Pegadas de dinossauros de Salir do Porto em exploração

0
162
A apresentação decorreu na passada semana, em Salir do Porto
- publicidade -

No próximo mês de julho arranca a campanha de prospeção da jazida que tem pegadas peculiares

Em Salir do Porto, a sul da duna, há uma laje jurássica que apresenta dezenas de peculiares pegadas de dinossauros, a nível nacional e internacional, dado que demonstram vestígios destes gigantes terem passado a flutuar. Isto porque não mostram a zona posterior do pé, do calcanhar, como é habitual, o que os especialistas explicam com o facto de naquela zona ter existido uma coluna de água com entre meio metro e três metros, o que faria com que os dinossauros, em determinadas zonas, tocassem nas argilas que existiam no fundo apenas com as pontas dos dedos.

“Estas pegadas testemunham o comportamento natatório dos dinossauros carnívoros, a que os cientistas chamam de terópodes”, explicou Inês Marques, geóloga do Geoparque Oeste, que recentemente defendeu a sua tese de mestrado sobre oito jazidas de pegadas da região, entre as quais esta laje de calcário com cerca de 22800 metros quadrados que será explorada, durante o mês de julho, depois de um protocolo assinado pelo município das Caldas, Museu da Lourinhã e Sociedade de História Natural de Torres Vedras. Esta “é singular a nível nacional” e, por isso, “um ícone”, afirmou. Foi durante a assinatura do protocolo que a geóloga esclareceu os trabalhos a realizar nesta campanha, que se iniciam com a limpeza da laje, que “tem uma grande quantidade de sedimento e vegetação que podem ser retirados”, algo que “poderá mostrar novo material paleontológico”. Depois irão fazer “medições e registo fotográfico do material paleontológico, sejam ossos, pegadas ou outro tipo de descobertas” e, se for o caso, fazer a escavação do material para ser levado para estudo. No âmbito do projeto vão ainda procurar “criar medidas para a estabilização da laje, porque há zonas que estão relativamente instáveis” e “fazer um voo com drone a baixa altitude para perceber o que esta campanha colocará a descoberto”. Pretendem ainda fazer um modelo 3D da laje.

- publicidade -

A exploração será feita em três zonas, duas de 7500 metros quadrados cada e uma terceira, de cerca de 3500 metros quadrados. No futuro, a ideia é adotar medidas de conservação e, posteriormente, “criar estruturas de visitação nesta laje e noutras”. É que Inês Marques não tem dúvidas em afirmar que este trabalho “será extremamente importante em termos científicos, turísticos e económicos” e que, embora ainda numa fase muito inicial do projeto, “Caldas tem potencial para ser um dos grandes locais de destaque em termos do estudo e visitação de pegadas de dinossauros em Portugal”. A campanha no local decorre de 7 a 25 de julho e vai ser aberta uma bolsa de voluntariado para a comunidade se poder juntar aos trabalhos, recebendo, para tal, uma formação prévia. O material encontrado, embora seja levado para estudo, ficará na posse do município, entidade que suporta as despesas de deslocação e alimentação dos voluntários, num valor a rondar os 2 mil euros, esclareceu o presidente da Câmara, Vítor Marques, que defendeu que esta campanha “é só um começo, porque o potencial desta área é enorme”.

Bruno Camilo, da Sociedade de História Natural de Torres Vedras, explicou que trabalham no litoral do concelho das Caldas há já 18 anos. “Sentimos que a maior parte das pessoas conhece as pegadas”, mas desconhece que “há outros vestígios”, como ossos. Afirmou que “Caldas da Rainha faz parte da história da paleontologia portuguesa”, dado que “durante cerca de 60 anos ninguém sabia onde era a famosa jazida de Murteiras, enigmática, de onde tinham saído vestígios de dois dinossauros estegossaurídeos, que estão no Museu Geológico e Mineiro”. Esta, “finalmente foi descoberta”, nos trabalhos da sociedade, e localiza-se na freguesia da Foz do Arelho. “A jazida tem ossos, andava perdida e é extremamente importante para perceber a evolução, ou pelo menos, a caracterização deste grupo aqui na região Oeste”.

- publicidade -