Carta Arqueológica foi apresentada mas “ainda há muito por descobrir”

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José Antunes moderou a sessão que contou com Cláudio Monteiro, Alexandra Figueiredo e Adolfo Silveira, coordenadores da Carta Arqueológica caldense
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Trabalho realizado entre 2017 e 2023 foi agora apresentado, com edição em livro. Investigadores destacam relevância para a preservação do património

No Nadadouro, a cerca de cinco metros da Lagoa de Óbidos existe uma gravura com o símbolo da Ordem de Cristo, que poderá estar ligada a uma rocha onde já foram encontradas gravuras mais antigas, nomeadamente uma com o desenho de uma mulher, e que deverá ter sido gravada numa época mais antiga (e esta última já a ser estudada).

A gravura agora encontrada poderá ter sido de uma pequena capelinha que ali existia e que poderia estar relacionada com a componente dos Descobrimentos, com a saída da Lagoa e o acesso à costa. Já em Alvorninha foram encontradas pegadas do que poderá ter sido um veado, numa duna compacta, que os investigadores acreditam que seja do período Plistocénico. Ambos os casos foram descobertos recentemente e já não se encontram na Carta Arqueológica das Caldas da Rainha, realizada entre 2017 e 2023, e apresentada no passado dia 15 de março, no Inatel, das Caldas da Rainha. Foi também apresentado o livro, que reúne todo o trabalho e que já estava disponível, em formado e-book, desde 2023.

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De acordo com a sua coordenadora científica, Alexandra Figueiredo, entre o que se conhecia no início do projeto e o seu resultado, houve um incremento de 250% de património arqueológico e mais de 1000% de outro património histórico e etnográfico. Em 2017, ano que tiveram início os trabalhos, existiam poucos dados, sendo apenas conhecidos 30 sítios na Direção Geral de Património Cultural. A equipa multidisciplinar, do Laboratório de Arqueologia e Conservação do Património Subaquático do Instituto Politécnico de Tomar, começou então a desenvolver um trabalho que passou pela pesquisa de fontes, prospecção e confirmações em campo, a publicação de obras, apresentações, workshops e eventos. O projeto não ficou somente pelos sítios arqueológicos, abordando também o património industrial molenar, militar, religioso e, com base no trabalho desenvolvido, publicaram livros com o levantamento de todos os moinhos das Caldas e das lendas e fotografias antigas. Um estudo que só foi possível, de acordo com Alexandra Figueiredo, devido ao contacto com a comunidade. A existência de uma carta arqueológica permite também garantir a salvaguarda do património e a sua inscrição no PDM, concretizou Adolfo Silveira, da Universidade Autónoma de Lisboa, na sessão moderada por José Antunes, chefe da Unidade de Cultura do município. Este responsável explicou ainda que a Carta Arqueológica permite a concretização de várias iniciativas sustentáveis, como roteiros ou caminhadas.

Cláudio Monteiro, da associação CAA Portugal, e também coordenador do projeto, realçou que este “não é um livro fechado”, podendo ter continuidade, e que quando fazem um trabalho desta natureza estão a “criar informação”.

“É um documento para o qual o município, em conjunto com os demais intervenientes no concelho, podem olhar e começar a traçar um caminho que resulta na preservação e incremento de riqueza económica, social e até de saúde”, defendeu, dando o exemplo de Inglaterra, onde fazem um “receituário cultural”.

Canal de comunicação de descobertas
Uma das propostas, apresentada na sessão pelo guia da natureza, Miguel Castro, e que foi prontamente aceite, foi a abertura de um canal de comunicação para que os caldenses possam informar os investigadores do que vão encontrando neste território. Alexandra Figueiredo chamou ainda a atenção para a necessidade de intervenção e salvaguarda. Dando o exemplo concreto da rocha onde encontraram a gravura da boneca, no Nadadouro, explicou que, devido às alterações climáticas, parte da rocha, que nas fotografias da carta arqueológica aparece intacta, já está partida.

“Estes vestígios são documentos que explicam o que fomos e clarificam a nossa vida. Também nos ajudam a planificar o território, preservando estes sítios”, salientou a vereadora Conceição Henriques, chamando a atenção para a necessidade de sensibilizar a população para a importância da arqueologia. Também presente na sessão, o vereador Joaquim Beato, destacou que este trabalho será integrado no PDM e que também estará à disposição de todos através do geoportal da autarquia. “A preocupação que o município tem é criar instrumentos que não sejam caducos com a alternativa democrática”, disse, acrescentando que são instrumentos de gestão transversal para o futuro.

Por seu lado, o presidente da Câmara, Vítor Marques, salientou que quando “as coisas casam entre a academia, a cidadania e a parte política, têm condições para acontecer”, defendendo que há que dar continuidade ao trabalho começado com a carta arqueológica.

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