
O presidente da Câmara do Bombarral acredita que os vários investimentos em curso vão projetar a vila e considera que o futuro Hospital do Oeste só poderá vir a ser construído no concelho
Reeleito para um segundo mandato à frente da Câmara do Bombarral, o socialista Ricardo Fernandes aponta a dinamização da vila como uma das grandes prioridades do novo executivo. E acredita que, mesmo sem maioria absoluta na Assembleia Municipal, a estabilidade política não está em causa.
Estamos em início de mandato, que obras perspetiva poder concretizar nos próximos quatro anos?
A nossa ação em termos de obras ficou, como é fácil de perceber, condicionada com a pandemia. Os atrasos são evidentes, por causa dos confinamentos, mas também nos impactos que teve nos mecanismos de contratação pública, nomeadamente nos vistos do Tribunal de Contas. Neste momento, estamos a executar a requalificação do Palácio Gorjão, uma obra estruturante, orçada em quase 2 milhões de euros, que nos permitirá criar uma biblioteca infantil de raiz. Esta é a obra em curso de maior monta, mas temos outras.
Quer salientar algumas?
Desde logo, destacaria a obra de requalificação das antigas instalações do Instituto da Vinha e do Vinho, espaço para o qual temos destinados alguns polos, nomeadamente um laboratório da pós-colheita da Pera Rocha, numa feliz parceria entre a Câmara, o Rocha Center e a Ciência Viva. Vamos ali edificar um projeto, que se chama a Quinta da Ciência Viva da Pera Rocha, no Bombarral, que tem como finalidade incentivar a investigação na fileira da pera e da maçã, mas que comporta, igualmente, um espaço de visitação. Queremos, assim, criar uma nova centralidade na vila. A atração de investimento para o concelho é uma das nossas grandes preocupações e também queremos criar um novo parque empresarial, junto à A8. Com esta atração de investimento é possível aumentar a qualidade de vida dos bombarralenses. E dou mais um exemplo nesse sentido, mesmo não sendo uma iniciativa do município: é no Bombarral, numa antiga escola primária, que será instalado o Centro de Interpretação do Geoparque Oeste – Terras do Jurássico. É com estas ações que pretendemos criar uma nova centralidade, para que as pessoas nos visitem. Há milhares de pessoas que se deslocam ao concelho para visitar o Buddha Eden, mas queremos que esses visitantes também tenham outras oportunidades para conhecer o Bombarral.
Uma das dificuldades com que a população do concelho se debate é a habitação, nomeadamente para os jovens. Que propostas tem a autarquia para resolver a questão?
Estamos a implementar várias Áreas de Reabilitação Urbana. Tem havido procura, mas há uma certa dificuldade em comunicar estas medidas. Infelizmente, o concelho não dispõe de qualquer órgão de comunicação social e isso torna a nossa ação mais complexa em termos de comunicação. Vejo isto com muita pena. Mas há que fazer um esforço de comunicação neste mandato, aumentando a regularidade de publicação do Boletim Municipal, que passará a bimensal. Além disso, estamos a implementar a Estratégia Local de Habitação. Foram identificadas mais de meia centena de famílias que vivem em condições pouco dignas e temos em curso um investimento, com apoio do Estado, de 5 milhões de euros, que visam resolver essas situações mais evidentes. Outro projeto que temos em curso é criar condições para haver uma creche no concelho.
Como é que a Câmara se está a preparar no que diz respeito ao PRR e ao 2030?
Neste momento, estamos a dar prioridade à obra da nova Loja do Cidadão, que vai permitir um aumento da qualidade de vida dos cidadãos. Teremos, no mesmo espaço, o Instituto dos Registos e Notariado, que não estava previsto no projeto inicial, além da Segurança Social, a Autoridade Tributária e o Espaço Cidadão. É uma obra diferente daquela que estava inicialmente projetada no mandato anterior. Houve um upgrade importante ao projeto. Os prazos estão a derrapar, porque os custos dos materiais estão a aumentar e os empreiteiros sentem dificuldade. Contudo, teremos de ter o projeto concluído em meados de 2023. A CCDR Centro está atenta a estas questões.
A Câmara do Bombarral também está atenta à questão da localização do novo Hospital do Oeste. É uma das suas grandes prioridades?
Há que fazer um pequeno enquadramento da necessidade deste hospital. Atrevo-me a dizer que o Oeste é a região do país com pior assistência hospitalar. E estamos a falar de cerca de 300 mil pessoas. Reconhecida esta urgência na modificação desta assistência hospitalar e sabendo as circunstâncias em que se encontram os Hospitais das Caldas da Rainha e de Torres Vedras, a forma como o Centro Hospitalar do Oeste interage a uma distância considerável para suprir as necessidades de determinadas especialidades médicas e que continuamos sem uma Unidade de Cuidados Intensivos no Oeste, percebe-se a necessidade de construção de um novo hospital. E isto acontece há muitos anos. Neste momento, está a decorrer um estudo de uma universidade pública para definir as necessidades do próprio hospital em termos de todas as características, mas também da localização. A escolha da localização do hospital não deve nunca assentar em qualquer tipo de situação partidária, regionalismo ou só porque determinada terra já tem um hospital. Temos de ter presente que os hospitais existentes serão reaproveitados, nomeadamente porque precisamos de unidades de cuidados continuados e paliativos. Quem utilizar estes argumentos de regionalismo está a esquecer-se daquilo para que foi eleito e que é servir as pessoas. Basta pegar no mapa para se perceber que é no Bombarral que está a centralidade no Oeste. Estamos equidistantes de Caldas da Rainha e Torres Vedras, estamos próximos dos outros concelhos e temos um terreno de 54 hectares para oferecer para a construção do hospital.
Mas a escolha de um hospital resume-se à localização? Onde vivem as pessoas que trabalham no hospital?
Essa é uma falsa questão. Estamos a falar de uma deslocação de 10 minutos para quem está nas Caldas… Deixemo-nos de regionalismos em causa própria. As pessoas podem perfeitamente continuar a viver onde vivem e a trabalhar no novo hospital. Esse não é um argumento plausível. A nossa excelente localização é uma realidade incontornável e não podemos perder esta oportunidade. A única coisa que me preocupa, neste momento, é que percamos essa oportunidade de aproveitar os recursos que estão à nossa disposição para construir o hospital. Isso seria demolidor para toda a população do Oeste.
E como comenta as démarches que o presidente da Câmara das Caldas da Rainha tem feito, no sentido de reivindicar a construção do hospital no concelho?
O meu colega Vítor Marques tem um conhecimento profundo da realidade, mas considero que este é o momento de nos deixarmos deste tipo de regionalismo. Temos de ir ao âmago da questão.
Mas acha que os caldenses compreenderiam que o Hospital fosse construído fora do concelho?
O que está em causa é resolvermos o problema enquanto Oeste, enquanto região. Se houvesse a possibilidade de haver mais do que um novo hospital, é evidente que um seria construído nas Caldas e outro em Torres Vedras. Isso é incontornável. O problema é que isso não está em cima da mesa. Os caldenses não devem ficar preocupados, porque não vão perder nada. A distância para o Bombarral é curta e os profissionais do hospital continuarão a viver onde vivem. Além disso, terão melhores cuidados de saúde e os hospitais existentes serão remodelados. ■

“Houve um reconhecimento do trabalho desenvolvido”
Chefe do executivo municipal valoriza nova maioria absoluta na Câmara e garante que, na Assembleia Municipal, haverá estabilidade
Há quatro anos, Ricardo Fernandes conseguiu recuperar a Câmara do Bombarral para o PS. Em setembro, foi reeleito, mas baixou votação e perdeu a maioria na Assembleia Municipal. Apesar de tudo, o socialista mostra-se satisfeito com a possibilidade de continuar a liderar os destinos do concelho.
“Tenho muito orgulho que os bombarralenses me tenham renovado a maioria absoluta e é com esse resultado que trabalho. Houve um reconhecimento em relação ao trabalho realizado e é a apostar nessa maioria absoluta que continuaremos a trabalhar”, assevera o socialista, que pretende, igualmente, trabalhar com as restantes forças políticas no decorrer do mandato.
“Tive o cuidado, e era, aliás, a minha obrigação, de ler todos os programas eleitorais. Nesse sentido, estou a trabalhar no orçamento da Câmara para 2022 também alicerçado com as pretensões dos outros partidos. Dentro de todos os programas há propostas que são concêntricas com o nosso programa e outras que não”, explica o chefe do executivo municipal, que lamenta o facto de a eurodeputada Margarida Marques não ter conseguido ser eleita presidente da Assembleia Municipal do Bombarral.
“É um nome que dispensa qualquer tipo de apresentação. É uma figura de representatividade nacional e internacional e, para nós, é uma honra tê-la connosco na Assembleia”, comenta Ricardo Fernandes, que, entre as várias obras que prevê para este mandato, demonstra particular preocupação com a prestação dos cuidados de saúde primários no concelho.
“Há não muito tempo tínhamos praticamente todos os utentes com médico de família e, agora, estamos longe dessa realidade”, lamenta o presidente da Câmara do Bombarral, explicando que um dos principais problemas tem que ver com a dificuldade na contratação dos médicos, “que por norma são jovens e querem retornar às suas terras assim que podem”.
No que diz respeito a outros investimentos, o autarca já conhece o pedido do Sport Clube Escolar Bombarralense de construção de um novo pavilhão na vila, por forma a dar condições da prática das várias modalidades desportivas.
“Fizemos a obra no pavilhão municipal, porque tínhamos de mudar a cobertura, que continha amianto e é um recinto com uma utilização execional. Quanto à necessidade do SCE Bombarralense, o que posso dizer é que estaremos sempre ao lado destas pretensões”, afiança o socialista. ■