Em 2016 houve metade da área ardida no concelho das Caldas

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Os incêndios de Verão foram este ano devastadores em Portugal. As chamas consumiram no país quatro vezes mais que a média dos oito anos anteriores, numa área total de 117 mil hectares. Caldas da Rainha esteve, porém, em franco contraciclo com o cenário nacional. No concelho arderam cerca de 29 hectares, um pouco menos de metade dos 59 hectares de área ardida em 2015. Nelson Cruz, comandante dos bombeiros caldenses, destaca a forte reacção dos bombeiros no ataque inicial e também o patrulhamento que foi feito nas zonas com histórico de ocorrências para os bons resultados deste ano no que a incêndios florestais diz respeito.

A chuva que se prolongou no último Inverno favoreceu a ocorrência de incêndios no Verão pela formação de mato fino, o que aliado à falta de prevenção e às condições metereológicas resultou em incêndios de grandes proporções, “de deflagração rápida e muito agressivos”, classificou Nelson Cruz, comandante dos bombeiros das Caldas da Rainha.
Estas condições também se verificaram no concelho, mas outros factores se conjugaram para que a área ardida fosse menor este ano do que em 2015. O número de ignições desceu 33%, de 136 para 91. Já a área ardida foi reduzida em 50%. Do total de 29 hectares, 19 hectares arderam num único incêndio que teve lugar no Pego. Os restantes 90 incêndios verificados no dispositivo deste ano resultaram em 10 hectares ardidos. No ano passado o maior incêndio queimou uma área de 41 hectares, tendo nos restantes ardido uma área de 18 hectares, o que constitui igualmente uma redução.
Se as condições naturais podem ter favorecido esta redução do número de incêndios, Nelson Cruz acredita que houve também uma série de alterações que os próprios bombeiros fizeram no seu modus operandi e que foram fundamentais.
Este foi o primeiro ano em que a nova viatura de comando e comunicações esteve totalmente operacional e, em conjunto com os sistemas de georreferenciação, permitiu controlar de forma mais eficaz o posicionamento dos meios e o ataque às chamas.
Outro dos segredos foi a capacidade de mobilização. Às duas equipas que a corporação caldense tinha sempre no quartel, esteve sempre outra equipa de prevenção para qualquer outra ocorrência. “Tivemos uma mobilização de praticamente 100% do efectivo”, observou Nelson Cruz. Apenas os que trabalham mais longe não puderam estar sempre presentes, pelo que o comandante destaca o espírito de missão dos soldados da paz que dirige.
Esta mobilização permitiu um ataque musculado ao primeiro minuto da ignição e com um ataque forte desde início também se evitou que os incêndios verificados tomassem maiores proporções.

MEDIDAS PREVENTIVAS

Às medidas operacionais acrescentaram-se outras de prevenção. Nos dias referenciados com maior risco de incêndio (de alerta laranja), o contingente de prevenção no quartel foi aumentado de duas para cinco e até seis equipas, para melhorar a capacidade de resposta.
Nestes dias, equipas dos bombeiros também patrulharam de forma preventiva algumas zonas com maior histórico de ignições, como foram os casos dos Cabreiros, ou do Carvalhal Benfeito. “Nem todos os incêndios têm origem criminosa, mas a maioria terá e que este patrulhamento seja dissuasor”, diz Nelson Cruz.
Por tudo isto, Nelson Cruz diz que menos incêndios e menos área ardida não representaram menos trabalho para os bombeiros, pelo contrário, são antes resultado de muito trabalho de organização e da utilização dos meios tecnológicos que têm sido colocados à sua disposição.
A acção dos bombeiros caldenses não se limitou, porém, ao próprio território do concelho. Das 151 saídas, na temporada dos incêndios, 60 foram para auxiliar as corporações vizinhas e também para reforçar o ataque a incêndios noutras zonas do país. Estiveram equipas caldenses em 12 incêndios de grandes dimensões, incluindo o de Águeda, onde estiveram durante 10 dias consecutivos, com equipas que se rendiam a cada 24 horas. Na época de incêndios as viaturas da corporação fizeram um total de 14 mil km, 9 mil dos quais dentro do concelho.

APOSTA NA FORMAÇÃO

A formação é outro aspecto importante para que o trabalho dos bombeiros seja cada vez mais eficaz. Este foi um ano em que a corporação caldense apostou forte nesta área, refere o comandante. Todos os bombeiros graduados tiveram formação, assim como todos os chefes de veículo, o que é fundamental para que saibam o que fazer concretamente em todas as situações e para que haja uma resposta mais adequada.
Nelson Cruz não tem dúvidas que o seu corpo de bombeiros de voluntário só tem o nome. “Os bombeiros são voluntários para entrar na corporação e porque não têm salário”, mas o seu carácter é muito profissional. “O que estamos a tratar é da salvaguarda da vida e isso não pode ser feito com amadorismo”, sublinha.
Além dos incêndios, os bombeiros asseguram serviços de socorro e transporte de doentes. Até 14 de Novembro os soldados da paz caldenses acorreram a 9.600 ocorrências e percorreram mais de 600 mil km.