Mafalda Milhões premiada pela cátedra da Unesco no Brasil

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    A ilustradora e editora Mafalda Milhões com Volnei Canônica, presidente do Instituto de Leitura Quindim | D.R.

    A ilustradora e livreira Mafalda Milhões foi a primeira portuguesa a vencer o Prémio Cátedra da Unesco, no Brasil, um concurso que premeia anualmente a produção mais relevante de literatura infantil e juvenil no país. Entre centenas de obras, “Uma biblioteca é uma casa onde cabe toda a gente” foi distinguida na categoria selecção

     

    Uma dúzia de especialistas lê centenas de livros e faz as suas resenhas críticas, valorizando a linguagem verbal, visual e gráfica na sua relação ético-estética, elegendo os melhores nas categorias Distinção, Hors Concours e Selecção. Foi nesta última categoria que a ilustradora e livreira Mafalda Milhões, uma transmontana residente nas Caldas da Rainha, foi premiada com a sua mais recente obra “Uma biblioteca é uma casa onde cabe toda a gente”, publicado pela editora Abacatte.
    O livro, que em Portugal foi editado em 2013 com capa dura, teve nova edição no Brasil o ano passado, num formato maior e com capa mole, e foi lançado no Instituto de Leitura Quindim, um espaço idealizado por Volnei Canônica, que foi director do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca, do Ministério da Cultura, durante a presidência de Lula da Silva. Foi, aliás, este especialista em literatura infantil e juvenil que, depois de ter estado na livraria de Mafalda Milhões, nos Casais Brancos (Óbidos), regressou ao Brasil com vários exemplares para colocar na biblioteca do instituto, pois achou que o “livro era fantástico”.
    “A Mafalda [Milhões] dá uma importância grande aos leitores e aos personagens, além das cores que contrastam, apresenta pessoas do dia-a-dia da sociedade, mostrando que a biblioteca é o equipamento cultural mais democrático que existe no mundo, um espaço onde cabe toda a gente”, diz Volnei Canônica, acrescentando que o livro apresenta uma visão de inclusão, de democracia e valorização da criança. O especialista, que esteve um papel importante no aparecimento das bibliotecas comunitárias no seu país, destaca que o prémio arrecadado pela ilustradora portuguesa é “super importante” e torna-a “muito conhecida, e apenas com um único livro publicado no Brasil”.
    Os caminhos de Volnei Canônica  e Mafalda já se cruzam há uns tempos e, no último ano o brasileiro esteve a participar no Folio, onde Mafalda Milhões assegura a curadoria da Ilustração. Têm agora um projecto em conjunto, em que ele escreve e ela ilustra.
    Volnei Canônica partilhou ainda com a Gazeta das Caldas que tinha dado recentemente o contacto da Mafalda a uma escritora brasileira, que mostrou interesse pelo seu trabalho para as ilustrações do seu livro.

    PANDEMIA IMPOSSIBILITA REGRESSO AO PAÍS IRMÃO

    A entrega dos prémios decorreu a 6 de Março, mas Mafalda Milhões não chegou a ir para o Brasil, devido à pandemia da Covid-19. Para além da cerimónia, a livreira iria dinamizar um conjunto de actividades, entre elas a sessão inaugural de um curso de formação para 160 professores no Instituto Quindim. Estava convidada para o Festival de Literatura Infantil de Luziânia, de novo apoiada pelo Instituto Camões e pela Embaixada de Portugal no Brasil, e faria a volta por Brasília, Caxias do Sul, Porto Alegre, Belo Horizonte e Luziânia (sempre a trabalho com acções programadas em diferentes contextos).
    A autora já tinha estado no Brasil o ano passado, a convite de Maria Antonieta Cunha, curadora da Feira do Livro de Joinville, onde Portugal foi o país em destaque. Além desta cidade, passou também por Brasília, Porto Alegre e Caxias, onde fez cursos de mediação de leitura em associações, Organizações Não Governamentais, favelas e em escolas particulares. Também participou em encontros de autores, divulgou o livro e deu workshops. A obra “Uma biblioteca é uma casa onde cabe toda a gente”, que está selecionada no clube de leitura Quindim, começou a ser “barrado” em algumas escolas pelo governo de Jair Bolsonaro. Isto porque, com a adaptação ao português do Brasil, foram alteradas algumas palavras por causa do seu significado, como foi o caso da mudança de copinchas para camaradas, palavra que o governo associou ao comunismo. Também o facto de