Ministro da Agricultura encerrou a conferência e prometeu mais fundos aos agricultores além dos da Política Agrícola Comum
Óbidos acolheu a 26 e 27 de junho para o Intepera, o maior evento internacional dedicado aos produtores deste fruto. O evento reuniu especialistas países como Portugal, Espanha, França, Bélgica, Alemanha, Países Baixos, Itália, Suíça, Argentina e Estados Unidos e nele foram discutidas questões comuns, não só ao nível da produção, onde as patologias e as alterações climáticas são ameaças, mas também ao nível da afirmação do fruto no mercado. Foram ainda apresentadas previsões para as colheitas deste ano, sendo de destacar mais um ano difícil em quantidade para os produtores nacionais, que na melhor das hipóteses vão ficar 35% abaixo do potencial.
Começando precisamente pela produção de pera nos diversos países, Manel Simon, diretor geral da espanhola Afrucat apresentou a evolução, desde a viragem do milénio, nos principais produtores de pera na Europa, de onde se destaca grande quebras na produção de Itália (das 900 mil toneladas para cerca de 400 mil) e de Espanha (de 650 mil toneladas para 300 mil toneladas), ao passo que Bélgica e Países Baixos aumentaram o seu potencial combinado de 200 mil toneladas para 400 mil. O potencial de produção da Europa atinge atualmente cerca de 1,7 milhões de toneladas e estes quatro países são os que mais contribuem, cabendo a Portugal uma quota que ronda os 8%.
As últimas campanhas tiveram resultados diferentes nas diversas geografias da Europa. A norte, Bélgica e Países Baixos tiveram anos muito positivos, em França o potencial foi atingido, mas em Portugal, Espanha e Itália as campanhas foram marcadas por fenómenos climáticos adversos.
Em comum, as diversas associações de produtores apontaram os bons calibres, exceto em Espanha, afetada pela seca extrema e calor intenso, e preços em alta que permitem cobrir os custos e a quebra de produção.
Para as colheitas deste ano, os prognósticos foram ainda reservados. Mas em Portugal a campanha não será muito melhor do que a de 2023. Este ano, se tudo correr de forma normal até à colheita, prevista para a primeira quinzena de agosto, estima-se chegar perto das 125 mil toneladas, ainda assim 35% abaixo da capacidade dos pomares. Nos restantes países, Bélgica e Espanha esperam quebras de produção fortes, mas França deverá crescer de forma substancial.
Da produção para o consumo, Ursula Schockemöle destacou que há uma queda de consumo de pera na Europa, na ordem dos 20%, que contrasta com a ascensão de outras frutas, como as bagas e especialmente o abacate. Mas a especialista sublinhou também que a Pera Rocha está a crescer 13% no Reino Unido. A necessidade de promover o consumo pode passar pela educação para os benefícios do fruto.
O primeiro dia da Interpera foi ocupado com visitas de campo a pomares e centrais fruteiras, onde os especialistas e produtores partilharam experiências, e houve ainda a visita ao Instituto Nacional de Investigação Agrária (INIAV) e uma apresentação do Centro Tecnológico Operativo Hortofrutícola Nacional (COHTN). Nesta visita, foi assinado um protocolo de colaboração entre o INIAV e a Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha do Oeste (ANP) relativo a pesquisa genética que visa melhorar as condições de saúde das pereiras. “É um projeto interessante, um estudo que houve de clones e nós queremos que seja maximizado para o melhoramento da Pera Rocha”, disse Filipe Ribeiro, presidente da ANP. Esse trabalho passa pela certificação de material vegetal “que já está identificado e que já temos algumas garantias que pode minimizar os problemas” das plantas, acrescentou.
Filipe Ribeiro fez um balanço positivo do evento, que, com cerca de 200 congressistas, “foi o mais participado de sempre”.
O Interpera foi encerrado pelo ministro da Agricultura e das Pescas, José Manuel Fernandes, que saudou a união entre as associações de produtores europeias. O governante realçou que a agricultura hoje “não é só números, é também gastronomia, investigação, indústria, é autonomia e estratégia” e manifestou satisfação por ver um público jovem na audiência.
Se a agricultura apresenta aos produtores desafios diversos, José Manuel Fernandes prometeu apoio governamental, sobretudo ao nível dos apoios, para que a atividade cresça e possa combater o défice alimentar que hoje se situa na ordem dos 3 mil milhões de euros. “Não pode ser só a Política Agrícola Comum a financiar a agricultura, queremos juntar fundos e ter outros instrumentos financeiros para financiar o que a PAC não permite”, disse o governante, adiantando que em setembro será lançado um apoio para aquisição de terrenos com juro zero nos primeiros cinco anos.■
Um mini aliado para combater o fogo bacteriano
Consórcio liderado pela Universidade do Minho está a desenvolver bactericida biológico
O fogo bacteriano é um dos grandes problemas nos pomares de pereira e macieira. A patologia é atualmente tão aguda que pode dizimar pomares inteiros, uma vez que não existem tratamentos efetivos. Mas há um projeto promissor em desenvolvimento que pretende utilizar pequenos aliados, os bacteriófagos (ou simplesmente fagos), para neutralizar esta doença que ameaça a produção de pera.
O Biofago é um projeto liderado pela Universidade do Minho e financiado pelo PRR e propõe-se a encontrar um tratamento eficaz contra o fogo bacteriano.
Atualmente existem em Portugal alguns tratamentos aprovados, à base de reguladores e fungicidas, mas que não atuam diretamente na bactéria Erwinia Amylovora. O que o projeto Biofago se propõe é criar uma nova gama de antibacterianos de origem biológica, através destes bacteriófagos.
Os fagos são seres acelulares que se enquadra no grupo dos vírus. É um parasita intracelular sem metabolismo próprio que infeta e destrói apenas bactérias. “São como mini soldados com uma só missão, matar bactérias. São abundantes, são seguros, já os usamos em terapias humanas, são biológicos, são ativos e são específicas para o patogénico”, disse Hugo Oliveira, investigador da Universidade do Minho que apresentou o projeto na Interpera.
O projeto está ainda em fase de testes laboratoriais, mas apresenta já resultados promissores, tendo sido, em ambiente controlado, capaz de neutralizar a ação da Erwinia Amylovora em amostras de pera rocha.
“Os resultados são prometedores, mas ainda não estamos satisfeitos, ainda estamos na curva de aprendizagem deste tratamento”, disse, acrescentando que “temos que testar se o fago é estável”.
Algumas das dificuldades encontradas nesta fase é a sobrevivência dos fagos na árvore. “Encontramo-los sobretudo no solo, mas não nas árvores, é possível que não se deem com o vento e com os raios UV”, apontou Hugo Oliveira, acrescentando que a equipa de investigação está a trabalhar para aumentar a resistência a esses fatores.
Pelo lado positivo, o cientista disse que a Erwinia Amylovora não tem diversidade ao nível das estirpes, pelo que um tratamento que seja eficaz contra uma, será também contra as restantes. Outra vantagem é que existe uma diversidade grande de fagos capazes de atacar a bactéria, pelo que um produto final poderá conter um cocktail de fagos, de modo a combater a resistência.
Hugo Oliveira adiantou ainda que, se a atual fase de testes correr segundo a programação, no próximo ano poderão começar os testes de campo em parceria com o INIAV. ■