«Espiões em Portugal durante a II guerra mundial» de Irene Flunser Pimentel

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ImageCom o subtítulo de «Como o nosso país se tornou local de passagem de agentes ingleses e alemães», este livro com 479 páginas de texto e 14 páginas de fotografias mais os anexos, as notas, a bibliografia e índice onomástico, começa com uma advertência: «não se espere ver aqui um estudo exaustivo mas apenas uma visão parcelar sobre o tema da espionagem durante a II Guerra Mundial em Portugal».
Este Portugal de 1939/1945 surge como o resultado do que aconteceu desde 1932 quando o Estado Novo foi edificado a partir de cima, ficando sempre o movimento partidário único – União Nacional – na dependência do governo, havendo por isso quem o qualifique de fascismo sem movimento fascista».  A sombra de Salazar domina: «O regime salazarista tolerava os não-políticos mas vigiava os estrangeiros que se opunham ao fascismo e ao nacional-socialismo e que pudessem tornar-se seus potenciais adversários».
Lisboa era uma cidade «onde se cruzavam espiões, refugiados, diplomatas ou dirigentes estrangeiros», uma placa giratória onde conviviam três partidos: «o partido francês para quem a vitória francesa acarretará o triunfo do liberalismo e do radicalismo, o partido inglês que acredita que a sua vitória trará a derrota de Salazar e o fim do regime enquanto o partido germanófilo vê na vitória da Alemanha a garantia da continuidade de Salazar no poder». O  Estado Novo criminalizou a espionagem em 1943 mas em 1944 o desembarque na Normandia aconteceu com o desvio das atenções dos alemães – foram induzidos pelos espiões a pensar que o mesmo ia acontecer no Pas-de-Calais.
Foi um templo de aventuras mais tarde passadas a livro por Ian Fleming (o Casino Royale é o Casino Estoril) ou por Graham Greene e Thomas Muggeridge, além do autor romeno Mircea Eliade sem esquecer que a figura de James Bond nasceu aqui. Mas também tempo de ridículo: «A Fábrica de Licores e Xaropes Victoria foi obrigada a retirar os cartazes com esse nome, por receio de que estivesse a propagandear a vitória dos Aliados.» A luta chegava ao circo: «Weltzien conseguira levar para o seu serviço o palhaço do Coliseu dos Recreios, François, que ficou encarregue de arranjar espiões entre o pessoal de circo». Mas também ao amor, como na teia organizada por John Beevor, pai do historiador Anthony Beevor (The Battle of Spain): «uma agente do MI6 arrastou um oficial da Abwehr para uma armadilha numa praia isolada fora de Lisboa. O alemão foi apanhado e transportado por via aérea para Inglaterra antes de a sua embaixada ter tempo de alertar as autoridades portuguesas».
(Editora: A Esfera dos Livros, Capa: Compañia, Foto capa: Arcangel Images)
José do Carmo Francisco

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