“O Caldas tem reputação regional, mas a sua dimensão é nacional”

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João Silva foi jogador do Caldas nas camadas jovens e regressa agora para coordenar a formação

João Silva é o novo coordenador da formação do Caldas e quer que o estatuto que o clube tem nos seniores seja replicado nos escalões jovens

João Silva é o novo coordenador do futebol juvenil do Caldas e chega com o objetivo de trazer mais ambição e sustentabilidade ao setor da formação. Antigo jogador dos escalões jovens do clube, trocou cedo os relvados pela via académica e pela paixão de orientar equipas. Depois de uma carreira marcada por experiências em clubes de referência, e também no estrangeiro, regressa determinado a impulsionar a formação alvinegra.

“Joguei no Caldas desde os petizes até aos iniciados, mas percebi que não teria muito jeito para isto”, recorda. Fez uma pausa no futebol, interrompida quando foi estudar Ciências do Desporto na Universidade da Beira Interior, na Covilhã. Foi lá que começou a ganhar experiência como treinador, primeiro nos benjamins, depois nos juniores do Sporting da Covilhã. Chegou a acumular as funções com as de analista na equipa sénior, que terminou a II Liga no quarto lugar.

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Saiu da Covilhã para Lisboa, onde estagiou no Sporting. Foi adjunto de Paulo Nunes, atual treinador da equipa B do Al Hilal, da Arábia Saudita, nos Sub-16 dos leões. Seguiram-se passagens pelo Alverca, onde contribuiu para a subida da equipa de juniores à primeira divisão nacional, e pelo Fátima, como treinador-adjunto no Campeonato de Portugal. Daí partiu para o Moreirense, onde esteve cinco anos com a equipa de sub-19. Depois de sair do Moreirense, integrou projetos da NF Academy, trabalhando em campos de treino na Dinamarca.

Foi ainda na Dinamarca que recebeu o convite do Caldas para assumir a coordenação do futebol juvenil. “Antes já acompanhava a formação do Caldas e percebia que havia margem para melhorar muita coisa. O clube funcionava um pouco em piloto automático e depois refletia-se em campo…”, disse. Isso leva a uma primeira mudança, que tem que ser na exigência. “O Caldas, em termos de envolvência, é um clube com uma reputação regional, e muito social, mas a sua dimensão efetiva é nacional. Isso obriga-nos a ser mais exigentes”, aponta.

Esta época terá, assim, algumas alterações, a começar na implementação de um modelo que reduza a dependência do recrutamento externo nos escalões intermédios, aumentando a sustentabilidade do futebol do Caldas. “Não quer dizer que não venham jogadores de fora, mas em vez de 12 ou 13 num escalão, como temos esta época nos iniciados A, queremos que sejam três ou quatro. Os jovens que começam no futebol 7 têm que ser preparados desde cedo para chegar aos iniciados, sem necessidade de ir buscar reforços”, afirma, acrescentando que os que chegam mais tarde têm que acrescentar valor.

Para isso, este ano haverá uma alteração na organização das equipas. “A equipa de iniciados C é só composta por atletas sub-13. A equipa de iniciados B é maioritariamente de primeiro ano e o objetivo é que o seja em exclusivo dentro de dois ou três anos”, aponta.

João Silva manifesta também preocupação com o risco de saturação dos jovens atletas, uma consequência que associa a modelos desajustados. “Há jogadores que chegam aos juniores, ou aos juvenis, saturados com o futebol”, alerta. Mais do que a vertente competitiva, o coordenador defende que o clube deve apostar no desenvolvimento pessoal dos atletas, proporcionando experiências enriquecedoras e motivadoras. O objetivo é que cada treino e cada época sejam valorizadoras, independentemente dos resultados, permitindo aos jovens crescerem não só como jogadores, mas também como pessoas, e mantendo viva a paixão que os trouxe ao futebol.

Para tal, serão implementadas algumas ações. Uma delas passa por um treino semanal conjunto para todas as equipas de futebol 5, 7 e 9, onde se irão trabalhar aspetos técnicos, de coordenação e de jogo. “Queremos que os treinadores conheçam todos os jogadores do clube e que os jogadores conheçam todos os treinadores. Não podem ser elementos estranhos entre si”, aponta.

O trabalho específico com guarda-redes também vai ser reforçado, com o regresso dos treinos no espaço dos “Guardiões da Mata”. Nestes dois projetos João Silva tem o apoio de Miguel Bastos, preparador físico da equipa sénior, que tem grande experiência no trabalho com jovens nas seleções nacionais.

Paralelamente, jogadores dos juniores vão dar apoio nos treinos de petizes e traquinas, passando valores e mística do clube às camadas mais novas. “É importante que os mais novos sintam essa ligação. Não queremos apenas que venham jogar pelo Caldas, queremos que venham aprender e crescer aqui”, observa. Outro aspeto que defende é que os jogadores não são de um escalão, ou de uma equipa. “Eles são do Caldas e têm que gostar de estar porque estão no do Caldas, e não por causa do treinador”.

Apesar da formação ser o centro do projeto, o coordenador sublinha que há ambição competitiva, sobretudo nas equipas de rendimento. “Um clube como o Caldas tem de ter os juniores A e os juvenis A no campeonato nacional. Não há outra forma de pensar. O objetivo é subir e consolidar essas equipas nos patamares competitivos adequados”, afirma. Mas não se fica por aí. Para o técnico, as equipas B também têm que ter objetivos. “São equipas de desenvolvimento e a sua função é fornecer jogadores às equipas A. Mesmo que não obtenham tantos resultados, o objetivo é promover atletas”.

Quanto às condições de trabalho, admite que não são ideais, mas relativiza. “Não falta nada essencial. Temos mais material aqui do que tinha no Moreirense, em que o patamar de exigência era a 1ª Liga. O importante é termos responsabilidade e sabermos tirar o máximo dos recursos disponíveis”, sublinha. E o mesmo acontece ao nível da gestão de espaços, João Silva realça que foi possível, com o mesmo número de equipas e campos, aumentar para três os treinos semanais dos Benjamins. Além disso, “só a equipa de iniciados C não consegue treinar em campo inteiro, todas as outras treinam uma vez por semana”.

No fim, “aquilo que nós pretendemos é que surjam mais Militões, mais André Simões, mais Bruno Franciscos, que, no fundo, são representativos do que é a identidade do clube”, conclui.

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