Apresentação do traje, desenhado por Conceição Cabral, decorreu no restaurante Corações Unidos, onde, reza a lenda, aquele prato típico foi criado. Entidade tem vários projetos em marcha
A apresentação do traje da Confraria do Frango na Púcara, que decorreu no passado sábado, no restaurante Corações Unidos, foi o primeiro ato público da entidade que pretende promover Alcobaça através da gastronomia.
Desenhado por Conceição Cabral, com recurso a elementos como a Chita de Alcobaça, o traje apresenta-se com apontamentos que remetem “para a caça”. “Fiz uma pesquisa sobre o que se vestia aquando da criação do frango na púcara e apercebi-me do que os caçadores vestiam, usando a boina e a pele”, explicou a designer.
Na presença de representantes das confrarias “madrinhas”, a Confraria da Sopa do Vidreiro da Marinha Grande e a Confraria do Arinto de Bucelas, o presidente da Direção da Confraria do Frango na Púcara não escondia a satisfação pelo momento.
“A Confraria nasce hoje. Foi formada durante dois anos, mas estamos a começar, efetivamente, agora e queremos, com a nossa atividade, estimular a zona antiga de Alcobaça”, frisou Luís Guerra Rosa.
O dirigente revelou que é intenção da entidade avançar com a certificação dos estabelecimentos que servem frango na púcara, por forma a proceder, posteriormente, à criação de um roteiro gastronómico “da região de Alcobaça”.
“O nosso lema é que toda a gente tem de provar Alcobaça”, salientou o professor universitário, para quem é fundamental “impedir a má imitação” na confeção daquele prato típico.
“Esta Confraria faz sentido, porque devemos promover o concelho de Alcobaça e esse é o papel que nos cabe a nós enquanto sociedade civil”, avaliza o presidente do Conselho Fiscal da Confraria, Diogo Ramalho, secundado por Joaquim Correia Pinto, presidente da Assembleia Geral, para quem se torna crucial dar os passos seguintes na afirmação da entidade.
“Somos muito mais que almoços de amigos”, notou o juiz-desembargador, considerando que a pandemia “condicionou bastante a atividade” da Confraria, mas que se deve apostar em produtos como o frango na púcara para “divulgar Alcobaça como património mundial”.
Na ocasião, Luís Guerra Rosa explicou que falta, ainda, outro momento importante na constituição desta confraria enogastronómica: a entronização. Aquele ato está previsto para a Cozinha do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça ou, em alternativa, no Museu do Vinho, dependendo da aceitação da Direção-Geral do Património Cultural, que tutela o monumento classificado pela Unesco como património mundial.
Parcerias dão visibilidade
Um dos principais dinamizadores da Confraria do Frango na Púcara é o empresário Salomão Figueiredo, um apaixonado por Alcobaça e que pugnou para o estabelecimento de parcerias com empresas no desenvolvimento do projeto.
“Uma confraria sem parceiros não faz sentido. Foi com muito agrado que no primeiro contacto, recebemos apoio de várias marcas de referência do concelho”, salientou o grande conselheiro, que destacou a presença no evento de representantes da Pastelaria Alcôa, Quinta dos Capuchos, Malhado de Alcobaça e da Maçã de Alcobaça.
No almoço que foi servido aos confrades, além do tradicional frango na púcara dos Corações Unidos, foram também apreciados doces, vinhos, licores e carne de Alcobaça.
No entender de Salomão Figueiredo, as confrarias enogastronómicas “são fator de desenvolvimento” das comunidades, sendo essencial que se faça a “ligação à preservação do património gastronómico da região” e se possa “levar mais longe o nome de Alcobaça”.
As origens do prato
Segundo os especialistas, o Frango na Púcara surgiu na década de 1960, pela mão de António Bonzíssimo, cozinheiro dos Corações Unidos, sendo servido num tacho de barro, acompanhado de arroz e batata frita.
Contudo, as origens deste prato típico são mais antigas. Reza a história que durante o século XIX e início do século XX, a Perdiz na Púcara era um prato regional, com muitos apreciadores. Em determinada momento, as perdizes começaram a escassear e o chefe Bonzíssimo criou a receita do Frango na Púcara, adicionando-lhe os ingredientes necessários para que o seu sabor se aproximasse do sabor da Perdiz na Púcara. O resultado foi uma receita que perdurou no tempo.
Para Luís Guerra Rosa, a forma como o prato é preparado e, sobretudo, as condições em que é preparado faz toda a diferença. “A púcara, para nós, é tão importante como o frango”, adverte o presidente da Confraria do Frango na Púcara.
Confraria da Codorniz do Landal continua em stand by
Proposta de Letícia Bento em Prova de
Aptidão Profissional ainda não foi efetivada
A criação da Confraria da Codorniz do Landal, que foi proposta por Letícia Bento, em julho do ano passado, na sequência da Prova de Aptidão Profissional (PAP) da aluna da Escola Técnica Empresarial do Oeste, está em stand by. Apesar do interesse inicial manifestado, ainda não foi formalmente criada e, aliás, não se conhecem passos nesse sentido.
“A pandemia atrasou o processo, mas, infelizmente, não se passou da mera intenção”, lamenta a jovem, que no ano letivo 2020/21 ficou em 3º lugar no concurso de empreendedorismo das Caldas da Rainha com o projeto da Confraria da Codorniz, que assinou com Rodrigo Gomes.
Aquela iniciativa visava promover e dinamizar um produto turístico-gastronómico, através da realização de eventos. Ao mesmo tempo, explica a proponente, pretendia valorizar o Landal, com o intuito de “atrair turistas nacionais e internacionais” a uma freguesia “que não tem infraestruturas turísticas”.
Letícia Bento, que prosseguiu os estudos com a licenciatura em Estudos Culturais na Universidade do Minho, em Braga, deixou cair o projeto, mas lamenta que “não tenha havido um olhar atento do poder político” para a constituição da Confraria da Codorniz, lembrando que, inclusivamente, o traje que vestiu na PAP foi pago, integralmente, pela empresa dos pais.
Nos últimos dois anos, a pandemia de covid-19 impediu a realização do Festival da Codorniz no Landal, freguesia onde se produz cerca de 80% daquelas aves a nível nacional.