Caldas SC dá literacia financeira aos seus atletas

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Gazeta das Caldas assistiu à aula dada à equipa de Sub 17 do Caldas
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É o primeiro clube de futebol do país a aderir ao programa da Associação Portuguesa de Bancos. Ação era só para os jovens, mas jogadores da equipa sénior também quiseram participar

Rui Lourenço é dirigente do Caldas SC e é voluntário no programa “No Banco da minha €scola”, o programa de literacia financeira da Associação Portuguesa de Bancos (APB). É sexta-feira, início da noite, na sala de conferências do Campo da Mata prepara-se para dar o primeiro de três módulos à equipa de Sub 17 do clube.

A lição começa com a exibição de um vídeo, “Eu vou levar”, da série “Eu e o meu dinheiro”, produzida para o Banco Central do Brasil. A história é a de dois amigos que têm o mesmo emprego e os mesmos rendimentos. Ambos vão comprar um par de ténis, mas ao passo que um compra por impulso e, muitas vezes, o que não precisa, o outro é ponderado na gestão do seu dinheiro.

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“Qual é a diferença entre os dois, se ambos ganham exatamente o mesmo?”, pergunta Rui Lourenço aos jovens atletas. Para a seguir responder: “um tem uma forma de gerir o dinheiro mais organizada. Definiu prioridades, poupou e conseguiu comprar o que precisava. O outro ia a uma festa, viu uns ténis giros, fez a compra por impulso quando o que precisava era de uma camisa, que já não conseguiu comprar”.

O segredo para gerir bem o dinheiro é definir o que é necessidade e o que é desejo, explicou, depois, aos jovens jogadores do Caldas. “Nem sempre quem ganha mais é quem tem mais dinheiro”, completou, usando como exemplo prático o caso de Cândido Costa. O antigo jogador assumiu publicamente ter tido dificuldades financeiras quando acabou a carreira de futebolista por não ter gerido bem os rendimentos quando era profissional de futebol.

A palavra-chave é poupança. “E o conceito de poupança é guardar dinheiro para precaver situações no futuro, seja satisfazer um desejo, ou uma necessidade”, continuou. “A forma como o fazem são vocês que definem”, disse o formador aos jovens, “e pode ser com uma conta no banco, ou pode ser com um mealheiro em casa”.

O passo seguinte é explicar o que é um orçamento familiar: identificar os rendimentos, sejam eles fixos, como os salários, ou variáveis, como prémios, resultados de investimentos, ou outros; e também as despesas, desde as correntes, as que são certas, como a renda ou prestação da casa, contas da eletricidade, água, comunicações, que têm que estar sempre salvaguardadas, às variáveis, como uma reparação do carro, comprar roupa, ou uma ida ao restaurante.

Para os jovens que já recebem mesada, ou semanada, o processo é idêntico. “Vocês podem ponderar se tudo o que compram, precisam mesmo de comprar. Com o que poupam e o que eventualmente recebem nos anos, ou no Natal, podem juntar para comprar um telefone que gostam, ou ir passar férias com os amigos”, exemplificou Rui Lourenço.
Para ajudar a controlar os gastos, o formador voluntário sugere o site todoscontam.pt, onde se podem colocar e controlar todas as despesas realizadas num período. “Todas as despesas que fizeram por impulso, conseguem canalizar para poupança”, reforça.

Mário Iurcu, 16 anos, é capitão da equipa e estudante de Economia. Considera que a literacia financeira “é algo que é muito importante para o nosso futuro, saber organizar as despesas, definir o que realmente precisamos e o que podemos poupar” e afirma que faz falta estes conteúdos serem abordados na escola. “Todos vamos precisar de saber gerir o dinheiro, não é só quem está em Economia”, nota. “Por vezes caímos na tentação de comprar coisas pelo impulso, por exemplo gostamos de umas chuteiras e vamos comprar, mesmo já tendo dois ou três pares, e se calhar até precisamos é de outra coisa”, pelo que a iniciativa do clube é bem acolhida. “Como capitão, digo muitas vezes que este clube não nos ensina só a jogar futebol, mas ensina-nos a ser homens, tanto dentro do campo, como fora”, realça, dando este programa como mais um exemplo.

Caldas é pioneiro
Rui Lourenço foi o responsável por trazer o projeto “No Banco da minha €scola” para o Caldas. “Estando eu associado a este projeto e colaborando também com alguns escalões de formação do clube, pensei porque não desenvolver este projeto no Caldas”, conta. Apresentou a proposta à direção, esta foi bem acolhida e deu origem ao projeto “Do Campo para o Banco”. “A iniciativa foi bastante valorizada pela APB, tendo o impacto de o Caldas ser o primeiro clube a nível nacional a promover sessões de literacia financeira para os seus atletas”, acrescenta.

O programa insere-se no compromisso do clube de formar os seus atletas para lá do futebol. “O clube já disponibiliza várias valências como Apoio ao Estudo, Gabinete de Apoio Psicológico entre outras. Esta é mais uma “ferramenta”, que lhes trará várias vantagens tanto a curto como a longo prazo”, realça Rui Lourenço.

Por norma, este programa da APB é dirigido às escolas, a alunos do 7º ao 12º ano. Nas Caldas, apenas o Colégio Rainha D. Leonor aderiu. No clube, foi adaptado dos Sub 15 aos Sub 19. “Identificámos estes escalões para adquirirem hábitos de poupança e gestão de orçamento familiar em idade pré-universitária. Muitos dos atletas irão estudar para outras cidades e esta informação será bastante útil para saberem gerir as suas despesas e o seu dia a dia”, refere Rui Lourenço.

Os conteúdos ministrados aos atletas são disponibilizados pela APB e “seguem as orientações programáticas do Referencial de Educação Financeira, promovido pelo Plano Nacional de Educação Financeira, do qual a APB é parceira”, nota o formador. Os conteúdos abordados são planeamento e gestão do orçamento familiar, o sistema financeiro e os produtos financeiros básicos e como prevenir a fraude online.

Nas sessões já realizadas, “a adesão e interesse dos jovens tem sido surpreendente. Muitos deles partilham já os seus hábitos de poupança, as suas preocupações, os seus sonhos e objetivos e colocam questões bastante pertinentes”, refere.

Dado que o programa é destinado aos jovens da formação, Rui Lourenço acabou por ser surpreendido pelo pedido dos jogadores da equipa principal para terem também formação nesta área. “Foi com grande satisfação que recebemos o seu interesse e estamos a trabalhar na alteração de alguns conteúdos para que se adequem melhor ao perfil e idade dos atletas”, conta.

Entre os temas a abordar com os seniores estarão a identificação do perfil de investidor, objetivos e horizonte temporal de investimento, classes de ativos, importância da diversificação e identificação de temas e tendências de futuro que terão forte impacto na gestão dos investimentos.

Rodrigo Amaro, presidente do Caldas, afirma que esta iniciativa se enquadra naquilo que o clube faz “há muitos anos. O Caldas é muito mais que um clube, é também uma escola e, formos a ver bem, os nossos atletas passam aqui muito do seu tempo e adquirirem neste contexto grande parte dos valores e da aprendizagem que assimilam para o resto da vida”.

Rui Lourenço é dirigente do clube e formador voluntário no programa da APB
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