Combate aos incêndios florestais vai ter meios reforçados durante o Verão

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2016-04-29 Primeira.inddCaldas da Rainha e Óbidos vão ter durante os meses mais quentes do Verão 10 bombeiros em duas equipas de prevenção em permanência para o combate aos incêndios. O distrito de Leiria tem o maior dispositivo operacional de sempre, com o objetivo de manter a área ardida abaixo da média nacional.
Joel Ribeiro
As nove corporações do sul do distrito (Caldas da Rainha, Óbidos, Alcobaça, Benedita, Bombarral, Pataias, Nazaré, Peniche e S. Martinho do Porto) vão ter duas equipas com cinco elementos cada na fase de maior risco do dispositivo especial de combate aos incêndios florestais, a fase Charlie que abrange os meses de Julho a Setembro. Nas Caldas, o dispositivo vai começar com uma equipa de cinco elementos de 1 a 15 de Junho, que depois será reforçada com uma segunda equipa de dois elementos de apoio logístico na segunda quinzena de Junho. Na fase Delta, em Outubro, o dispositivo volta a ser de uma equipa de cinco elementos. A corporação caldense vai estrear nesta época o seu novo carro de comando e comunicações. O comandante Nelson Cruz explicou à Gazeta das Caldas que este será o ano zero desta viatura e, por isso, esta será incluída em todas as ocorrências que envolvam mais de sete veículos em teatro de operações, o que servirá de treino para os operacionais. Esta viatura também estará à disposição do comandante distrital quando for solicitado. Em Óbidos o dispositivo será idêntico. A única diferença é que na fase Bravo, durante o mês de Junho, o dispositivo será sempre de uma equipa em prevenção permanente. Vai verificar-se “o maior dispositivo no distrito de Leiria desde sempre, com um ligeiro acréscimo face a 2014”, durante a fase Charlie, revelou o comandante distrital, Sérgio Gomes. Entre bombeiros, GNR, PSP e ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas) estão destacados 83 equipas 113 veículos e 509 operacionais. Este ano será a primeira a vez que a sul do distrito todas as corporações de bombeiros vão manter duas equipas em permanência, “o que nos permite projectar brigadas ou grupos de combate sem descurar a capacidade de ataque inicial, o que é fundamental em termos estratégicos”, sublinhou Sérgio Gomes. Foram constituídos também quatro pontos de pré-posicionamento, um deles em Alcobaça para a zona sul, dois em Leiria para a zona centro e outro em Pombal para o norte do distrito. O comando distrital vai ainda poder contar com um grupo de combate a incêndios florestais, um grupo de reforço e outro de ataque ampliado, constituído por nove corporações. Na fase Bravo, entre a primeira quinzena de Maio e o final de Junho, todos os concelhos terão pelo menos uma equipa à disposição. No total, estarão afectos ao dispositivo 364 efectivos em 55 equipas e com apoio de 82 viaturas. Na fase Delta, de 2 de Setembro a 15 de Outubro, 47 equipas com 323 e 73 viaturas garantem que 90% do distrito tem pelo menos uma equipa no dispositivo. O dispositivo aéreo conta com dois helicópteros estacionados no distrito na fase Charlie, um bombardeiro médio em Pombal e um ligeiro em Figueiró dos Vinhos, ambos operados pelo Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS). Estes meios aéreos podem ser reforçados com os que estão disponíveis nos distritos vizinhos. Nas fases Bravo e Delta apenas o bombardeiro médio estará ao serviço. A apresentação do dispositivo a nível distrital foi feita no auditório da ETEO no passado dia 13 de Abril e contou com a presença do secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, com o comandante nacional de Operações Socorro da Proteção Civil, José Manuel Moura, o comandante distrital, Sérgio Gomes, e o presidente Autoridade Nacional de Protecção Civil, Francisco Pereira.
PREVENÇÃO E ATAQUE INICIAL FUNDAMENTAIS
As linhas estratégicas de actuação em caso de incêndio vão manter-se idênticas às dos últimos três anos, que deram bons resultados. Em caso de ignição, o ataque inicial será “imediato e musculado”, disse Sérgio Gomes. No mínimo serão enviados três veículos de combate, de diferentes corporações. Isto permite “triangular com outros corpos de bombeiros, sem que estes percam capacidade de ataque inicial [caso surjam outras ignições] e possam projectar equipas para outras zonas do distrito com alguma celeridade”, explicou o comandante distrital.
A detecção precoce é também muito importante para que os incêndios possam ser extintos de forma rápida e adequada. Sérgio Gomes adiantou que no ano passado 24% das ignições foram comunicadas pelos postos de vigia e que o número aumentou para os 35% em 2015, o que contribuiu para os bons resultados do distrito nestes dois últimos anos. Sérgio Gomes deu como exemplo o incêndio de Pedrogão Grande no ano passado, o de maior dimensão no distrito, que ao fim de 58 minutos tinha 250 operacionais e oito meios aéreos e esteve activo 12 horas. “Se tivéssemos vacilado no início teríamos muito mais tempo de incêndio”, sustentou. O mesmo responsável destacou que em 2014 o distrito de Leiria foi o que teve menor área ardida e em 2015, apesar das mais de 500 ocorrências, a área ardida ficou em 1.000 hectares (a média nacional nos últimos anos é de 4.000 hectares). O objectivo para a época de incêndios deste ano é minimizar as baixas entre os bombeiros e a formação tem sido um dos pilares deste ideal. Desde 16 de Outubro do ano passado foram realizadas 35 acções de treino no distrito, que envolveram mais de 450 operacionais. Jorge Gomes, secretário de Estado da Administração Interna, sublinhou os bons resultados do distrito de Leiria em termos de área ardida, mas também o facto de ser um distrito exportador de recursos humanos e materiais para apoio a outras regiões. Destacou também o trabalho de fiscalização realizado pelo GIPS e pelo Serviço de Protecção da Natureza (SEPNA) durante o período sem incêndios em zonas florestais. O governante referiu que numa primeira instância as ordens são para sensibilizar para a necessidade de limpeza dos terrenos, mas em comportamentos reincidentes a ordem é para aplicar coimas.

Tinta Ferreira pede incentivos para os bombeiros voluntários

O presidente da Câmara das Caldas, Tinta Ferreira, aproveitou a presença do secretário de Estado da Administração Interna para pedir ao governo a reposição da majoração do tempo de serviço dos bombeiros voluntários para efeitos de reforma. Os bombeiros tinham uma bonificação de 25% no tempo de reforma (na prática, por cada quatro anos de descontos, beneficiavam de mais um), mas perderam essa regalia em 2013. Tinta Ferreira pediu ainda o reforço das equipas de sapadores florestais e nova legislação para os sobrantes florestais (o material que sobra do abate de árvores, como os ramos mais pequenos), como forma de prevenção contra os incêndios florestais. Em relação aos bombeiros, o autarca caldense disse que era necessário melhorar os incentivos e os direitos dos voluntários. “Se não criarmos condições de incentivo, daqui a uns anos não temos interessados em ser bombeiro voluntário”, sublinhou. Tinta Ferreira propõe que se reactive a majoração do tempo de serviço dos bombeiros, benefício que foi retirado em 2013. Jorge Gomes disse que também não está satisfeito com o facto de os bombeiros voluntários terem perdido benefícios no passado. Lembrou que o Orçamento de Estado de 2016 repôs a isenção de taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde e adiantou que a majoração de 25% no tempo de serviço para efeitos de reforma está em discussão com o Ministério da Segurança Social. Não se comprometeu, contudo, com datas para a reposição da majoração. O secretário de Estado salientou ainda as medidas de apoio às associações humanitárias e câmaras municipais com a isenção de pagamento do ISV sobre veículos operacionais e de transporte de doentes. Tinta Ferreira sugeriu ainda ao membro do Governo o reforço dos agentes de segurança e de equipamento de investigação na área dos incêndios. “Os incendiários são dificilmente identificados, fazem-se várias tentativas e não se consegue saber onde andam e quem são”, referiu. Pediu ainda o reforço do número de equipas de sapadores florestais, pois “são importantes para a prevenção e combate aos incêndios”, considera. E também apelou ao reforço da legislação quanto à trituração dos sobrantes florestais e respectivo encaminhamento. Sobre estes temas, Jorge Gomes escudou-se no facto de não serem assuntos da sua tutela. No entanto, adiantou que o Ministério da Agricultura está a estudar tanto o reforço das equipas de sapadores florestais, como a questão dos sobrantes. “É material combustível, que é perigoso, mas cuja queima produz energia que pode ser aproveitada”, realçou.