Começam por preparar as castanhas, cortando-lhes a casca e a pele, sem danificar o miolo, temperam-nas com sal e, assim que o carvão está em brasa, colocam o fruto em fogareiros de barro. São cinquenta assadores para 250 quilos de castanhas.
É assim que se fazia antigamente e é assim que os ranchos folclóricos participantes no magusto da Praça da Fruta recriam a tradição. Vêm da Fanadia, Louriçal, Redinha e Figueiró dos Vinhos. Crianças e adultos, vestidos à camponês ou à domingueiro, empenham-se em deixar as castanhas deliciosas, ao mesmo tempo que tentam afastar o fumo com os abanos de verga.
Em 15 minutos as castanhas já estão bem assadas e são distribuídas quentinhas em cartuchos de jornal por todos aqueles que apreciam a iguaria. São centenas de pessoas que se juntam à volta dos assadores de barro, não só pelas castanhas, mas por toda a animação envolvente. Desde os cantares e danças dos ranchos folclóricos, às pinturas alusivas a S. Martinho, às tendas com tremoços, frutos secos e água pé, às bicicletas etnográficas e aos produtos do Mercado Cria. Este mercado, promovido pela Câmara Municipal, juntou-se pelo segundo ano à iniciativa com artesanato, cerveja artesanal, licor de ginja e doçaria.
Um dos momentos altos da tarde é o pão com chouriço de 18 metros, confeccionado pela Padaria Morgado, que foi distribuído às cerca de 350 pessoas que ajudaram à realização do evento.
Para Mário Lino, director do Museu do Ciclismo, “a festa de S. Martinho é tão popular como as comemorações do S. António, S. Pedro e S. João”, justificando assim por que decidiu organizar o Magusto na Praça da Fruta, à semelhança do ano passado.
“Tal como o S. Martinho partilhou metade do seu capote com o mendigo, nós quisemos partilhar castanhas com a população”, realçou, acrescentando que as castanhas assadas na Praça vieram de Figueiró dos Vinhos, numa homenagem a José Malhoa. É que o pintor tinha a sua casa muito próxima de terrenos com castanheiros, “que certamente o inspiraram a pintar vários quadros”.
Só mesmo a chuva atrapalhou o magusto de sábado à tarde, levando a que algumas pessoas fossem mais cedo para casa, ao contrário do ano passado em que a festa se prolongou até às dez da noite com muita gente na Praça.
EXPOSIÇÃO SOBRE CASTANHAS
Inserida nesta iniciativa esteve também a inauguração da exposição “Artes & Castanhas”, no Museu do Ciclismo, que reúne diversas peças e fotografias da colecção de Mário Lino relacionadas com a temática das castanhas. Nesta mostra é possível acompanhar o percurso deste fruto (da árvore à apanha), ver exemplares de assadores e outros objectos ligados à castanha, assim como ilustrações e cartazes de vários pontos do país sobre as comemorações de S. Martinho.
Há ainda recortes de jornais com notícias que dão conta da dificuldade em arranjar mão de obra para a apanha da castanha em Portugal e outros que dão a conhecer curiosidades sobre este fruto. Sabia, por exemplo, que na hora de comprar castanhas deve optar pelas mais pesadas, com casca brilhante, firme, castanha-avermelhada e com riscas mais escuras? Ou que Portugal tem cerca de 30.500 hectares ocupados com castanheiros, sendo responsável por 3% da produção mundial de castanhas?
Esta exposição faz também a ligação entre a castanha e a bicicleta, uma vez que antigamente este meio de transporte era utilizado para a apanha dos ouriços. Curiosamente, a mostra inclui uma nova bicicleta do museu, doada pelo antigo ciclista António Adegas, que chegou a pedalar pelo Benfica e a alcançar o 4º lugar na prova Porto-Lisboa (1958).
No âmbito da inauguração da exposição, Mário Lino foi homenageado com uma salva de prata por um grupo de antigos corredores.
No Museu da Cerâmica
Dezenas de pessoas celebraram a 11 de Novembro o dia de S. Martinho no Museu do Cerâmica. Organizado pelo Grupo dos Amigos do Museu de Cerâmica, o evento contou com actuação do Grupo Coral e Musical da Casa de Pessoal do Hospital de Caldas.