Carlos Pinto Machado defende que o município de Óbidos deve criar habitação a custos controlados para fixar jovens do concelho, combatendo a tendência de envelhecimento e também a desertificação da vila e dinamizando as aldeias
Candidato à Câmara de Óbidos por uma lista independente com o apoio do MPT e do PDR, Carlos Pinto Machado elege o envelhecimento do concelho como um dos principais problemas, o que o leva a priorizar as medidas para fixar e atrair população jovem.
Porque é que se candidata agora com o apoio de partidos com ideologia e um posicionamento político diferentes?
A minha saída do CDS deve-se ao meu cansaço pela vida partidária e por querer afastar-me, de alguma forma, do controlo dos partidos. Hoje, as pessoas estão cansadas dos partidos e da direita e da esquerda, querem soluções, não querem partidos, e é nesse sentido que aparece esta coligação que apoia o movimento independente “O Nosso Partido é Óbidos”.
Nunca houve tantas candidaturas às eleições autárquicas em Óbidos. Que significado político tem esse dado?
Considero que é positivo que as pessoas queiram participar, mas nós temos que dividir esse assunto em dois lados: de um lado, temos os partidos que querem efetivamente colocar a sua bandeira, ter o seu objetivo partidário conseguido, por outro está a população e os independentes. Nós, não obstante termos uma coligação com o apoio de dois partidos, somos uma coligação de independentes e é nesse sentido que nós fazemos a diferença. Os outros vão pôr a bandeira do partido, nós vamos pôr a bandeira de Óbidos. O princípio da igualdade não existe em Óbidos, há uns que são mais que outros e isso tem de acabar. Se for eleito posso garantir que acaba, porque não pode existir um polvo que controla tudo e que de quatro em quatro anos nomeia um administrador delegado.
É a primeira vez que esta coligação se candidata em Óbidos. O que será um bom resultado?
Quando entramos numa corrida entramos para ganhar e não vou pedir ao eleitorado só para ser eleito. Quero ganhar as eleições porque tenho um projeto para oito anos e certamente que em oito anos farei mais do que foi feito nos últimos 20. Fazendo uma comparação dos últimos 20 anos com o período anterior ao PSD no concelho, elegeria o antigo presidente Pereira Júnior como grande obreiro das principais obras públicas. Não sendo da minha faixa política é alguém que considero um homem de Óbidos e que merece reconhecimento.
Que ideias defende para a dinamização da Lagoa de Óbidos?
Eu considero a Lagoa de Óbidos uma das joias do concelho. É um assunto que tem de ser tratado com pinças, porque é um ecossistema natural que tem que ser preservado, mas temos de ter em conta que existem umas centenas de famílias de mariscadores que lá trabalham e que também contribuem para o equilíbrio. É com alguma preocupação que vejo as dragagens, não porque não sejam necessárias, mas porque deviam ter em conta a sabedoria dos mariscadores. Não tenho nada contra certas práticas desportivas na Lagoa, mas preocupa-me o Kitesurf, pela segurança dos mariscadores. Haverá, certamente, uma maneira de que possa coabitar com os mariscadores, regulando a situação. A Capitania terá a obrigação de o fazer, mas não basta regular é preciso controlar. Também não quero é que kitesurfers prejudiquem a fauna, porque temos aves que nidificam lá e poderão ficar afetadas. Acho que podemos chegar a um meio termo.
É a favor ou contra os empreendimentos de luxo nas margens da Lagoa?
Houve atentados ambientais, nomeadamente com o derrube de dunas, que é um crime ambiental, mas vivemos num país em que parece que isto não não faz mal. Em relação aos empreendimentos imobiliários, temos de ter um enquadramento jurídico para a preservação daquele ecossistema ambiental que vai pôr travão à especulação imobiliária. Temos muitos empreendimentos no concelho que já foram aprovados noutras alturas e que não estão completamente ocupados, portanto não faz sentido que continuem a aparecer. O foco é construir habitação a custos controlados para os jovens. As inúmeras casas que o município de Óbidos colecionou na vila devem também ser disponibilizadas para arrendamento jovem, para primeira habitação, não para negócios.
Considera que a eletrificação da Linha do Oeste a poderá tornar competitiva com a rodovia?
A eletrificação da Linha do Oeste é, sem dúvida, uma mais-valia que vai favorecer muito Óbidos, mas tem de haver uma ligação rodoviária à estação e esta não pode ser abandonada, como tem sido por este executivo. O município não manda na CP, mas tem meios de interceder junto do governo para que as coisas corram de uma forma diferente, porque de alguma forma é co-responsável pelo que se passa.
O que defende para a vertente agrícola do concelho?
A nível agrícola temos um concelho onde convivem duas realidades diferentes. Temos uma agricultura de excelência, cuja maior parte da produção sai do concelho e abastece Lisboa e outros pontos do país, temos um setor frutícola também muito pujante, que contribui muito para as exportações porque temos fruta de grande qualidade, mas também temos o pequeno agricultor, da agricultura de subsistência, as famílias mais carenciadas, que têm um quadradinho de terra e daí tiram sustento para complementar a parca reforma. Temos de ter uma agricultura que seja amiga do ambiente e que também possa continuar a ter pujança. No governo de Passos Coelho, em que Assunção Cristas foi ministra da Agricultura, desbloqueou-se o processo da Barragem do Arnóia e foi importante para o desenvolvimento agrícola do concelho. Tenho uma preocupação em particular com a Usseira, ao nível do abastecimento de água para a rega das explorações. Tem de se criar uma solução viável do ponto de vista de investimento, porque será um investimento grande, mas extremamente proveitoso para quem beneficiar dessa água que tem tanto direito como nas outras partes do concelho. E considero importante melhorar o centro de gestão agrícola.
Como é que se pode tirar partido total da Barragem do Arnóia?
Além de beneficiar uma vasta área da rega, acho que a barragem poderia ter uma utilização turística. A zona envolvente é muito bonita.
Que soluções para a desertificação no interior da vila?
Se for presidente de Câmara, o primeiro passo é libertar as casas que são do município e colocá-las em alojamento para jovens, que têm que ficar no concelho que está a envelhecer. Depois, há casas que estão abandonadas e precisam de ser requalificadas, algumas estão afetas ao turismo e bem, mas outras poderão ser utilizadas para habitação. A gestão dos lixos é mal feita – não por culpa da empresa que faz a recolha, mas de quem decide, ou seja, o município. Vemos o lixo da restauração colocado nos cantos das ruas em montes de sacos. Isto é atentar contra o ambiente e esta Câmara atenta contra o ambiente. As provas estão aí, não é estar a dizer mal, as evidências estão à vista toda a gente e o concelho sabe perfeitamente o que é que se passa.
O Parque Tecnológico tem cumprido a sua função?
Considero uma grande ideia, mas mal trabalhada. Não basta cercar um terreno, legalizá-lo como Parque Tecnológico, dividir lotes e construir uma infraestrutura de apoio. É tratado como um produto imobiliário para fazer uma mais-valia na venda dos terrenos. Entendo que a venda dos lotes deve ter um valor simbólico e exigir contrapartida a nível de empregabilidade. Se não cumprirem o processo reverte a favor do município. ■
“Contratava um médico municipal para Óbidos”
Ao nível da saúde Carlos Pinto Machado continua a defender a contratação de um médico municipal
Na entrevista à Gazeta e à 91FM, Carlos Pinto Machado defende a criação da figura do médico municipal como forma de combater os problemas que o concelho tem na área da saúde. O candidato considera que Óbidos “não precisa de um chefe de gabinete, que tira o casaco ao presidente e o pendura no cabide”, pelo que dispensaria essa figura para contratar um médico municipal, “que possa percorrer as aldeias e fazer a ponte com o SNS”. Ainda na questão da saúde, defende um novo hospital. Reconhece que “era bom que ficasse em Óbidos”, até porque isso iria fixar nova população e ajudar a desenvolver o concelho, mas adianta que a localização “não é o mais importante”.
Nas prioridades está também a infraestruturação da vila, nomeadamente a renovação do sistema de abastecimento de água, “que parece que não há coragem política para fazer”. Além deste problema, considera fundamental tirar de dentro da vila os serviços públicos, como finanças, conservatória e GNR, além de criar condições para mitigar o risco de incêndio. Na área do turismo, defende que os eventos – que foram “uma boa ideia”, mas que “não se souberam reinventar” -, devem alargar-se a todo o concelho. Por outro lado, realça a importância de atrair turismo que permaneça no concelho por mais do que um dia. O candidato defende a existência da empresa municipal, mas entende que “é pouco” esta organizar apenas os grandes eventos, pelo que, se ganhar, vai alargar o seu âmbito.
Em termos culturais, considera que “o Folio foi uma grande ideia”, mas defende que deve ser o município a organizá-lo e não terceiros que beneficiam “dos apoios do Fundo do Turismo para a organização e tem uma agenda que em nada beneficia o evento nem o concelho”.
O próximo entrevistado deste ciclo é Fernando Tinta Ferreira, candidato do PSD à Câmara das Caldas da Rainha. ■