Casa Varela tem mais de um século de história e mantém-se na mesma família

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A Casa Varela é uma das mais antigas da cidade. Hoje pertence a uma das netas do fundador, que contou à Gazeta como evoluiu uma loja que procurou atualizar-se, respondendo às necessidades e vendendo para todo o mundo

O edifício foi remodelado e a responsável gostaria de apostar no alojamento local

“Estamos aqui desde 1917, ou até talvez há mais tempo!” acredita Margarida Varela, a responsável da Casa Varela, situada no 73 da Rua Heróis da Grande Guerra, nas Caldas. É essa a data que está no Cartão de Associado, nº 54, do Comércio e Indústria das Caldas e a foto que consta desse cartão é a de um jovem, ainda fardado da I Grande Guerra. ”É o meu avô materno, Aldeberto Fernandes, um beirão natural de Coja, que se estabeleceu nesta loja e que inicialmente era uma mercearia”, conta a comerciante, recordando que a loja atravessou as dificuldades da II Grande Guerra, ajudando refugiados de guerra que nas Caldas encontraram abrigo. “Temos paredes falsas, onde se escondiam bens e talvez também pessoas”, revelou Margarida Varela.

O fundador do estabelecimento comercial, Aldeberto Tavares, avô da atual responsável

“Vivemos a História do séc. XX, olhando-a de dentro para fora da loja… Vimo-la passar e guardamos a memória”, contou a responsável desta loja centenária, acrescentando que a designação Casa Varela só surgiu após partilhas de herdeiros do fundador, no início dos anos de 1970. Até então, era conhecida pela Loja do Sr. Tavares ou pela Loja do Mouco. E isto porque quando alguém pedia um desconto, o fundador fazia que não ouvia…
“Nos primeiros anos era uma mercearia de produtos de qualidade”, disse a herdeira, acrescentando que o avô comprava diretamente o vinho à Companhia Velha no Porto, o azeite da Beira Alta e o café ao Grémio dos Retalhistas do Café.
Chegou a II Grande Guerra, as restrições e a loja guarda, entre a documentação, matrizes das senhas de racionamento para os produtos básicos. “Outros, como o açúcar ou o azeite, escondiam-se no poço e nas paredes falsas que existiam na loja”, contou a responsável, explicando que o avô, a partir de 1950 começou também a vender artigos para a casa e que interessam também aos emigrantes que “não regressavam a França sem comprar formas da Casa Varela para fazer o pastel de nata, nem regressavam ao Canadá sem levar as máquinas de cortar couve para o caldo verde”.

A mãe de Margarida com Natércia, funcionária que trabalha há décadas nesta loja
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Nos anos de 1970 e 1980, habitantes de toda a Estremadura vinham de propósito a esta loja para comprar os enxovais para montar as casas dos noivos. Porque do serviço de louça às utilidades há de tudo nesta loja que está a concorrer às Lojas com História.
Já sob a gestão dos pais de Margarida Varela – que adquiriram a loja e o edifício -, a Casa Varela equipou várias cozinhas do concelho, como as das escolas Raul Proença e Bordalo Pinheiro, da Escola de Sargentos do Exército, do Lar do Montepio e do Centro Social Paroquial. Equiparam também escolas do Bombarral, Nazaré, Alcobaça e restaurantes de Peniche, de São Martinho do Porto e até Lisboa.
A loja, que atravessa gerações, e que chega aos quatro cantos do mundo, tem vários tipos de clientes. Além das gentes da região e de várias localidades, hoje são os estrangeiros que se fixaram no concelho que também ali procuram decorar as casas, explica a responsável, recordando que nesta casa onde, no início, se guardava o dinheiro na gaveta se passou à registadora e, hoje, ao pagamento digital e à presença regular na internet, com o MBWay. Margarida Varela tem como projeto futuro apostar no alojamento local, no mesmo edifício desta loja centenária. ■

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