A inauguração de uma peça em aço corten que simboliza a felicidade da população pela vitória contra o nuclear em Ferrel, em 1976, colocada numa manilha de cimento – que há 49 anos ali foi abandonada e que se destinaria às infraestruturas para a construção da central – foi a forma escolhida pela Junta de Freguesia de Ferrel para assinalar o 49º aniversário.
O memorial ficou instalado a poucos metros do local onde decorriam as obras quando foram travadas, num terreno que posteriormente seria cultivado por Hermínio Silvestre Teodoro, agricultor e autarca da freguesia, que em vida autorizou a instalação do memorial nas suas terras, numa intenção mantida pelos herdeiros após o seu falecimento em 2022.
O presidente da Junta de Freguesia de Ferrel, Pedro Barata, explicou à Gazeta das Caldas que a ideia partiu de uma proposta de Carlos Martins, em Assembleia de Freguesia, há já mais de cinco anos e que contou com a colaboração da Associação Patrimonium e Joaquim Jorge.
“Tínhamos aqui um vestígio que é original e tinha um valor relevante”, faz notar o autarca. Depois foi “só” criar a chapa, com a imagem feita para a comemoração dos 30 anos da luta, que simboliza a população a festejar a vitória.
Da autoria da Junta de Freguesia, o memorial teve um custo aproximado de 1400 euros. Para os baixos custos, nota o autarca, foi relevante o envolvimento dos trabalhadores da Junta. “Conseguimos com menos fazer mais”, afirmou Pedro Barata.
A escolha deste material (aço corten) deve-se ao facto de “enferrujar naturalmente, mas nunca apodrecer e é um material que tem sido utilizado nesse sentido para ter esse carisma mais rústico, mas também para não perder a resistência”.
Simbolicamente foram ainda plantadas duas árvores neste dia, na proximidade do novo memorial. Tratam-se de dois metrosideros, dado que “a experiência tem-nos mostrado que são as espécies que têm resistido melhor aqui na nossa área”, explicou, acrescentando que o objetivo é que “sejam resilientes e sustentáveis, que não precisem de um tratamento personalizado”.

Para o futuro, a autarquia de base está a preparar um roteiro que, por um lado, dará a conhecer o caminho físico feito pela população na luta, mas que o conjugará com a apresentação daquele que foi o caminho legal e burocrático nesta luta anti-nuclear. “É um roteiro de todo o processo, quer do ponto de vista histórico, quer do ponto de vista formal, administrativo e legislativo”, esclareceu. “Queremos que seja implementado na comemoração dos 50 anos”, referiu, notando que, além da obra física, com os monumentos, é preciso criar o roteiro digitalmente. Este projeto está a ser desenvolvido com a Associação Rabeca e Joaquim Jorge, que, em 1976, foi um dos mais ativos intervenientes da luta.
Joaquim Jorge tem ainda a particularidade de, à época, trabalhar nas Caldas, num banco, cujas instalações se situavam próximas da redação da Gazeta das Caldas. Com o diretor do jornal, José Luiz de Almeida Silva, Joaquim Jorge manteve uma relação de proximidade, trazendo as “novas” de Ferrel para serem publicadas num periódico que acompanhou e se colocou ao lado desta luta, promovendo iniciativas e esclarecimentos, com eventos e publicações, entre outras.
Das manilhas que se destinavam à infraestruturação para a central nuclear, recorda-se de muitas acabarem por ser usadas pelas pessoas “para fazer poços para terem água na fazenda”. Quase 50 anos após este acontecimento, que marcou os inícios do movimento ecológico português, Joaquim Jorge considera que o memorial “simboliza bem aquilo que foi a união das pessoas” em torno desta causa, que teria mudado a História de Ferrel, da região e do país.