O dia em que o Caldas foi maior do que o Benfica.

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O Caldas-Benfica desenrolou-se bem para lá dos 120 minutos e uniu toda a cidade
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O preto e branco dominou o vermelho nas cores da uma festa à qual só faltou o convívio pré-jogo na Mata, proibido pelas autoridades de segurança. No relvado, o Caldas deslumbrou o país futebolístico.

Caldas da Rainha viveu um dia memorável no passado sábado e deu um verdadeiro exemplo ao país do que é apoiar o clube da terra. A narrativa tem ares de ficção, mas foi bem real e vai ficar bem guardada na história do clube e na memória dos caldenses que a viveram, ao vivo, ou pela televisão. Defrontar o Benfica para a Taça de Portugal, pela raridade da efeméride, já era por si só positivo para o clube, e para os adeptos caldenses. O que se passou no jogo, e à volta, só tornou a experiência ainda mais arrebatadora.
Para relatar tudo, com alguma precisão, é preciso recuar uns dias. Cinco, para ser mais preciso. Na segunda-feira antes do jogo, máquinas tomaram conta do Campo da Mata para substituir o relvado. Ainda não havia notícias que confirmassem que o jogo seria no Campo da Mata. Aquele ato dava pistas tanto que havia perigo de não ser, como de uma vontade extrema que fosse.
As dúvidas persistiram até quarta-feira quando uma segunda vistoria da PSP deu luz verde às condições de segurança, depois de um intervenção conjunta do clube e do Município das Caldas da Rainha para adaptar o recinto às exigências legais dos jogos considerados de alto risco, onde entram todos os que envolvem os três “grandes” do futebol português. Um investimento ainda sem contas totalmente feitas, mas que não será inferior a 250 mil euros.
O jogo estava garantido, o espetáculo também. Os bilhetes, cerca de 5.500, “voaram” e mais houvesse, agora era esperar pelo grande dia.

Festa sem “mini-Jamor”
Chegados ao sábado, cedo os caldenses começaram a chegar às imediações da Mata Rainha D. Leonor, que uma vez mais se iria transformar na “Mata Encantada”. Só que desta vez sem todo aquele encanto dos jogos de Taça.
Parte do contingente de segurança impediu o acesso à Mata para o habitual convívio de “comes e bebes”. Mas nem isso impediu que os adeptos se acumulassem. Não havia “diversão” e o habitual comércio à volta do jogo limitou-se a quatro ou cinco bancas de cachecóis… mas só do Benfica. Mas isso não travou o entusiasmo e a boa-disposição. Aqui e ali saía um “ninguém passa na Mata”, e aos diversos órgãos de comunicação que faziam diretos do local, entre os adeptos do Caldas não havia dúvidas. Goleada do Benfica estava fora de hipótese, ou ganhava o Caldas “por um golo”, ou a coisa ia para o prolongamento. A verdade não andou longe.
O primeiro grande momento chegou perto das 6h50, quando o autocarro do Caldas chegou. Não houve fumos, como na receção ao Aves, mas houve confetis e uma energia muito positiva que passou para os jogadores, no interior.
A espera prolongou-se. Eram cerca de 7h30, 45 minutos depois da hora prevista, quando as portas da Mata se abriram e as bancadas começaram a encher.
Lá dentro, começou a desenhar-se um colorido… em preto e branco. Um dos desejos do Caldas estava cumprido. O Benfica que domina a assistência em (quase) todos os campos do país, ia estar, verdadeiramente, a jogar fora, no Campo da Mata.
E o ambiente… que ambiente! Puxados pelo Sector 1916 e pelos BrassDass, os cerca de 4500 adeptos do Caldas cantaram, pularam, vibraram e fizeram vibrar.
Com a bola a rolar, o entusiasmo foi crescendo ente os adeptos com a prestação de um Caldas atrevido. Festejaram cada lance ganho, cada finta de João Tarzan, cada canto conquistado, cada desarme, cada defesa, como se fosse um golo do Caldas. E quando Gonçalo Barreiras fez o golo do empate, foi a loucura total, dentro e fora das bancadas, enquanto o país assistia incrédulo pela televisão a um Caldas tão personalizado, no campo e na bancada. Festejos que se repetiram quando o jogo acabou e foi para prolongamento, e quando este acabou e a decisão foi para os penáltis.
Foi só aí que os astros não se alinharam para favorecer o Caldas. Mas perder aí, só foi frustrante durante uns instantes, depois o orgulho tomou conta dos caldenses, e dos adeptos do verdadeiro futebol.
Roger Schmidt, o alemão treinador do Benfica, elogiou “a performance e a crença” dos jogadores do Caldas. José Vala realçou o “enorme fair-play do público” e o “momento fantástico para o futebol português”, que deve ser exemplo para o país do que é apoiar o clube da terra.
Por um dia, num país em que os “grandes” têm sempre mais apoio do que os pequenos, o Caldas foi maior que o Benfica.

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