
Adelino Santos é um exemplo de dedicação ao clube, que serve desde os anos 1980
Adelino Santos, ou como é conhecido no mundo da bola, Senhor Adelino ou Ti Adelino, celebrou recentemente o seu 90º aniversário e decidiu distribuir bolas de Berlim pelos atletas, treinadores e diretores das várias equipas da formação do Caldas Sport Clube, emblema que serve desde a década de 1980.
“Como um bolo nunca ia dar para todos, decidi levar bolas de Berlim”, contou o massagista à Gazeta das Caldas, explicando que encomendou perto de 400 bolos.
Figura querida entre os atletas de todas as idades, o Ti Adelino é uma referência do pelicano, que espera continuar a servir. “Estou no Caldas porque me sinto bem e sinto que me estimam, porque fiz amigos e porque tenho gosto no que faço. Enquanto puder, quero lá estar, porque é realmente a minha segunda família”, diz, com toda a vivacidade e emoção.
Todos os dias da semana passa cerca de quatro horas na Quinta da Boneca, onde treinam as camadas jovens. Ao fim de semana há os jogos e aí, mais precisamente no banco do Caldas, é costume encontrar esta figura singular, afável e sempre sorridente e bem-disposto. De corta-vento vestido e boné na cabeça, com a mala de massagista na mão, não há chuva que o pare na sua corrida em direção a algum jogador que esteja no chão a contorcer-se com dores. “Graças a Deus tenho tido sorte e as lesões têm sido ao nível de luxações, entorses e essas coisas”, esclarece.
Quatro décadas de dedicação
A ligação ao Caldas começou nos inícios da década de 1980. “O 1º sargento Sousa fazia parte da Direção do clube e pediu-me para vir ajudar”, recorda. E assim foi. O então militar “saía do quartel e ia para o Campo da Mata prestar assistência aos Dr. Gambino e Lucilino” e não voltou a sair.
Nascido em 1931, em Penalobo (Sabugal), Adelino Santos tornou-se militar aos 21 anos. Foi nas lides militares que aprendeu sobre saúde e foi nessa condição que foi para a Índia (em 1960), onde enfrentou a invasão de Goa e foi feito prisioneiro durante seis meses. “Nunca me trataram mal, até porque fazia serviço de saúde para eles”, recorda. Também não esquece que quando regressou a Portugal havia quem acusasse os militares que haviam sido feitos presos de não terem defendido a pátria. Uma ideia que só quem não lá estava, é que poderia ter. “Nós não chegávamos a mil homens e eles eram dezenas de milhares, com tanques e aviões”, lembra, acrescentando que ainda hoje se recorda de assistir aos bombardeamentos do aeroporto e do navio Afonso Albuquerque.
Durante o conflito, teve uma madrinha de guerra, de nome Carminda dos Santos, que era natural da Marinha Grande, e com quem se viria a casar. As Caldas foram, então, a escolha do casal para iniciar a vida. Juntos tiveram duas filhas, que já lhes deram três netos.
Entretanto, em plena Guerra do Ultramar, Adelino Santos foi mobilizado para Moçambique e, mais tarde, ainda durante esse conflito, seguiu para o Hospital Militar da Guiné, onde estava quando se deu a revolução dos Cravos. “Estava quase a acabar a comissão quando aconteceu o 25 de Abril”, relembra. “Largámos tudo e se, por um lado, custava pelo esforço que já tínhamos feito e pelas vidas perdidas até então, por outro era a evolução natural do mundo”, analisa.
Ainda na vida militar, e já em democracia, foi como voluntário para Macau durante dois anos, antes do regresso às Caldas, onde terminou o seu tempo de tropa, em 1988. A partir daí passou à reserva, o que lhe possibilitou estar mais ativo no clube.
Nestas praticamente quatro décadas de ligação ao Caldas, o Senhor Adelino tem vindo a acompanhar várias gerações das camadas jovens do clube e, hoje em dia, é muito acarinhado por quem com ele conviveu. “Não tenho inimigos! Alguns dos atletas, hoje em dia, passam por mim na rua e cumprimentam-me, mas já não me consigo lembrar de todos, porque vão crescendo e vão ficando diferentes”, explica o massagista.
O clube também reconheceu os méritos desta ímpar figura e entregou-lhe, já na temporada 2014/15, uma taça com uma frase que resume este bonito percurso: “A definição de obrigado não chega para agradecer tudo aquilo que ofereceu ao nosso clube. A gratidão será eterna”, lê-se no troféu, que guarda com carinho logo à entrada da sua casa, junto das fotografias de família. Afinal, é ali que o troféu está bem: porque o Caldas também faz parte da família. ■