Piromania – ou a vontade de ver tudo a arder

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Sara Malhoa
Sara Malhoa

Nos últimos dias temos sido assolados pelo efeito devastador dos incêndios que consomem florestas, bens, vidas animais e humanas, de forma indiscriminada, crime este perpetrado por alguém, e neste caso, muitos alguéns que tiram prazer em ver tudo a arder.

O fascínio pelo fogo é característica do ser humano desde os primórdios do nosso desenvolvimento. Como em tudo na vida, dentro dos limites é normal, extremando as posições, passa rapidamente a ser um severo transtorno.
É importante fazer-me a distinção entre incendiário e pirómano.
Geralmente o incendiário português é um homem solteiro, caucasiano, com idade compreendida entre os 20 e os 35 anos, baixo nível de escolaridade, sem cadastro. Tende a iniciar uma ignição florestal próximo da sua área de residência, recorrendo a fósforos, velas ou isqueiros.
Porquê?
O incendiário possui seis motivações principais para a prática deste delito – vingança, excitação, vandalismo, lucro, ocultação de um outro crime e o extremismo, seja ele político, religioso e/ou cultural. Poderá ser um crime “encomendado” por tantos outros que poderão tirar proveito desta ocorrência, como tanto de especula.
A piromania é definida pela Psiquiatria como um transtorno do controlo dos impulsos, o desejo incontrolável e o comportamento compulsivo/repetitivo de provocar incêndios, queimar ou atear fogo, de forma intencional, sem a intenção de provocar dano ou à procura de lucro, ao contrário do incendiário. Tratando-se de transtorno mental sem tratamento nem arrependimento, o pirómano é reincidente até adequada intervenção clínica.
O pirómano, experimenta uma forte excitação nos momentos que antecedem o ato de incendiar, demonstra fascínio pelo fogo, curiosidade e atração pelas circunstâncias relacionadas ao fogo e o aparato em torno deste episódio – movimentos dos carros de bombeiros, sirenes.
Tendo atingido o seu objetivo, dá-se a libertação da tensão que o levou à compulsão, enquanto admira as chamas do seu próprio fogo na linha da frente e colabora ativamente com os bombeiros e populares, contemplando o seu feito. Frequentemente colaboram com a detenção, confessam o crime ou admitem a culpa, apesar de não sentirem remorsos ou arrependimento pelas consequências do seu ato, quaisquer que elas sejam.
Perfil do pirómano português – idade compreendida entre os 16 e os 28 anos, sexo masculino, caucasiano, possibilidade de presença de perturbações mentais como a psicopatia, perturbações psicóticas e padrões neuróticos de comportamento. Baixo nível de escolaridade. História de negligência parental. Problemas no desenvolvimento e manutenção de relações interpessoais. Habitualmente solteiros ou com instabilidade relacional. Desempregados.
Todo este mediatismo na comunicação social encontra uma dualidade de critérios e opiniões. Por um lado, sem informação não saberíamos o que se passa ao nosso redor. Por outro, pelo grande efeito visual, pela espetacularidade das imagens que nos prendem ao ecrã, é um deleite para os sentidos daqueles que sentem o fascínio das chamas, existindo uma relação inversamente proporcional – quanto mais extinto está um fogo, maior a tendência em impulsionar um outro, em jeito de auto-alimentação do desejo.
Uma última palavra de conforto para todos aqueles que viram destruídos os seus bens. Nada há que queime a raiz dos vossos sonhos!
E uma especial aos bombeiros e tantos populares que põem as suas vidas em perigo para lutar contra este gigante que ameaça tudo e todos. 

Sara Malhoa

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