
Viver um fim-de-semana na floresta, com o mínimo de influência exterior e utilizando os recursos disponíveis no local de modo a promover uma maior consciência e autonomia humana. Esta a experiência de um grupo de quase 20 pessoas que participou na acção “Habitat – O mundo é a nossa casa”, dinamizada pela designer Inês Milagres entre 16 e 18 de Junho. Esta foi a primeira de várias sessões de formação que o Espaço Ó está a promover com o objectivo de capacitar os munícipes de Óbidos em várias vertentes.

Ao mesmo tempo que os violentos incêndios devastavam o norte do distrito, cerca de duas dezenas de pessoas foram para um terreno florestal perto da localidade de A-dos-Negros e, durante dois dias, estiveram em contacto directo com a natureza. O objectivo foi o de promover a consciência de que é preciso tratar do ambiente e obter ferramentas para uma maior autonomia.
“Para desenvolver bons produtos temos que desenvolver boas consciências”, explica à Gazeta das Caldas, Joana Rodrigues, dinamizadora do Espaço Ó e coordenadora do programa Activa-te, que pretende dotar as pessoas de ferramentas e capacidades para desenvolver ideias e transformá-las em produtos ou negócios.
Depois de um primeiro momento, em que o grupo partilhou experiências pessoais e uma ceia saudável no Espaço Ó, seguiu-se a ida para o campo, na manhã de sábado. Começaram com a preparação do terreno para depois o poderem habitar, dividindo-se em equipas de trabalho. “Uns recolheram canas e troncos, outros prepararam o espaço onde durante os dois dias permanecemos e fizemos as refeições”, exemplificou Joana Rodrigues, destacando que durante todo o processo pretenderam deixar o mínimo de pegada ecológica no local.
O grupo também aprendeu a fazer uma casa de banho seca, com restos de madeiras e materiais que recolheram, e que funciona com uma caixa de compostagem com serradura e não tem cheiros. Fizeram também um pequeno fogão, com tijolos, e utilizando pinhas, confeccionaram arroz, papas de aveia e café. As colheres foram feitas de canas e utilizaram pauzinhos para comer.
Cada um dos elementos levou um saco com um quilo de fruta e um quilo de vegetais, que partilharam para as refeições.
Houve quem acampasse no terreno e outros que foram dormir a casa e regressaram no dia seguinte.
Durante o fim-de-semana fizeram uma caminhada de reconhecimento de plantas comestíveis na zona e recolheram junco e alguns materiais com os quais construíram teares manuais e tecelagem com plantas.
“Percebemos que toda aquela tecelagem pode ser utilizada em aromaterapia pois podem ser introduzidos o tomilho, a alfazema e outras plantas, que têm características terapêuticas”, exemplificou Joana Rodrigues à Gazeta das Caldas.
Esta responsável acrescentou ainda que esta comunhão com a natureza e o recurso dos bens disponíveis permitiu-lhes um “sentimento de autonomia muito grande”.
Sem o controlo do relógio e do telemóvel (que usaram apenas para fazer o registo do evento), sentiram que tinham mais tempo, acrescenta Joana Rodrigues, que considera estas iniciativas muito importantes para consciencializar as pessoas do seu valor e da importância do trabalho colaborativo.
Esta acção abriu um ciclo de sessões, todas gratuitas, relacionadas com diversas temáticas, desde o licenciamento e legalização dos produtos, à promoção, feiras e mercados, numa vertente de comercialização e divulgação. A organização é do município de Óbidos com o patrocínio da EDP Solidária.