Milhares de pessoas presentes no evento, repartidas entre atividades desportivas, regata e gargalhadas.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades… à exceção de uma: a realização da Grande Regata nas Caldas. A iniciativa voltou ao Parque D. Carlos I, no passado sábado, numa sexta edição que juntou milhares de pessoas ao longo de todo o dia do evento e que, pela primeira vez, excedeu o limite de equipas inscritas na competição (37). E se apenas uma pôde ganhar, todos saíram vencedores depois de um dia muito divertido.
“Cinco, quatro, três, dois, um… Toca a remar!” Foi a este mote que os mais de 180 participantes de 37 equipas agarraram nos remos em seis rondas divididas por três fases de uma competição pautada pelo entusiasmo generalizado depois de dois anos em que a corrida não se pôde realizar, devido à pandemia.
A energia não faltou, nem a paródia, mas os participantes esforçaram-se por cumprir as regras: dar prioridade de passagem… aos patos e cisnes e utilizar sempre os dois remos em simultâneo. Que se saiba, aves aquáticas atropeladas não houve, mas nada impediu os participantes de darem uma ajuda especial ao “remador-mor” utilizando um terceiro e um quarto remo manuais… para aumentar a propulsão da embarcação, claro, não para atirar água aos outros participantes. E, como não podia deixar de ser, houve também quem chegasse a provar a água do lago, de noite, só que não tendo quem os salvasse, não fossem eles os próprios “bombeiros” de serviço. Mas, como “Bravos (de 86)” que são, deram conta do recado.
Novidades não faltaram à organização, a cargo da Gazeta e do Museu do Hospital e das Caldas e o apoio da Câmara e da União de Freguesias de Caldas – Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório, que decidiu dar resposta a todos os pedidos de inscrição na corrida, ultrapassando o “limite” das 32 equipas. A comunidade estava desejosa de voltar ao convívio e a um evento único no ano e que junta milhares de pessoas…
A maior novidade desta sexta edição da Grande Regata foi a ronda extra para as equipas suplentes, as da organização e dos parceiros, claro está. Tendo lugar pelas 12h00, serviu como eliminatória para apurar as três equipas que passariam à 1ª ronda. “Assim conseguimos abrir mais oito lugares para as equipas da tarde”, explica Dora Mendes, diretora do Museu do Hospital e das Caldas, entidade organizadora do evento, em conjunto com a Gazeta.
A Grande Regata é um evento que pretende dar a conhecer e a experienciar uma panóplia de desportos a par da corrida de barcos, à semelhança do que já acontecia no século XIX e inícios do século XX no Parque D. Carlos I. “A ideia era regressar um bocadinho à época em que tudo isto já acontecia. Havia toda uma panóplia de atividades diferentes para além da regata, e entendemos que também fazia sentido aproveitar este momento para juntar outras atividades”, acrescenta a responsável.
Pelas 17h00 foi quando se aglomeraram mais pessoas em torno do lago, cuja construção remonta a 1891, para assistir às eliminatórias, compostas por quatro rondas com oito equipas a concurso em cada uma. Em cada ronda, o 1º e 2º classificados foram apurados para a grande final. Os “Block” foram os vencedores, com um tempo de prova de cerca de 11 minutos para três voltas, mas venceram apenas por alguns segundos – triunfo confirmado pelo júri, a cargo dos Pimpões -, logo seguidos pela equipa do E.Leclerc, tendo a turma do Museu do Hospital e das Caldas ficado em 3º lugar.
O sabor da vitória não foi novidade para os vencedores, que já o haviam sido em edições anteriores. A equipa foi composta por familiares que trabalham na empresa de animação turística obidense Block Experience. José Miguel Ferreira conta que vieram “numa de participar”, porém, quando o momento da disputa se começou a aproximar, a “adrenalina” e o “espírito de competição” emergiram e depois foi dar o tudo por tudo, sempre com fair play. A prática desportiva regular, nomeadamente de canoagem, foi uma vantagem para possuir a “força de braços” que os ajudou a vencer a 3ª ronda da fase de eliminatórias e a grande final.
O evento, que se realizou de 2010 a 2012 pela mão do Museu do Hospital e da Cidade, e que foi retomado em 2015 por desafio lançado pela Gazeta das Caldas àquela entidade, é ocasião de reunião de vários caldenses e um momento do ano esperado por muitos pelo convívio que se vive. As equipas são compostas por amigos, familiares e colegas de trabalho, contando, geralmente, com os representantes autárquicos, que também apoiam o evento. Este ano, não foi diferente. O presidente da União de Freguesias de Caldas – Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório, Pedro Brás, que foi apurado para a eliminatória das 17 horas, mas não conseguiu garantir o seu lugar na Grande Final, garante que “quem participa na regata, ganha sempre, porque é muito divertido”, motivo pelo qual faz questão de participar anualmente, desta vez com a equipa do executivo da Junta.
Já o presidente da Câmara das Caldas, Vítor Marques, sublinha o lado do convívio e dos reencontros agregado à realização do evento, que “é muito gratificante só por si”, com “pessoas das Caldas que estão a viver fora e que aproveitam este dia para vir visitar a família e fazer parte deste momento”, enquanto participantes na corrida ou apoiando do lado de fora. “Há gente que se encontrava neste dia, é engraçado”, frisou o ex-presidente de Junta, que também encontrou pessoas que vira, pela última vez, na última edição da Grande Regata. O autarca, que participou com a família na corrida, aplaude ainda a organização do evento por, desta forma, valorizar o espaço do parque, dinamizando a cidade e atraindo mais visitantes.
Os alemães Elisa e Matthias Hantke, a residir, há meio ano, na casa dos avós dela, no Bombarral, participaram pela primeira vez na regata, a convite de um familiar residente nas Caldas. O facto de ainda terem algumas dificuldades a falar e compreender o Português revelou-se uma dificuldade para coordenar os esforços entre a equipa “Por um Fio”, mas nem por isso a experiência deixou de ser “muito positiva”, para mais, nunca tendo tido uma semelhante na Alemanha.
Hélder Almeida, vogal executivo do Centro Hospitalar do Oeste, que administra o Museu do Hospital e das Caldas, sublinhou a importância de iniciativas como estas para a promoção do bem-estar físico e mental, porque, como tem observado, “o estado anímico com que as pessoas estão tem uma influência direta na forma como estão na saúde ou na doença, e, portanto, é muito importante, estejam as pessoas em condições de saúde ou não, aderirem a estas situações, a todos estes eventos, porque isto dá-lhes um ânimo muito grande. E é fundamental, ajuda-as a combater as dificuldades, toda esta depressão que se instalou com a pandemia”, destacando ainda a importância do convívio a par da atividade física, duas dimensões presentes no evento.
Este ano, não houve prémios para o melhor traje, mas é algo que a organização não esqueceu e talvez venha a retomar. Porém, mesmo sem prémio, os participantes não abdicaram da criatividade na escolha da indumentária e do nome da equipa, com vikings e muitos marinheiros entre os embarcadiços. Como frisou Fernando Xavier, administrador da Gazeta das Caldas, este foi um dia em que “todos saíram vencedores”. Sobretudo a cidade.