As obras que decorrem na Rua de Camões (em frente ao parque) não ficaram concluídas dentro do último prazo definido por Tinta Ferreira, presidente da Câmara das Caldas. Nem 30 de Março, como foi dito aos comerciantes, nem 15 de Abril, como foi dito à Gazeta das Caldas. Segundo Serafim Lourinho, encarregado da Constradas (uma das empresas do consórcio responsável por esta empreitada), a estimativa é que os trabalhos – que passam pela colocação do fundo de caixa no colector e o calcetamento da estrada com granito azul – decorram durante “mais um mês, talvez um pouco menos”. Desta forma, a empreitada poderá ficar concluída sete meses depois do seu início e bem em cima do feriado municipal, no dia 15 de Maio.
A Rua de Camões é mais um exemplo de uma obra da regeneração urbana caldense que não cumpre os prazos estipulados. Depois dos sucessivos adiamentos no seu início, a 27 de Fevereiro deste ano Tinta Ferreira previa que a empreitada ficasse concluída “em finais de Março, primeira quinzena de Abril”, demorando (se assim fosse) seis meses.
No entanto, as obras continuam a decorrer. “Nas reuniões com o presidente a que assisti, a conclusão foi sempre fixada em 30 de Março”, contou ao nosso jornal Abel Vinagre, proprietário do restaurante O Selim. O mesmo lamentou a “perda de clientes constante” e queixou-se que desde o suposto dia em que se previa o fim das obras ninguém da Câmara o contactou.
Segundo Serafim Lourinho, da Constradas, actualmente trabalha uma média de 20 homens nesta empreitada (incluindo a intervenção na Rainha) que se encontra entre “70 a 80% concluída”.
Contactada a Câmara das Caldas, esta não avançou novas datas, mas esclareceu que o atraso se deve à existência de infra-estruturas e cabos eléctricos não cadastrados e à proximidade das condutas de gás, que obriga a que o trabalho seja manual e não mecânico.
A autarquia diz ainda que em seis meses de trabalho foram substituídas as condutas e ramais de água, as condutas de esgoto e de águas residuais e sumidouros. Foi substituído o colector termal, os passeios foram alargados e o estacionamento redimensionado, tendo ainda sido colocados novos cabos telefónicos e iluminação pública.
As obras na Rua de Camões e na Rainha (onde em 2011 se previa começar a regeneração urbana nas Caldas) têm sido bastante acidentadas. Ora porque a candidatura conjunta com o hospital não foi apresentada (pela parte do CHO), ora pela falência de uma das empresas que compunha o consórcio (Mário Pereira Cartaxo), ora porque se decidiu substituir também o colector residual e não apenas o termal (que levou ao alargamento dos prazos de quatro para seis meses).
No dia de fecho desta edição (14 de Abril), cerca de seis meses depois do início das obras, faltava colocar o fundo da caixa no colector e calcetar a estrada com calçada de granito azul. Estima-se que estes trabalhos se prolonguem durante cerca de mais um mês, ou seja, que terminem a 15 de Maio, bem a tempo do feriado municipal.
Isaque Vicente
ivicente@gazetadascaldas.pt
Comentário
As obras que sempre se atrasam
Não há obra nas Caldas da Rainha que não se atrase. Só as do parque subterrâneo no Largo 25 de Abril demoraram o dobro do tempo previsto e todas as outras vão derrapando nos prazos, com a Câmara a apontar datas para a sua finalização que são sucessivamente incumpridas. Acertar com a data do fim de uma empreitada nas Caldas é pura lotaria.
Com isto sofrem aqueles que se pretendem ser os beneficiados pelas obras públicas – os moradores e os automobilistas. E não se pode dizer que os caldenses não tenham sido pacientes.
Nas sociedades mais desenvolvidas há a preocupação de minimizar os danos às pessoas sempre que se planeiam obras no espaço urbano. Se a zona não é residencial trabalha-se durante a noite para concluir a obra no mínimo espaço possível. E aproveitam-se fins-de-semana e feriados para adiantar os trabalhos.
É claro que isso pode ser mais caro porque os empreiteiros têm de contratar mais pessoal e trabalhar com turnos ou, pelo menos, pagando horas extraordinárias. A Câmara das Caldas, porém, prefere uma abordagem baratinha e mixuruca, ignorando que muitas vezes o barato sai caro. Para isso era necessário trabalhar com empresas sólidas que dessem garantias de cumprimento de prazos e com um quadro de pessoal estável e não empresas de mão-de-obra barata e de trabalhadores contratados a prazo incapazes de cumprir para além de um horário normal.
Ignora-se, assim, que os custos sociais de obras – demoradas e mal planeadas – são superiores aos tostões que se poupam numa adjudicação baseada meramente no preço sem ter em conta a capacidade de o empreiteiro cumprir prazos. Nos Estados Unidos, por exemplo, os construtores que acabam as obras dentro das datas previstas são sempre os preferidos nos concursos.
Infelizmente tal não acontece só na administração pública. As obras da Santa Casa da Misericórdia das Caldas da Rainha arrastam-se há anos com uma parte da Rua Vitorino Fróis ocupada (os peões são obrigados a passar no lado oposto). O próprio provedor já admitiu publicamente as dificuldades que tem tido com o empreiteiro.
Os caldenses têm sido pacientes, mas estão fartos de obras que acabam sempre muito depois do previsto e tecnicamente expectável.
Imagine-se agora a Câmara Municipal a gerir umas eventuais obras de milhões de euros de recuperação dos Pavilhões do Parque ou das áreas de reabilitação urbana! C.C.