Na semana passada era este o ambiente vivido nas urgências do hospital das Caldas da Rainha, com macas a ocupar todos os cantos e mais de 40 doentes à espera de terem alta ou de serem reencaminhados para internamento. Uma situação que tem motivado a indignação de utentes e familiares, os quais têm partilhado nas redes sociais uma série de fotografias demonstrativas da forma como os doentes se acumulam nos corredores do hospital
Uma situação tão caótica que levou os enfermeiros que entraram às 8h00 de 13 de Março a recusar, no momento, receber o turno, reunindo com os colegas que tinham feito a noite e pedindo à administração do CHO que fosse ao local para constatar in loco a situação.
Os médicos alertaram igualmente para a situação de risco e de atrofia que se vivia nas urgências.
Em situação normal o número de doentes nas urgências não deveria ultrapassar as duas dezenas, mas naquele dia ultrapassava os 40 devido, sobretudo, à falta de camas para internamento. Inclusivamente, nesse dia, até num dos serviços de internamento do hospital havia também doentes em cama nos corredores.
Os membros da administração do CHO acederam, com relutância, a ir às urgências (na véspera tinham sido também chamados, mas não foram alegando que não era necessário porque já estavam a par da situação difícil) e decidiram abrir mais um espaço para pôr macas e distribuir doentes pelos hospitais de Peniche e Torres Vedras (que pertencem ao CHO).
A administração terá aludido ao facto do pico da gripe ter terminado no dia anterior e que por isso a situação iria melhorar, mas já esta semana não houve grandes melhorias, mesmo depois das medidas tomadas e apesar de – como aconteceu na semana passada – haver casos de sinistrados no concelho das Caldas que vão directamente para o hospital de Torres Vedras sem passar pelas urgências caldenses (ver Ocorrências Policiais).
Alguns profissionais de saúde disseram à Gazeta das Caldas que não entendem porque motivo não há internamento no Hospital Termal nem porque se reduziram camas no hospital de Peniche.
Há quem tema que toda esta confusão possa dar azo a erros que podem vir a ter consequências graves para os doentes.
Apesar deste episódio ter ocorrido num pico de procura, os médicos dizem que nos últimos anos tem descido a afluência de doentes às urgências, em grande parte devido ao custo da taxa moderadora (18 euros) que desencoraja muita gente a dirigir-se ao hospital. Como resultado, só os casos mais graves acabam por entrar nas urgências.
Testemunhos
À Gazeta das Caldas um familiar de um doente que esteve internado no serviço de urgências do hospital caldense descreveu o ambiente que ali se vive.
“O espaço está todo ocupado. As pessoas estão todas umas em cima das outras. O corredor que deve ter dois metros de largura, tem macas de cada lado sobrando só um espaço para uma pessoa passar (e quando um médico ou enfermeiro quer passar, as visitas têm de se meter para o lado para os deixar passar”, contou Cátia Ferreira.
Nascida nas Caldas, mas emigrada há mais de 15 anos na Suíça, Cátia Ferreira veio a Portugal para visitar o seu familiar e confrontou-se com “a miséria e as condições deste hospital”.
A emigrante lamenta também o tempo de espera para se conseguir obter informações sobre os familiares internados e o facto de as visitas serem tão limitadas. “Só percebi o porquê das visitas serem tão curtas depois de ter entrado” e ter deparado com a falta de condições naquele serviço.
“Os gritos das pessoas com dores são insuportáveis e, sinceramente, não sei como os funcionários aguentam trabalhar nestas condições”, considera.
“Não contesto as capacidades do pessoal do hospital que fazem o melhor que podem. Ao falar com as pessoas que estavam também à espera para as visitas e com os funcionários do hospital, reparei que todos estão de acordo que é uma vergonha. Parece-me que as pessoas têm medo de falar porque os doentes estão nas mãos do hospital e calam-se. E a situação fica assim e ninguém faz nada”, concluiu.
Outra caldense, Melanie Russo, tem utilizado as redes sociais para manifestar a sua indignação contra as condições dos doentes no hospital das Caldas.
“É uma vergonha a forma como este governo, esta Câmara Municipal, nós cidadãos permitimos que a dura luta de muitos dos nossos idosos acabem nesta triste amargura de ir parar ao Hospital das Caldas da Rainha”, comentou Melanie Russo.
“Repetidamente vejo situações neste hospital que me revoltam seriamente. Idosos sentados durante 12 horas ou mais à espera de uma maca. Idosos deitados em filas de quatro a cinco macas em espaços de consulta, ou onde supostamente só deveria de caber uma cadeira e uma maca. Onde estão expostos a todos e a tudo, sem que haja uma privacidade e respeito à sua pessoa”, relatou.
Carlos Cipriano
cc@gazetadascaldas.pt
Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt
acho que ta mais que na hora de nos leventarmos do sofa e deixarmos de ser preguissosos
O de Gaia está igual ou pior.