. Em comum estas senhoras têm o facto de estarem inscritas na disciplina de Cinema, numa Universidade Sénior do Porto.
A caldense quis conhecer esta dezena de mulheres que ainda guardavam outra surpresa: tinham pertencido ao Cineclube do Porto, o primeiro a formar-se no país e que foi fundado em 1945. “E era uma alternativa ao cinema comercial da época”, contou a autora, acrescentando que as suas entrevistadas nasceram nos anos 30 e nos anos 40.
“A mais velha tem 94 anos”, referiu a autora que acabou por criar uma relação com estas espectadoras que vão ao cinema há várias décadas, dando ainda a conhecer um pouco mais a fundo o que era e ainda é o movimento cineclubista.
Em “Morada” as mulheres contam hábitos que se criaram ligados à programação regular e os sentimentos de pertença aos espaços habituais de exibição, que marcam esta geração em que o cineclubismo e o papel das associações foi muito significativo num período de grande repressão política. “Nos anos 30 e 40 os espaços de espetáculo portuenses dedicavam-se a passar regularmente cinema”, disse Eva Ângelo, recordando ainda que a resistência política e a cinefilia “eram práticas associadas a certos espaços de reunião”.
Segundo a caldense, “esta foi uma geração que viveu intensamente a experiência cinematográfica em contexto de sala” e não eram raras as vezes em que elementos da Pide rondavam aqueles espaços. Na mesma semana, estas senhoras iam várias vezes ao cinema. À terça iam ao Trindade, ao sábado ao Rivoli e nalguns dias iam várias vezes. Ao domingo assistiam à sessão do Cine Clube de manhã e depois viam filmes às matinés e à noite noutros espaços. “Morada” contou com uma sessão de ante-estreia com as protagonistas, a 5 de fevereiro, no Porto. A 16, estreia em salas de cinemas de Setúbal, Lisboa, Leiria e Porto.
Eva Ângelo saiu das Caldas há vários anos mas regressa regularmente pois tem cá família e amigos de longa data.
“A relação que mantenho com a cidade é muito afetiva”, disse a realizadora que não esquece o ensino secundário pois “tive professores ótimos, de Desenho, de Português e de Filosofia”. Diz que viveu uma boa experiência que já não se repetiu no ensino superior e ainda mantém amizades do secundário. Em 2010, Eva Ângelo apresentou o filme “Água no CCC feito a partir do “Vale”, um espetáculo comunitário da autoria de Madalena Vitorino feito e apresentado no CCC. “Foi muito bom filmar e regressar às Caldas”, rematou a realizadora.■

Eva Ângelo
Realizadora
Eva Ângelo, 45 anos, é realizadora e montadora. Fez bacharelato em Fotografia e licenciatura em Design de Luz e Som pela Escola Superior de Música no Porto e em Design Gráfico e Multimédia no Centro Alquimia da Cor. Finalizou Mestrado em Antropologia – Culturas Visuais na Universidade Nova,em Lisboa. Trabalhou em imagem e montagem (2000 a 2018) e, desde 1999, nas áreas da imagem e documentação vídeo nas artes performativas. Desde 2008 que se dedica às recolhas mais etnográficas. A caldense iniciou o trabalho de autora na área do documentário em 2005. É autora de “Água” filme sobre o espetáculo comunitário “Vale” de Madalena Vitorino, com música de Carlos Bica e feito com caldenses, no CCC, em 2010.■