Eleições agendadas para a próxima semana disputadas por duas listas, com visões de gestão distintas. Conheça melhor as diferenças entre os projetos “Montepio XXI” e “Por um novo Montepio”

As eleições para o triénio 2021-2024 na associação mutualista Montepio – Rainha D. Leonor estão agendadas para o próximo dia 12 de fevereiro, mas, na verdade, começaram há meses, ainda antes de se saber que o ato eleitoral teria de ser adiado devido à pandemia.
A entrada em cena de uma lista liderada pelo médico Francisco Rita, que enfrenta o elenco de João Marques Pereira, que se recandidata a mais um mandato, mostrou que a instituição vive um clima de tensão interna, com divergências profundas ao nível da gestão e da visão de futuro de uma entidade com mais de século e meio de serviços prestados à comunidade, cerca de 7 mil associados e uma situação financeira que inspira cuidados.
Um dos principais pomos de discórdia entre as duas listas prende-se com a parceria para o novo hospital, investimento adiado há anos e que é visto como essencial, para melhorar a qualidade dos serviços de saúde prestados por uma instituição que tem vindo a ser preterida por muitos caldenses, que encontram noutras unidades de saúde os cuidados de que necessitam.

Conselho de administração tem acordo com Sanfil para novo hospital, mas a lista adversária quer arrumar a casa e só depois procurar
um parceiro

Nesse sentido, a lista A, intitulada “Montepio XXI”, tem um acordo desenhado com um grupo privado, a Sanfil, para avançar com uma parceria que permita desenvolver o projeto. De resto, só o adiamento das eleições impediu a assinatura do contrato.
Ao invés, a lista B, com o manifesto “Por um novo Montepio”, considera primordial arrumar a casa, introduzir alterações ao nível dos serviços prestados e, depois, encontrar um parceiro que crie condições para uma nova unidade hospitalar.

Lista A

Assembleia Geral Carlos Querido (presidente), Telmo Carlos e Luís Miguel Patacho (secretários)
Conselho de Administração João Marques Pereira (presidente), António Graça Santos, Jorge Redondo (vogais), Francisco Cera e António Carvalho (suplentes)
Conselho Fiscal Paulo Sousa (presidente), Carlos Pereira (secretário), Filipe Mateus (relator), Joaquim Beato Caetano e Joaquim Fragoeiro (suplentes)
Conselho Geral Alberto Reis Pereira, Jorge Sobral, Orlando Sousa Santos, Luís André Filipe, Carlos Gouveia da Silva, António José Monteiro, Fernando Barosa Ferreira, Jaime Costa, António Fernando Castelhano, José António Sousa; Emanuel Marim, Francisco Vogado, Manuel Vasconcelos, Alberto Gaspar e Sérgio Ribas (suplentes)

 

 

 

Lista B

Assembleia Geral João Sá Nogueira (presidente), Nuno Miguel Ribeiro e António Figueiredo Lopes (secretários)
Conselho de Administração Francisco Rita (presidente), Paulo Ribeiro e Maria Fernanda Gonçalves (vogais), Filipe António e Rui da Bernarda (suplentes)
Conselho Fiscal Sabrina Ribeiro (presidente), Nuno Miguel Gonçalves (secretário), Maria Teresa Amaral (relator), Luís Miguel Sousa e Boaventura Nogueira (suplentes)
Conselho Geral José Manuel Netas, José Luís Ferreira, António Hilário Ferreira, António Alves Dias, Tomás Ladeira Baptista, Luís Rolim Oliveira, José Marques Filipe, Maria Dulce Patronilho, Ana Margarida Ferreira e Eugénia Maria Isidoro; Maria Lurdes Santos, Filipa Montez Santos, Ricardo José Gomes, Ana Paula Canas, Vanessa Gonçalves Santos e Alfredo Isabel (suplentes)

 

É a política…
Além de outras matérias sensíveis relativas à gestão da instituição, há outro fator que entrou em discussão neste despique e que ganha maiores proporções por este ser um ano de eleições autárquicas.
Mesmo que negada de forma enfática, a presença, sobretudo, de militantes e simpatizantes de PS e PSD nas listas fizeram ressurgir fantasmas de interferência política na gestão do Montepio, o que tem alimentado o debate público.
João Marques Pereira deixa críticas implícitas aos opositores internos, ao considerar que a lista concorrente “foi concebida num contexto de interesses pessoais e/ou corporativos”. “Confrontados com uma dinâmica de modernidade seguida por esta administração, perceberam que as suas situações de privilégio estariam em causa”, afirma o presidente do Conselho de Administração, que acusa Francisco Rita de “recorrer a alguns elementos de um partido político como suporte”, de forma a garantir “a manutenção desses privilégios”. “Esta opção iria determinar a captura do Montepio por outros interesses, que não são os dos seus sócios”, observa o dirigente.
Em resposta, Francisco Rita considera que estas declarações “são vazias e não têm cabimento”. “É vergonhoso e serve, apenas, para desviar atenções”, lamenta o clínico, recordando ter “uma vida de trabalho de 40 anos” na saúde: “São ataques tristes, mas não vou entrar por aí. Tenho-me referido apenas a problemas funcionais da instituição, pois o Montepio tem estado entregue a si próprio, em auto-gestão”.
O médico, que trabalhou durante três décadas na instituição, prefere valorizar outros aspetos. “Temos uma lista mais jovem, com várias mulheres, e com pessoal da área da saúde, médicos, enfermeiros e pessoal cuidado. Estes são fatores diferenciadores entre as duas listas. Esta é uma lista para ir trabalhar. Precisamos de pessoal do terreno”, remata. ■

 

João Marques Pereira, lista A

“Novo hospital vai concretizar lógica de modernização da instituição”

Que prioridades tem para o mandato, caso seja eleito?
Trouxemos o Montepio para o século XXI, melhorando a segurança, gestão financeira, recursos humanos, a comunicação interna e externa, as infraestruturas da Casa de Saúde, das residências assistidas e do lar de idosos. No próximo mandato esta lógica de desenvolvimento e modernização vai concretizar-se através da construção, em parceria, do novo Hospital do Montepio Rainha D. Leonor, da criação de um museu do Montepio, da reconversão da Casa de Saúde e novas residências assistidas.

Que diagnóstico faz ao estado de saúde do Montepio?
O passado mostrou graves insuficiências e omissões ao nível da gestão dos recursos. Era patente a inexistência de uma estrutura organizada de gestão. É urgente fazer uma abordagem séria e coerente ao conteúdo dos acordos com diversos colaboradores e prestadores de serviços, atenuando uma realidade que tem contribuído, em larga medida, para a persistente situação deficitária da Casa da Saúde.

Que modelo de gestão defende para a Casa da Saúde?
A construção e abertura, em parceira, do Novo Hospital, vai proporcionar grandes benefícios para os sócios do Montepio, para os colaboradores e para a comunidade em geral, num modelo de gestão moderno, qualificado e eficaz. As instalações da atual Casa de Saúde serão objeto de uma profunda requalificação, mantendo a sua vocação na prestação de cuidados continuados de diversa natureza, serviços ao domicílio, medicina dentária e outros.

Muito se tem falado sobre envolvimento de partidos nestas listas. Como classifica essas críticas?
É realmente preocupante a possibilidade de partidos, sejam eles quais forem, apoiarem listas ao Montepio, sempre apartidário e, talvez por isso, tão ativo e prestigiado há tantos anos. Todavia, não cremos que seja este o caso. ■

 

 

 

Francisco Rita, lista B

“Queremos voltar a trazer o Montepio para o topo da qualidade de serviços”

Que prioridades tem para o mandato, caso seja eleito?
Voltar a trazer o Montepio para o topo da qualidade na prestação de serviços médicos, como era unanimemente reconhecido. Para tal, será primordial colocar em funcionamento o novo hospital o mais rapidamente possível, com os parceiros certos e com os interesses dos sócios e da região bem defendidos. A matriz assistencial nos 160 anos do Montepio sempre foi a saúde, e nós respeitamos isso, e queremos dar-lhe continuidade.

Que diagnóstico faz ao estado de saúde do Montepio?
Consideramos que tem uma doença crónica grave, mal tratada, devido a adiamento sucessivo do tratamento mais indicado, nomeadamente instalações condignas, e envolvimento dos seus profissionais na resolução das queixas que têm levado a défices constantes de exploração, só atenuados com venda de património.

Que modelo de gestão defende para a Casa da Saúde?
No imediato o Lar, o Condomínio e a atual Casa de Saúde terão gestão direta feita por nós, focando-se posteriormente esta última nos serviços continuados. O novo hospital terá gestão mista, com um parceiro que nos dê segurança.

Muito se tem falado sobre envolvimento de partidos nestas listas. Como classifica essas críticas?
Lamento-as, porque esse comentário serve, unicamente, para desviar a atenção do que realmente importa, ou seja, a incapacidade de gestão que a atual administração tem demonstrado. Esta administração só criou dívida no período em que liderou a instituição, adiando sempre a resolução dos problemas. Além disso, a lista B “Por Um Novo Montepio”, que encabeço, é a primeira lista da história do Montepio com mulheres em cargos dirigentes, com a idade média mais baixa, e com todos os níveis profissionais desta cadeia de valor, e não só (administrativos, enfermeiros, médicos, gestores, advogados etc). Basta comparar. ■

 

Instituição centenária presta serviços médicos desde 1864

A associação mutualista Montepio – Rainha D. Leonor é uma das mais importantes instituições das Caldas e, apesar de ter sido fundada a 11 de março de 1860, só quatro anos depois se começou a dedicar à prestação de serviços médicos, com a contratação do primeiro clínico.

160 anos de atividade de uma das mais antigas instituições da cidade das Caldas, fundada a 11 de março de 1860

A entidade começou por designar-se Montepio Caldense, garantindo proteção na saúde e empréstimos aos sócios para a realização de obras em residências. Em 1864, é contratado o primeiro médico privativo e em 1893 passa a denominar-se Associação de Socorros Mútuos Rainha D. Leonor, tendo, em 1933 passado a dispor de dois médicos.
A ideia de se criar uma Casa de Saúde surge em 1936 e no ano seguinte é inaugurada a sede da instituição, que resultou dos esforços dos associados que se juntaram numa comissão designada Pró-prédio, constituída em 1922.
Ao longo do último século, a entidade alargou a atividade, tornando o Montepio numa referência no setor da saúde.
Mais recentemente, foram efetuados investimentos com o propósito de reforçar o leque de serviços, por forma a responder às necessidades da população, e em 1995 é inaugurado o Centro de Apoio aos Idosos Dr. Ernesto Moreira. Em 2011, nasceu o Condomínio Residencial do Montepio – Residências assistidas. ■