
São pequenos bolos fofos e cremosos, de ovos ou chocolate, servidos em canecas, simples ou com coberturas que vão desde fruta a guloseimas, e fazem as delícias de miúdos e graúdos em feiras e eventos. A caldense Alexandra Rego lançou os Fofos da Rainha na Praça da Fruta como segunda fonte de rendimento e um ano e meio depois o negócio continua em crescimento, tendo-se tornado a actividade principal desta apaixonada por chocolate.
Alexandra Rego, natural das Caldas da Rainha, trabalhava e vivia em Lisboa, onde sempre esteve ligada à hotelaria. A doença da mãe trouxe-a de volta à cidade natal. Como precisava de trabalho, a primeira oportunidade que lhe surgiu foi na Contact, como assistente de call center. Porém, o gosto pela hotelaria, e o chocolate em particular, falavam mais alto. “Passados dois meses de estar no call center comecei a inventar um bolo e achei que se vendia bem”, recorda.
Eram uns bolos fofos, recheados com creme de limão, inspirados por receitas que lhe foram passadas pela mãe e que já vinham da avó.
Começou a vendê-los nos cafés, sem resultado. No entanto, Alexandra Rego mantinha a fé na receita e decidiu ser ela própria a vender os bolos ao público. A escolha recaiu na Praça da Fruta, mercado pelo qual sempre nutriu admiração nas suas visitas às Caldas.
Obteve a licença para instalar uma banca no icónico mercado onde começou por vender aqueles pãezinhos de ló limonados e também uma nova receita dos fofos de chocolate, matéria-prima com a qual sempre sonhou trabalhar. “Percebi que havia ali um potencial enorme, porque cada vez que levava os bolos aquilo esgotava tudo”, recorda.
Como mantinha o primeiro emprego na Contact, esta era uma actividade de fim-de-semana. Saía do emprego às sextas-feiras pelas 22h00, ou mais tarde quando se justificava, e só depois ia fazer os bolos até às 6h00, altura em que seguia para o mercado. “Todos os fins-de-semana fazia pelo menos uma directa”, conta, acrescentando que quando vendia todos os bolos ao sábado tinha que fazer outra directa de sábado para domingo. “Fazia tudo sozinha. Foi muito duro, mas o valor que se dá agora é diferente por ter crescido assim”, realça.
Foi em Novembro do ano passado que os Fofos da Rainha se tornaram a única actividade de Alexandra Rego, que viu que havia um potencial imenso para explorar além da Praça da Fruta, em feiras, festas e eventos. Se aqueles doces tinham tanta saída na Praça da Fruta, onde o público é formado sobretudo por pessoas com mais idade, em eventos com um público mais jovem o potencial era muito maior.
A EXPANSÃO DO NEGÓCIO
A primeira tentativa foi nas Tasquinhas de 2016, nas Caldas. Não resultou, mas desistir não estava mesmo no glossário da doceira, que arregaçou as mangas e tentou novamente na Frutos. “Aí sim, foi o grande passo para direcionar o negócio para os eventos”, considera.
Saiu, então, da Contact e foi à procura de eventos para aumentar o volume de vendas. O primeiro que fez fora das Caldas foi um evento de chocolate em Carnide, que superou largamente as expectativas. “Vendi os bolos todos que levei numa hora e percebi que era aquele o caminho”, recorda.
Alexandre Rego vai a eventos que se realizam de forma frequente, como o LX Factory em Alcântara, onde representa as Caldas no LX Rural, e a outros que se realizam uma vez por ano. As vendas dependem muito da afluência que cada evento tem, mas a agora empresária conta que num dos últimos certames que fez, em Alcântara, vendeu cerca de mil bolos em três dias, que custam a partir dos 3 euros. Num evento de pequena dimensão, pode vender entre 250 a 300 bolos por dia. Na última presença na Frutos, durante os 10 dias vendeu cerca de 1500 bolos.
Por norma são duas pessoas, a própria Alexandra e uma segunda pessoa para a auxiliar. “Como não é uma coisa fixa, procuro apoio perto do local, são pessoas que trabalham e que têm ali um extra”, diz Alexandra Rego.
Este verão foi o primeiro de actividade completa para os Fofos da Rainha, que nos meses de Junho, Julho e Agosto tiveram a agenda completamente preenchida.
Alexandra Rego diz que muita gente lhe pergunta se tem uma loja física, mas isso não está nos seus planos mais próximos. “A experiência diz-me que ou está num sítio onde passe muita gente a toda a hora ou é difícil, porque nos eventos vamos ao encontro das pessoas e numa loja não”, explica. Desta forma, também se cria “uma saudade”, o que leva as pessoas a procurá-la quando está nos eventos.
De resto, a empreendedora ainda vê muito potencial de crescimento neste modelo. “Temos muitos convites para estar em eventos e estamos a fazer um plano para estarmos mais presentes em vários ao mesmo tempo”, refere, sublinhando que já chega a estar em três em simultâneo.
Quando iniciou esta actividade, Alexandra Rego não teve que pôr qualquer verba no seu negócio. Começou por fazer os bolos em casa, com a batedeira normal que tinha e também utilizava o forno de casa.
Com a expansão dos Fofos da Rainha houve necessidade de fazer algum investimento, mas com recurso às verbas que as próprias vendas geravam. Primeiro adquiriu uma batedeira semi-industrial, quando fez a Frutos pela primeira vez teve que adquirir uma segunda, para dar vazão aos pedidos. Também precisou de adquirir um forno próprio para bolos.
Também comprou uma carrinha de street food, que utiliza como stand ou como cozinha móvel, para poder confeccionar no local.
UM DOCE SAUDÁVEL
Desde a primeira vez que reinventou as receitas que herdou da mãe e da avó, Alexandra Rego tem feito um trabalho constante de desenvolvimento de produto, que desembocou na preocupação em oferecer um produto apetecível mas muito menos que os tradicionais doces de feira carregados de açúcar e gordura.
Os Fofos foram premiados na Frutos do ano passado com um segundo lugar, este ano ganhou o primeiro prémio de confeitaria com uma nova receita, os fofos de chocolate com farinha de alfarroba com cobertura de framboesa.
“Quis criar um doce que fosse mais saudável, daí farinha de alfarroba. Não leva nenhuma farinha de trigo, leva pouco açúcar e o chocolate é com 70% de cacau”, refere Alexandra Rego.
A diversidade de coberturas disponível é extensa e vai evoluindo consoante a procura. Às frutas, entra as quais os morangos e as framboesas são as preferidas dos clientes, juntam-se guloseimas, como gomas e drageias de chocolate, e um gelado artesanal que a doceira também criou e que é feito só com leite.