Em Óbidos o bom tempo levou uma multidão aos festejos

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Este ano a celebração juntou centenas de pessoas
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A tradição do Santo Antão em Óbidos manteve-se, com alertas para o estado de degradação da capela no topo do monte

Faça chuva ou faça sol, o cenário repete-se, mas difere na dimensão. Este ano, com uma temperatura aceitável e o sol, foram centenas de festeiros que subiram os 150 degraus para chegar à capela de Santo Antão, em Óbidos. A vista é um dos pontos sempre salientados, quer por quem aqui nunca veio, quer por quem não perde um ano das comemorações.
Mal estacionamos, na base do monte, começamos logo a ouvir música. A subir encontramos farturas e churros, mas também queijos e enchidos. Na subida cruzamo-nos com várias pessoas, de diferentes gerações. Há quem suba de bicicleta, mas também quem o faça de carro ou mota, sendo que a grande maioria faz o caminho a pé (em anos em que a chuva torna o caminho enlameado, já houve tratores a levar as pessoas). Junto à capela uma multidão canta e dança. No ar vemos o fumo e sentimos o cheiro das várias fogueiras e grelhadores.
No meio da animação encontramos Arlinda Ribeiro, obidense que vem ao Santo Antão desde criança. “Fui batizada no dia de Santo Antão e tenho fotografias aqui com cerca de dois anos”, conta. “Lembro-me de um dia, há muitos anos, quando tinha talvez 17 anos, ainda não havia o depósito de água e não se chegava aqui de carro, depois de várias fogueiras, chouriços e vinhos tintos, entrei numa carroça com um senhor daqui e fomos até à Zaira, nas Caldas”, recordou. “Há uns anos estava aqui na festa a pensar que, além dos carros, nada mudou e perguntei a um amigo meu que me respondeu que a única coisa que tinha mudado tinha sido o padre. Isso é maravilhoso, é a única coisa de verdadeiro cariz de cultura popular e religiosa que acontece no concelho de Óbidos há 500 anos, junto com a batatada no Pinhal são as duas únicas festas de cariz popular que aqui acontecem, tudo o resto são floreados para o turista em que nada tem verdade, é consistente ou tem conteúdo”, afirma, notando que encontra aqui as pessoas da sua infância. “A importância disto é secular”, diz. Esta obidense aponta ainda a existência “do retábulo do século XVI de pintura sobre madeira e do santo original do século XIV talhado na pedra, com uma igreja a cair”, sugerindo que a autarquia deveria “pôr os olhos numa das últimas coisas que é, de facto, verdade, cultura e identidade”.
É precisamente no interior da capela que encontramos Floriano Almeida, a colocar as velas pelos seus animais. “Não sou natural de Óbidos, mas vim morar para cá desde que casei e venho desde então manter a tradição, há já 45 anos”. Atualmente tem quatro gatos, um cão e várias galinhas, mas já teve gado. “Continuo a vir, é uma forma de recordar e manter a tradição e de pedir uma ajuda para a proteção dos nossos animais”. Por outro lado, é também um momento de convívio e de festa, porque “antigamente havia muito pouco tempo para descansar e as pessoas aproveitavam as festivididades religiosas”. Este penichense gostava que as pessoas procurassem “manter a tradição, mas que não se esqueçam de quem motiva os festejos, quer seja do Santo Antão ou outro Santo, porque muitas vezes festeja-se, por exemplo, o Natal, mas esquece-se o aniversariante”. Elogiando o local da capela, que “é um sítio espetacular, com uma paz enorme, quando não está cá ninguém e é sempre bom vir cá”. Também defende que “a igreja precisa muito de obras, é urgentíssimo, porque os telhados e o piso precisam” e “quanto mais degradado estiver, mais difícil será recuperar. É bom que se pense numa forma de contribuir e participar nessa recuperação, não sei quem terá a iniciativa, se o patriarcado ou a Câmara”, referiu.
Presença assídua nos últimos anos das celebrações é Sandra Lourenço, do Bombarral. É comerciante e ao Santo Antão traz bolos tradicionais, como as cavacas e os beijinhos, frutos secos, mas também as chouriças e pão caseiro. Esta foi a 14ª vez e o negócio tem corrido bem. “Uns anos são melhores do que outros, mas este ano está muita gente”, realçou. A venda é o objetivo da ida ao Santo Antão, “mas acaba-se por entrar no espírito da festa!”, exclama. ■

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