Pedro Santo tentou desde o início utilizar as bicicletas, mas nunca conseguiu
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Plataforma de bicicletas partilhadas teve utilização quase nula devido a uma série de anomalias. Câmara vai implementar uma nova plataforma
As Bicicletas Rainhas prometeram trazer uma nova solução de mobilidade para as Caldas da Rainha, mas os equipamentos nunca funcionaram devidamente. O município das Caldas da Rainha não esconde algum desalento por não ter conseguido colocar as bicicletas ao serviço dos munícipes, mas diz que aprendeu com a experiência e prepara-se para lançar uma nova plataforma.
Pedro Santo é utilizador regular da bicicleta como meio de transporte na cidade e um potencial utilizador das Bicicletas Rainhas, que se deparou com as inúmeras falhas do sistema. “Desde o início tentei utilizar as bicicletas, mas nunca consegui. Primeiro era a aplicação que não funcionava. Depois era possível fazer um registo na Câmara, voltei a tentar, disseram-me que quando resolvessem as questões que estavam pendentes iriam anunciar, mas até hoje as bicicletas continuam paradas e a degradar-se”, desabafa.
As Bicicletas Rainhas foram uma proposta vencedora do Orçamento Participativo de 2015, que começou a ser implementada em 2019 e lançado em setembro de 2021. Mas as bicicletas só tiveram alguma utilização no primeiro ano, pelos alunos da Unidade de Apoio ao Alto Rendimento na Escola (UAARE), da escola Rafael Bordalo Pinheiro, que receberam cartões do município que permitiam o seu uso.
Joaquim Beato vice-presidente da Câmara das Caldas, que tem a pasta da mobilidade, lembra que o atual executivo tomou posse um mês depois de inaugurada a plataforma e diz que tentou resolver os problemas que foram surgindo de forma consecutiva. “Os ensaios da utilização pelo público nunca tiveram sucesso. Quando pensávamos que tínhamos determinados assuntos resolvidos, surgiram sempre outros e sentimos algum desconforto com isso”, refere.
O primeiro erro encontrado prendia-se com a app associada ao sistema. “Havia um erro no programa, não era possível criar novos utilizadores, e à medida que se tentava, o sistema bloqueou”, conta Joaquim Beato. A questão foi ultrapassada, mas o município não ficou agradado com a solução. “Bastava um e-mail para se criar um utilizador, o que nos pareceu que era perigoso, na medida em que não havia como aplicar as regras de utilização”, refere. A solução foi a implementação de um sistema de subscrição em dois momentos, acedido na app, mas validado por um operador humano. “Infelizmente, nisto passaram-se semanas e, quando estávamos a chegar a uma fase interessante de otimização do sistema, percebemos que várias bicicletas estavam danificadas”, continua o vereador. Estas foram para manutenção, mas os problemas estavam longe de terminar.
O dilema seguinte surgiu nas estações. “Todas estavam 5 cm acima do que era suposto, o que causava muitas dificuldades no encaixe, porque era preciso levantar a bicicleta, quando o encaixe deveria de estar absolutamente nivelado”, refere Joaquim Beato. A epopeia incluiu, ainda, falhas no sistema de georreferenciação das bicicletas, que impediam a localização correta dos equipamentos e uma falha de comunicação entre as bicicletas e as docas.
“E quando finalmente pensámos que tínhamos a casa toda arrumada, ficámos sem acesso à plataforma, porque a licença venceu e não fomos informados”, afirma. A autarquia ainda encontrou uma empresa com um sistema idêntico, que foi contratualizado, “mas os problemas de comunicação voltaram, não conseguíamos saber onde é que estavam as bicicletas”, conta o vereador.
A cascata de problemas foi um dos motivos que levou a autarquia a deixar cair as Bicicletas Rainhas, mas não foi o único. “Há uma estrutura muito deficiente na sua conceção e uso”, afirma Joaquim Beato. Um dos aspetos negativos que o vereador aponta é o projeto não permitir a integração com as bicicletas do programa U-Bike, da ESAD.CR. “Este projeto, na sua génese, tem interesse, mas ao ser fechado só resultaria se tivesse uma dimensão maior, devia ser mais estrutural na relação da mobilidade com a cidade”, sustenta.
Pedro Santo também aponta críticas ao conceito. “As estações estão distribuídas mais a pensar em quem visita a cidade, mas não serve quem faz nela o dia-a-dia. Quem venha de carro e estacione nos parques da periferia para fazer as suas coisas, não tem estações nem nos parques, nem no centro da cidade”, observa.
Essa é, também, a visão da autarquia, que já tem formulado e aprovado um novo projeto de bicicletas partilhadas, a aguardar a abertura de financiamento. “Aprendemos com os erros deste projeto para formular esta nova candidatura”, refere Joaquim Beato.
A nova plataforma começa por ter um tipo diferente de estações, que vem colmatar a limitação imposta pelas quatro que existiam nas Bicicletas Rainhas. Esta terá apenas uma estação de carregamento, prevista para a Rua Leão Azedo, no centro da cidade, e passará a ter também um conjunto de estações virtuais. “Visitámos cidades com diferentes modelos de bicicletas partilhadas e percebemos que a bicicleta não pode estar apenas sujeita às docas de carregamento, de forma a aumentar o espectro de possibilidades de utilização”, refere Joaquim Beato.
Estas docas virtuais serão identificadas por sinalização vertical e uma box pintada no chão, que será identificada pelas bicicletas por georreferenciação. “Desta forma, podemos fazer docas onde quisermos, inclusivamente docas temporárias para servir em determinados eventos”, refere o vice-presidente.
As próprias bicicletas terão especificações diferentes, a começar num sistema de ancoragem e carregamento no garfo da frente. As bicicletas terão um sistema de cadeado com alarme, para que o utilizador as deixe de forma segura na rua durante o seu tempo de utilização, para entrar numa loja, por exemplo.
Para evitar os problemas e a afetação de recursos humanos com a manutenção das bicicletas e a gestão do sistema, o município vai optar por um sistema chave na mão. Uma empresa irá garantir que as bicicletas estão localizadas de acordo com as necessidades e sempre com mais de 15% de carga na bateria. Isto será garantido por um sistema de baterias intermutáveis. “A nossa proposta são 20 bicicletas, mais 20 baterias, que estarão sempre à carga nas viaturas da empresa”, explica Joaquim Beato.
A nova plataforma terá, então, as mesmas 20 bicicletas que a plataforma anterior, mas será escalável até 60, caso se venha a justificar. Também ao nível dos custos, será um investimento idêntico ao das Bicicletas Rainhas, cerca de 60 mil euros, financiados a 85%. Apesar de não haver ainda datas para a implementação, uma vez que dependem da abertura dos avisos para o financiamento, a autarquia espera que isso possa acontecer durante 2024.
O novo programa surge enquadrado no plano municipal de mobilidade e Joaquim Beato aponta que o objetivo é despertar sensibilidade para a mobilidade suave. “A bicicleta é um equipamento que acaba por ser acessível, se a pessoa desenvolver hábitos de utilização, rapidamente pode passas a ser essa a sua realidade pessoal”, refere.
Mas o novo sistema não vai significar o desaproveitamento das Bicicletas Rainhas. “A nossa proposta é a reconversão daquelas bicicletas e colocá-las ao serviço dos funcionários do município”, conclui. ■
mas nunca conseguiu
As diversas anomalias nas estações levaram a da Rua Leão Azedo a ser retirada
Paradas, as bicicletas têm estado expostas a atos de vandalismo
Torres Vedras é pioneira e Leiria investe 750 mil euros
Rio Maior também disponibiliza bicicletas partilhadas, desde 2018
Em 2013 a Câmara de Torres Vedras lançou as Agostinhas, uma plataforma de bicicletas partilhadas que foi pioneira na região, com ligação à figura mítica do ciclismo nacional, Joaquim Agostinho, natural do concelho.
As Agostinhas foram uma aposta pioneira em Portugal na mobilidade suave no contexto de cidade. Ao fim de um ano, a plataforma já tinha 1200 utilizadores inscritos e foram atingidas cerca de 17 mil utilizações.
Desde então, o sistema tem vindo a ser melhorado e expandido. Atualmente, conta já com 21 estações, que garantem uma cobertura abrangente de percursos na cidade, que no Verão se estende até à praia.
O município torriense salienta a rapidez, a flexibilidade e a acessibilidade para os utilizadores às questões da sustentabilidade, pela poupança que gera em consumo de combustíveis e nas emissões de gases com efeitos de estufa, mas também as vantagens para o próprio ambiente urbano, pelos baixos níveis de ruído e o reduzido espaço público que ocupam. O município realça ainda que a utilização da bicicleta favorece a intermodalidade e “fortalece a identidade local”.
Torres Vedras é, de resto, um concelho que é visto como um exemplo na utilização da bicicleta, participando em fóruns e estudos que realçam as vantagens da utilização da bicicleta como transporte no meio urbano.
A rede é atualmente composta por cerca de uma centena de bicicletas.
Também em Rio Maior existe, desde 2018, uma rede de partilha de bicicletas promovido pelo município.
A plataforma RM Bikes nasceu com 24 bicicletas elétricas disponíveis e quatro estações, procurando apelar aos riomaiorenses a sua utilização aproveitando a topografia plana da cidade.
Tal como em Torres Vedras, a utilização pode ser feita através de subscrição, com um custo anual, ou semestral, e está ainda disponível para a utilização ocasional, com tarifas diárias, ou à hora.
Em cinco anos e meio, as bicicletas ultrapassaram as 12 mil utilizações e percorrera 44 mil quilómetros.
Já em Leiria, entrará este ano em funcionamento uma nova plataforma de bicicletas partilhadas, num ambicioso programa que atinge cerca de 750 mil euros de investimento, financiado pela União Europeia a 85%.
A rede leiriense será composta por 150 bicicletas e 20 docas e locais de carregamento.
O sistema de Leiria será diferente do de Torres Vedras e Rio Maior. A inspiração do município foi o sistema adotado pelo Politécnico de Leiria, com a rede U-Bike e terá um sistema de utilização misto. Parte das bicicletas serão entregues a um utilizador por veículo por um período máximo de seis meses renováveis, enquanto as restantes ficarão disponíveis para utilizadores ocasionais. O número de bicicletas poderá aumentar caso a procura justifique. ■
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