
Perto de meia centena de agentes culturais reuniram-se no primeiro fórum participativo. A iniciativa, organizada pelo CCC, teve uma primeira reunião que deu a conhecer muitos rostos das iniciativas que se fazem na região
Durante a manhã de sábado, o CCC acolheu o I Fórum Cultural Participativo. A sessão de estreia de “Diálogos e Comunidade” contou com perto de 50 agentes culturais da comunidade artística do concelho caldense.
Em roda, no foyer do CCC, responsáveis por ranchos, coros, bandas filarmónicas e muitas escolas de arte do concelho, escutaram Carla Cardoso (ESAD.CR) com a intervenção “Comunidades que decidem, instituições que escutam”. É uma das mediadoras de iniciativas como o Festival Iminente que surgiu como atividade participativa em bairros considerados problemáticos de Lisboa.
“Há cada vez mais instituições a dizer que estão interessadas em realizar atividades participativas mas são muito poucas as entidades que escutam ou que se deslocam ao terreno”, contou a docente que descreveu como surgiram os eventos. Nos bairros das zonas PER (Programas Especiais de Realojamento) há normalmente grandes garagens que não eram usadas nem alugadas pelos moradores por falta de condições financeiras. Muitas foram ocupadas por jovens dos bairros e algumas até legalizadas. Uma delas é hoje a sede da Quinta Grande, que acabou por trabalhar com o Festival Iminente. Foi o espaço para a realização de workshops comunitários. Os espaços também acolhem artistas que dão workshops aos jovens que vivem nestas zonas. A docente deu a conhecer, pelo nome próprio, quem foram os jovens que criaram canções com artistas conhecidos em 2022. A mediadora cultural, que continua ligada ao Iminente como consultora, ainda deixou o alerta que nos espaços culturais não estão representados todos os públicos.
“É preciso criar novos centros”, disse a docente da ESAD.CR, acrescentando que há vontade entre quem se dedica à cultura urbana e que gostaria de ver o seu trabalho chegar aos principais locais da cultura. Muitos não querem estar apenas num armazém abandonado, querem também chegar aos espaços de arte nacionais.
O anterior ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, teve uma política de abertura e quis conhecer os artistas do Festival Iminente. “É preciso trazer as próprias pessoas a este tipo de diálogos”, rematou a convidada, referindo-se a públicos com menos acesso à cultura como são os jovens desfavorecidos, os idosos e os refugiados.
Rui Matoso (ESAD.CR) dedicou -se ao “Neurodireitos Culturais – O desafio das políticas culturais de juventude na época da alucinação coletiva” enquanto que Irene Cortesão Costa (Universidade do Porto) “Música e Comunidade: práticas sonoras e seus efeitos nas pessoas” apresentou um projeto de música coral comunitária com pessoas mais velhas e que estão institucionalizadas.
Conceição Henriques marcou presença não só como vereadora da Cultura e da Ação Social mas também como presidente da Associação Universidade Sénior. E afirmou que uma das suas preocupações enquanto autarca é a de “ dar acesso a várias atividades de qualidade para os mais velhos”. E também acrescentou que é graças aos imigrantes que “fizeram com que a população crescesse em termos demográficos e que deu esperança às nossas escolas “. A vereadora referiu ainda que são importantes os projetos de inclusão e como tal iniciativas como este fórum onde no futuro poderão nascer novos projetos “são imprescindíveis”.
À Gazeta das Caldas, Carla Cardoso comentou que é preciso “ser super inquietos na procura de públicos que não têm acesso à cultura” e que as Caldas é também “o primeiro laboratório para os gestores culturais que a ESAD.CR forma”.
Já Irene Cortesão Costa considera que este tipo de encontros “são fundamentais” e pede-se às instituições que possam ser os motores do envolvimento de outras pessoas, “Está dado o primeiro passo, para as pessoas se conhecerem. Agora é preciso criar projetos”, rematou.
Na atualidade, “iniciativas como este Fórum, que aposta na interculturalidade e na democracia cultural são cada vez mais relevantes”, disse Rui Matoso, também docente da ESAD.CR.
Para além do acesso à cultura ser um direito consagrado pela Constituição, estes eventos ganham mais destaque “quando há forças ideológicas que querem combater e reduzir ao mínimo esta diversidade cultural”. Para o mediador cultural “é preciso refletir, ampliar o direito à criação artística e às novas formas de representação”.
Na sua intervenção Rui Matoso deixou alguma preocupação com o uso das novas tecnologias e da usurpação do conceito de Liberdade de Expressão e da manipulação dos jovens.
Os agentes culturais caldenses após o debate deram-se a conhecer e mostraram-se disponíveis para futuros projetos que possam integrar várias vertentes artísticas. Todos deram a conhecer um pouco sobre os projetos que desenvolvem e são várias dezenas e dos mais variados campos artísticos aqueles que laboram neste território.
No final, o diretor do CCC, afirmou que se atingiram os objetivos deste primeiro fórum, que era o de colocar os vários agentes do concelho a criar novos projetos seja de criação seja de mediação cultural “e de ir ao encontro dos diferentes públicos – estiveram escolas grupos coletivos”. As iniciativas que possam surgir serão apresentadas na programação do CCC do ano seguinte. No final houve um arroz colaborativo, dinamizado por José João Rodrigues, que coordenou o show cooking. Com a colaboração dos participantes, o empreendedor comunitário da Casa do Sal da Figueira da Foz foi o responsável pela original refeição, cozinhada no espaço de entrada do CCC.