Novo livro aborda proliferação da cultura do arroz, a partir de meados do século XIX, e as suas consequências
A legislação liberal de 1834, que determinou a passagem à Fazenda Nacional, e posterior venda, dos bens da coroa e de outras instituições, refletiu-se bastante no concelho de Óbidos, nomeadamente nas suas várzeas que pertenciam à Casa das Rainhas. É sobre os acontecimentos consequentes desta legislação que fala a nova obra de Mário Tavares, intitulada “Cultura Orizícola e Conflitos Sociais nos concelhos das Caldas da Rainha e Óbidos, no terceiro quartel do século XIX, apresentado a 30 de julho, no Museu do Ciclismo.
De acordo com o autor, as terras que eram de amanho popular foram vendidas a um comerciante de Lisboa, de nome Faustino da Gama, que tomou conta de toda a Várzea da Rainha e também da Quinta do Talvai, que antes era pertença do Hospital Real das Caldas.
“Os lavradores sentiram-se prejudicados porque passaram a ter de pagar ao proprietário Faustino da Gama e, a partir daí, gera-se uma animosidade contra a família”, explicou Mário Tavares, acrescentando que esse conflito, que viria a manter-se durante dezenas de anos, intensifica-se quando este decide apostar na cultura do arroz.
A esta cultura foram associadas as doenças das “febres paludosas” ou das “intermitentes”, que prejudicavam as populações vizinhas de Óbidos e da estância termal das Caldas.
O conflito sobe ao Parlamento com o lavrador e deputado nas Cortes, Faustino Gama, a defender a cultura do arroz e outro parlamentar, Paulo Romeiro de Fonseca, morgado de Valverde (nos Vidais) a defender as populações. O governo viria a criar restrições à cultura do arroz e, aliado à melhoria tecnológica e conhecimento científico, o problema viria a ser resolvido.
Nesta obra, Mário Tavares inclui também algumas curiosidades como o facto de em 1858 haver uma referência, na reunião da Junta Geral do Distrito de Leiria, que os “lugares do Nadadouro e Ribeira das Caldas pertencessem à freguesia de S. Pedro” ou que, nos anos seguintes, surja na Câmara, um requerimento de “alguns moradores e pescadores do lugar da Lagoa do Arelho”. O autor conclui, empiricamente, que só a partir do século XIX, com a integração da freguesia da Serra do Bouro no concelho das Caldas, a Lagoa deixa de chamar-se do Arelho e passa a designar-se de Óbidos. ■