
O Museu da Cerâmica encerrou as atividades presenciais no domingo, 15 de março para que sejam iniciadas as atividades de requalificação.
Segundo a diretora, Nicole Costa, os espaços deste museu “já demandavam a nossa atenção há algum tempo” e, para que os visitantes tenham uma experiência adequada e de boa qualidade, optámos, neste momento, pelo fecho temporário do Museu, dada a especificidade das ações que iremos realizar”, disse a diretora à Gazeta das Caldas.
Serão agora realizadas vistorias técnicas para identificação de patologias, elaboração de projeto e intervenção de obra, realizadas por técnicos especializados, os quais delimitarão as áreas a serem intervencionadas e os procedimentos necessários para o efeito.
Também será retirado todo o acervo, em exposição e em reservas, que será transferido para instalações da Câmara, afetas ao Centro de Artes, onde permanecerá até ao final das obras e reabertura do Museu da Cerâmica.
Nicole Costa – que dirige os museus Cerâmica, Malhoa e o da Nazaré – ainda acrescentou que, ao mesmo tempo, está em curso o projeto de digitalização de acervos, no âmbito do PRR, que fará o registo de mais de 500 peças do Museu da Cerâmica em 2D e 3D, “o que fará com que tenhamos parte significativa de nossas coleções com registos de altíssima qualidade, favorecendo a nossa inserção digital”.
A vereadora da Cultura, Conceição Henriques, recordou que o Museu de Cerâmica está previsto que possa ser transferido para o município caldense “mas só depois de feita a requalificação do Palacete e cujo valor ronda os dois milhões de euros”.
Já com o anterior governo houve conversações mas agora com a Museus e Monumentos Portugal (MMP) há uma relação “franca e aberta” que “nos levou à conclusão de era a altura de avançar com a retirada das coleções para iniciar as necessárias ações para a recuperação do edifício principal do museu”. “Creio que serão necessários os mais variados tipos de estudo ao próprio Palacete”, disse a autarca, referindo que, com base neste levantamento, será feito um projeto de reabilitação.
O Palacete data de finais do século XIX e foi mandado construir pelo segundo Visconde de Sacavém.
A Câmara e a MMP estão a tentar identificar fontes de financiamento para esta intervenção. “Uma parte da coleção do museu já pertence à Câmara e as restantes passarão para o município quando for feita a transferência do museu”, comentou a autarca. Deste modo “há todo o interesse em que tudo possa ser acondicionado devidamente”, sublinhou.
O importante espólio do Museu da Cerâmica integra diversas coleções representativas da produção das Caldas, assim como de outros centros cerâmicos do país e do estrangeiro.
As suas valiosas coleções compreendem peças da cerâmica antiga caldense dos séculos XVII e XVIII e também núcleos da produção do século XIX e primeira metade do século XX. São de salientar os trabalhos da barrista Maria dos Cacos, autora de peças utilitárias antropomórficas, e também as obras de Manuel Mafra.
“São milhares de peças logo aquando da transferência terá que ser feita nova inventariação. Será um processo moroso”, disse Conceição Henriques.
Para a autarca é importante que o Museu de Cerâmica se transforme num polo museológico “com segurança e com condições para albergar e para mostrar a coleção”. A vereadora não quis adiantar prazos mas afirmou “que será um trabalho de vários meses”.
A Câmara Municipal assegurará a transferência das peças daquele espaço museológico para as instalações do Centro de Artes que se situa em frente a este espaço museológico.
A autarquia assume a responsabilidade da transferência deste património “que pertence às Caldas” . Os custos relacionados com a salvaguarda das coleções do Museu de Cerâmica “não será um problema”, assegurou a vereadora.
“O único caminho possível”
“É com enorme regozijo que o Grupo dos Amigos do Museu de Cerâmica (GAMC) soube do encerramento para obras de requalificação do Museu”. Palavras de Margarida Araújo, a presidente do GAMC. A deliberação da da Museus e Monumentos de Portugal (que tutela o Museu), em conjunto com o Município das Caldas, “foi o único caminho possível, dado o estado de degradação do edificado, comprometendo a segurança real de funcionários, visitantes e naturalmente do acervo”, informou. Desde a tomada de posse da atual direção do GAMC, em 2023, “esta tem sido a prioridade máxima da nossa ordem de trabalhos”, contou referindo que foi constante a comunicação com responsáveis do museu e com anteriores e atuais governantes. Recordou que o desejo de ampliação do espaço é uma constante desde a formação do Museu em 1983. “Hoje, mais do que nunca, este desejo não pode cair no esquecimento. As coleções aumentaram, o imóvel é pequeno e de traça a preservar”, relembrou.
A dirigente espera ainda que a classificação do Palacete, em 2021, como Imóvel de Interesse Público “não seja apenas um ato legal sem consequências relevantes”. Afirma que o grupo “acompanhará o processo e ajudará no que for possível para que um dia o Palacete volte a abrir as portas, com a dignidade que merece. Sabemos que não será breve, mas é possível e é imperioso!”, rematou.