Jogralesca recorda canções do tempo da Rainha D. Leonor

0
1446
Os Jogralesca já levaram canções do tempo da Rainha a três freguesias
- publicidade -

Grupo caldense dá a conhecer canções do tempo da rainha fundadora das Caldas. Este ano assinala-se aniversário da morte

Em 2025 serão assinalados os 500 anos da morte de D. Leonor. Para já é com música que se ouvia no período de vida desta Rainha que acabou por ter um papel fundamental na criação da cidade, ao fundar o seu hospital.
A iniciativa musical já teve três concertos do grupo Jogralesca, que se dedica à música da Idade Média e do Renascimento. Este é dirigido por Joaquim António Silva, músico e maestro que fez a proposta à autarquia de levar às várias freguesias caldenses o programa musical “Músicas do Tempo da Rainha D. Leonor”.
Joaquim António Silva, mais conhecido por Quitó, enviou a proposta à Câmara e já se realizaram três concertos, nos meses de outubro e de novembro, em igrejas da Serra do Bouro, de A-dos-Francos e de Salir de Matos, no âmbito do programa do CCC Fora de Portas. “Procuramos espaços que de algum modo fossem contemporâneos da Rainha”, disse o músico.
Neste concerto, os Jogralesca retratam o ambiente musical europeu no período da vida de D. Leonor e apresentam peças musicais da segunda metade do século XV e primeiro quartel do século XVI. Estas são interpretadas com instrumentos históricos utilizados nesse período: alaúde, viola de mão, viola de arco, flautas renascentistas, voz e percussão.
“Os concertos têm corrido muito bem, com as igrejas sempre lotadas”, disse o mentor dos Jogralesca, que é também construtor de instrumentos musicais antigos.
O repertório inclui músicas que foram compostas e apresentadas na época de vida da monarca. “Procuramos também ter canções de vários estilos, algumas também populares”, disse o músico. Há, portanto, vários instrumentais, música vocal e de dança, todos contemporâneos de D. Leonor.
De especial interesse para o tema deste programa é o romance Ay, que fortes penas!, um pranto à morte do príncipe D. Afonso, filho de D. João II e D. Leonor, em 1491, na sequência de uma queda de cavalo, acontecimento que marcou profundamente a vida da rainha.
“O príncipe morreu muito jovem, num acidente de cavalo em Almeirim e que causou enorme sofrimento à Rainha”, disse Joaquim António Silva, acrescentando que a tragédia acabou por se internacionalizar tendo chegado a França. Segundo Quitó, o tema provavelmente deriva de um romance escrito em castelhano por Frei Ambrosio Montesino; “a versão que apresentamos chegou até nós, com a sua música, através de um manuscrito redigido em França por volta de 1500”.
Uma das canções do repertório é “Portugaler / Ave tota casta virgo” — Anónimo, Códice de Santo Emerão, séc. XV – e que segundo Quitó “só pode estar relacionada com o nosso país”. Para preparar este programa, que inclui temas ligados também a Gil Vicente, Joaquim António Silva dedicou dois meses à investigação. Além do mais, a Rainha foi mecenas das Artes, tendo sido Gil Vicente um dos artistas protegidos.

Músicos e também construtores de instrumentos
O grupo Jogralesca, fundado em 2005, integra músicos com experiência na música antiga. Participam também em animações musicais em contextos de recriação histórica. Atualmente o grupo – que tem músicos das Caldas e de Óbidos – dedica-se à divulgação do reportório musical original dos períodos medieval e renascentista.
Dos Jogralesca fazem parte Ana Clément (voz, flautas de bisel, charamela e percussão), Ana Margarida Silva, (flautas de bisel), João Caldas Lopes (voz, flautas de bisel e charamela), Orlando Trindade (voz, viola de mão e percussão), Joaquim António Silva (alaúde, viola de mão, viola de gamba e charamela).
“Construí o primeiro instrumento de música antiga em 1985 e faço-o para os usar”, disse Quitó, acrescentando que no grupo há outro construtor, o violeiro Orlando Trindade.
A primeira vez que o músico construiu um instrumento musical foi quando foi necessário para uma peça de teatro de Gil Vicente. Quitó é também elemento do grupo La Batalla, também de música antiga, e que é dirigido por Pedro Caldeira Cabral.
Quitó trabalhou durante 15 anos na Casa da Cultura. Além da música, da construção de instrumentos de música antiga, das artes gráficas, da direção do grupo Coral das Caldas, também trabalha com fotografia. “Comecei por fazer música para peças de teatro”, contou o autor, que é multifacetado e um verdadeiro homem dos sete ofícios.
Quitó deixou recentemente de lecionar na Escola Técnica Empresarial do Oeste, tendo agora mais tempo para os seus projetos pessoais. À Gazeta das Caldas, o também tocador de gaita de foles contou que se sente mais confortável como tocador de cordas. ■

- publicidade -

 

 

- publicidade -